domingo, 21 de fevereiro de 2010

EM QUEDA LIVRE. QUEM NOS SEGURA?


TEM LEVADO o seu tempo, porque não gosto de tomar posições definitivas sem, conscientemente, analisar, sob todos os ângulos, as pessoas ou os factos que podem levar-me a prosseguir na opinião que mantenho ou a escolher outra alternativa. É o que se passa em relação ao primeiro-ministro que se encontra, já na sua segunda experiência naquele lugar. Quis espreitar, por todos os lados, aquilo que constitui a forma de ser do homem e acompanhar tal análise do modo como ele tem desempenhado as funções que, particularmente nesta altura, não suportam mais erros de extrema gravidade e, a par disso, têm de pôr fora de cena quaisquer demonstrações ridículas de vaidade, como aquelas que têm sido fartamente demonstradas pelo actor principal, de nome José Sócrates. Os textos que tenho deixado neste meu blogue diário têm sido bem explícitos em relação ao que acabo de afirmar. E o grave também tem sido o facto do elenco governativo escolhido pelo seu responsável principal, na generalidade dos seus actores, não tem contribuído para tentar provocar alterações substanciais no caminho que tem sido seguido.
Este blogue vai ser extenso, já o prevejo, mas estamos na altura em que nós, portugueses, se temos algum sentido de responsabilidade na parte que nos cabe, não podemos eximirmo-nos de dizer, com toda a responsabilidade, aquilo que julgamos ser um contributo, por pequeno que seja, para ajudar Portugal. Assumo, pois, a minha opinião e sujeito-me a que haja quem não esteja de acordo e prefira que larguemos balões em vez de dizer aquilo que consideramos verdades duras.
É altura, pois, de não rodear o tema e falar claro: José Sócrates, realmente, não é um governante que vá deixar saudades e que fique na História como alguém que tenha evitado que o nosso País se envolvesse progressivamente numa teia de problemas, incluindo as dívidas que todos os dias aumentam em muito milhões de euros, que, apesar da crise que seria complicada resolver para qualquer responsável, mesmo assim havia formas de, com bom senso, humildade e sabedoria, ter limitado a queda que nos conduziu ao estado deplorável em que nos encontramos. E não foi nada disso que aconteceu ao longo deste período duplo de governação.
Aqui deixo, pois, bem clara a minha opinião: José Sócrates é o grande culpado histórico da posição ultra-deficitária em que nos encontramos. Seria da maior utilidade que fosse viável substituir o actual chefe do Governo por outro político, não valendo agora a pena apontar qual a figura que melhor poderia desempenhar essas funções. Mas o problema não é só esse. A questão que se põe é a de analisar, com a maior clareza possível, a generalidade da situação de Portugal, em todas as suas vertentes mais importantes, para poder decidir se, nesta altura e face também aos compromissos políticos que nos rodeiam, seria aconselhável provocar uma luta de forças partidárias para se decidir qual a que conseguiria obter uma posição maioritária.
Em conclusão, portanto, e segundo a minha opinião: em circunstâncias diferentes, o ideal seria que José Sócrates fosse afastado, de imediato, da condução do Governo em Portugal, só que as condições, tais como as que defrontamos nesta altura, desaconselham que, fosse qual fosse o método seguido, tivéssemos de presenciar o que constituiria um abanão ainda maior na nossa imagem no ambiente internacional e não ajudaria a criar reforço da credibilidade económica e financeira junto dos parceiros que, mesmo assim, ainda vão concedendo algum crédito, cada vez menor e com juros que vão aumentando de forma já insuportável, às nossas necessidades.
Os múltiplos erros praticados pelo conjunto chefiado por Sócrates, especialmente no capítulo da redução drástica das despesas públicas, tendo a humildade de terminar com as auto-estradas, o aeroporto e todos os dispêndios que podem bem esperar, anos que sejam, por uma altura apropriada com as nossas posses, tudo isso é mais do que suficiente para fazer com que a cotação do primeiro-ministro se encontre nas chamadas ruas da amargura. E o não aceitar que os técnicos da imagem modifiquem o seu parecer, arrogante e ultra-sabedor de tudo, lhe alterem o palavreado, o tornem mais credível naquilo que afirma, todo esse conjunto torna-o sucessivamente menos aceite pela opinião pública. E só não acredita nisto quem não anda pelas ruas e ouve o que dizem os cidadãos comuns.
E nem vale a pena referir aqui a lista enorme de situações que, mesmo do caso das escutas não ter saído (ainda) nada de esclarecedor com provas, em parte porque existem, de facto, alguns sectores que muita preocupação mostram em proteger a figura em causa (provavelmente também para se irem protegendo a si mesmos), até sem os esclarecimentos que deveriam partir, em primeiro lugar, do próprio atacado, já não existem formas de libertar José Sócrates da montanha de dúvidas, em parte, e de certezas por outros lados, que o libertem de, até ao fim da sua carreira, carregar a imagem de “personna non grata” para um número muito elevado de portugueses. Justo ou injusto, o que interessa é que não vale a pena encobrir este facto com desculpas que não “colam” na opinião dos cidadãos lusitanos. O que custa também a entender, por muito que os regulamentos judiciais ponham obstáculos à decisão, é que não tenha surgido ainda um elemento da magistratura que, enfrentando o problema com a maior valentia, resolva retirar todas as dúvidas e dê mostra pública do que as tais escutas, enquanto não forem conhecidos os seus conteúdos, se justificam ou não, para que terminem de vez as explorações jornalísticas que, fazendo o seu papel, usufruem dos segredos que se teimam em manter. É que o que está em causa, acima de tudo, é a acalmia da turbulência pública, sobretudo quando o alvo é a primeira figura do Governo. Inaceitável!
Face a isto, o que os naturais do nosso País têm de suportar é a manutenção no lugar de um político não desejado por um elevado número de cidadãos e aguardar pelas circunstâncias favoráveis para que se efectue a mudança democrática sem levantar problemas graves no sistema que mantemos e dentro do calendário apropriado. Enquanto Sócrates se conservar naquele lugar as quezílias políticas não têm fim… e o resto são só paninhos quentes.
De facto, o PSD não se encontra ainda com a casa arrumada, de modo a que esteja em condições de lutar por uma posição maioritária no Parlamento; de igual modo, é forçoso que, no interior do próprio PS, estejam devidamente esclarecidas as tendências e que, com coragem, as inclinações dos seus membros venham a lume, sabendo-se, como se sabe, que já se notam movimentos que não desejam estar enfileirados no socratismo.
Cavaco Silva, tendo em conta as datas que lhe dão possibilidade de actuar dentro dos seus poderes para derrubar o Governo, terá a precaução de não se arriscar a tomar essa atitude antes de terem lugar as eleições para o mandato que se segue em Belém.
Todos os restantes partidos, com assento na Assembleia, não possuindo número suficiente de cadeiras que lhes permita a aspiração de assumir o topo de um Executivo, esses estarão sempre dependentes de acordos, junções, subalternidades. Não resolvem.
Enquanto o País se encontra condicionado por tais impedimentos, assiste-se à perda de tempo, que nos faz tanta falta para enfrentar os problemas mais graves, com folhetins de escutas, de perseguições à comunicação social, de alimentação de verdades e de mentiras que nem adiantam nem atrasam no que diz respeito à preparação dos nossos problemas mais aflitivos. E de entre eles, está sempre em lugar cimeiro, a praga do desemprego, que esse sim é excessivamente amargurante e não se tem conseguido solucionar. Mas não é apenas isso. Trata-se de que, em cada dia que passa, os muitos milhões de euros que aumentam o défice do nosso Orçamento – e o que até passou no Parlamento não vai ser cumprido, isto no dizer de economistas e até antigos ministros, como Medina Carreira e José Silva Lopes, que são os mais abertos e não escondem que se torna irremediavelmente necessário que até os salários têm de ser reduzidos, isso desde já, pois não há milagres e o corte nas reformas está aí a caminho!... É uma tristeza mas é uma realidade que temos à porta.
O que eu tenho afirmado neste blogue, que tem provocado revolta de alguns leitores, que são partidários de que o povo deve andar enganado para não desanimar, essa previsão matemática que não é preciso ser bruxo para a estar a cheirar, de tão perto que já está, é o que me tem desconsolado depois de tantos anos de trabalho e de desconto e de pensar nos jovens que vão pagar tudo junto. Mas nessa altura não haverá greves para exigir aumentos e o Sócrates já se encontrará bem longe, provavelmente com a vida organizada para não sofrer as consequências da sua incompetência governativa.
Eu, do Sócrates já não desejo falar mais. É uma praga que nos foi rogada e que temos de suportar. O que me assusta nesta altura ainda mais é a dúvida quanto ao sucessor que passar a instalar-se em S. Bento. É que já não temos margem para enganos. Ou se acerta na próxima… ou temos de pôr o papel na porta – “Fechados para balanço”!

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