domingo, 21 de março de 2010

CONFESSO QUE ENTENDO...


A PROPÓSITO do texto saído no “Expresso” de ontem e escrito por Miguel Sousa Tavares, em que o título e o conteúdo se baseiam no tema “Confesso que não entendo”, surgiu-me o desejo de contrariar a tese defendida, afirmando claramente que eu tenho que confessar que sim, que entendo. Vamos a ver se esta questão será merecedora de polémica.
Vou-me referir somente aos temas que, em meu entender, são os que valem a pena ser apontados, pela sua importância de teor nacional e atendendo ao momento crítico e bastante alargado no tempo que todos nós, os portugueses para referirmos apenas o nosso caso, temos de suportar.
Que a comunicação social dos dias de hoje se encontra quase toda ela nas mãos de empresários e são os interesses económicos que dominam as tendências das informações que saem a lume, como não fosse isso que se esperaria desde há uns anos a esta data, não podendo ser de outra forma, pois que tudo no mundo que nos rodeia, desde que tenha verdadeira importância é dominada pelo poder financeiro e até o político, por muito que queiram os profissionais desse sector dar mostra de outra coisa, o certo é que, sem o poder do dinheiro, nos nossos dias, não se verifica poder de qualquer outra espécie, incluindo, está bem de ver, o político.
O Congresso do PSD, que teve lugar há dias e cujo resultado final ainda está por apurar, esse não terá qualquer resultado prático se as influências financeiras não pesarem fortemente no agrupamento que passar a ter nas suas mãos o comando das operações do actual maior partido nacional da Oposição. Logo, a escolha do próximo Presidente, seja a quem for que venha a calhar como resultado das votações no dia 26, ficará, seguramente, a ser observada em minúcia pelo poder do dinheiro, sabendo-se, como se sabe, que os sociais-democratas dependem em grande percentagem daquilo que o empresariado de peso se propuser ajudar. Podem os próprios parecer que se ofendem e que não á nada disso que ocorrerá, mas, lá bem no fundo, quem, nesta carência de meios que se vive, dirá que não a um forte apoio monetário que lhe seja oferecido?
No capítulo da chamada “escandaleira” do negócio do terminal de contentores de Alcântara, com a dita indemnização que o Estado terá provavelmente de pagar à Liscont, se o contrato for anulado ou, na alternativa, até os gastos que ali se terão de fazer por conta do erário público, isso que também está intimamente ligado a interesses de empresas que se encontram apoiadas pelos milhões de euros de que podem dispor, pois o capital espreita, sorrateiramente, a conclusão de uma situação que se vai arrastando e de que os principais interessados mantêm debaixo de olho.
E ficando agora por aqui, basta-me aludir também às contas astronómicas que escritórios privados de advogados apresentam às várias dependências do Governo que utilizam os seus serviços (quando existem milhares advogados que são funcionários públicos e que não são utilizados para actuar, apenas com o custo dos seus ordenados, ao serviço do sector oficial), o que prova também que o dinheiro é que comanda a escolha de quem deseja que se ocupe de causas, e nem é necessário aludir a múltiplos exemplos que vão sendo dados a conhecer, como, para referir mais um, aquele de ter sido um arquitecto americano afamado, que recebeu milhões de euros por ter feito o projecto do “novo” Parque Mayer, o mesmo que, por sinal, ficou na gaveta, mas o erário público esse bem sofreu com tal pagamento.
Pois repito: eu confesso que entendo tudo. É só o ser humano que, como aqui o tenho largamento acusado, anda sempre a “cheirar” o odor das notas, tenham elas a origem que tiverem, que põe de parte o bom senso, o interesse comunitário, a razoabilidade e se preocupa, acima de tudo, com o seu próprio bem ou, em alternativa, com a defesa dos ganhos do seu grupo.
Sempre foi assim, desde que o ser humano existe. Só que, com o andar dos tempos e com o avanço das modernidades e das tecnologias, a especialidade em explorar os outros, essa reveste-se agora de requintes, de esconderijos, de parece que não é, mas é…
Entende-se ou não se entende?

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