terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

CRISTIANAS NOTÍCIAS


A AUSÊNCIA de sentido de oportunidade, de respeito pelos acontecimentos sérios, até do mínimo de bom senso, essa característica anda à solta por este País e não é só nas cabeças dos governantes e do seu chefe que se pode apontar tal defeito, a própria comunicação social, alguma dela, perdeu completamente a noção do que são notícias sérias, boas ou más, das que devem chegar ao conhecimento dos leitores, ouvintes ou espectadores, ao ponto de dedicarem capas, páginas inteiras, títulos a toda a largura das folhas a assuntos que só servem para indignar ainda mais este povo que já está tão causticado e que merece um certo cuidado para não levar ao extremo a sua falta de capacidade para aguentar sucessivas dificuldades para conduzir a sua vida, mesmo mediana que seja, em Portugal. Eu, que na minha vida jornalística, aprendi com mestres de grandeza e ensinei depois aos meus redactores que não se pode perder o respeito pelos seguidores das notícias, transmitindo sempre o que havia para divulgar tendo em atenção o conjunto da situação do País – e,. nessa altura, a própria Censura se encarregava de usar o lápis azul para cortar o que lhe parecia poder criar situações difíceis no ambiente dos cidadãos -, obviamente que não tinha outro remédio que não fosse o de escolher entre a notícia importante e o vazio de conteúdo.
E porquê venho eu agora com este arrazoado? É que, no meio das maiores catástrofes por esse mundo fora, para não falar até da que ocorreu no Haiti e que entristeceu todo o mundo, o que se passou agora na Madeira, portanto em plena Terra lusitana, é tema para ser considerado prioritário em tudo que se transmite nos vários órgãos de Informação nacionais. Não pode haver outra coisa que seja mais importante nos nossos noticiários do que o que transformou a “Pérola do Atlântico” num mar de lodo, de ribeiras loucas a descarregar água pelas colinas abaixo e tudo isso com as consequências destruidoras que foram causadas pelas chuvas torrenciais que caíram na Ilha. Para além das mortes, dos feridos e dos inúmeros desalojados.
Mesmo assim, não pararem de surgir páginas inteiras dedicadas ao que o Cristiano Ronaldo compra, quem ele namora, o que ele faz na sua intimidade ou em plena praça pública, para além de enfastiar a repetição constitui até uma espécie de falta de assuntos importantes por parte de uma certa Imprensa. Eu sei que esse tipo de actuação cabe a um departamento tido como de “jornalismo social”, que eu pessoalmente nunca pratiquei, mas, mesmo assim, sempre há quem dirija tais folhas e deva ter a capacidade de orientar os seus redactores a variar de assunto.
Agora, numa fase de verdadeira crise, de desemprego aflitivo, de carências das famílias em suportar as despesas mensais, o ser dada espectacularmente a “notícia” de que Carlos Cruz comprou uma vivenda com piscina e tudo em Cascais, com a indicação de que a casa anterior era pequena, essa ofensa à maioria esmagadora dos portugueses não pode passar sem uma reprimenda, pelo menos neste meu blogue, já que, até agora, ainda não se notou qualquer tipo de cortes, por parte de quem seja, para impedir que se digam as coisas que apoquentam quem anda atento ao que ocorre em Portugal e não anda satisfeito com as atitudes de um certo número de portugueses.

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