sábado, 27 de fevereiro de 2010

CARROS PARA AS EXCELÊNCIAS



COM TANTA conversa fiada de que é forçoso reduzir as despesas públicas, andando o primeiro-ministro a apregoar os seus feitos dando a ideia do atleta que chega em último lugar mas que sente a satisfação do vencedor, nós, os que nos encontramos apenas na posição de espectadores, sem podermos interferir na acção do Governo, o que nos resta é, em vez de nos conformarmos com as gabarolices de Sócrates, tentarmos dar mostras das razões que nos assistem ainda que o nosso desassossego não alcance os objectivos de fazer os governantes enfrentarem as realidades. E, se houver quem oiça e raciocine quanto à possibilidade de existir alguma razão por parte dos que não concordam com as medidas que têm sido tomadas por aqueles que possuem nas mãos as rédeas do poder, então sempre valerá a pena ir insistindo enquanto, pelo menos, ainda houver tempo para a frente que chegue para actuar.
Eu sou daqueles que considera que ainda existe uma larga margem de manobra para se reduzirem substancialmente os gastos do Estado e, por outro lado, também se encontram algumas formas de aumentar o activo que permita resultar em ingressos monetários de grande utilidade para fazer frente às exigências mais urgentes e depois de bem seleccionadas. Refiro-me, por exemplo, aos carros que a Segurança Social penhora e que, desde Janeiro, segundo notícia publicada, este ano, desde Janeiro, atingiu o número de 2.000 viaturas. E, sendo evidente que se trata de uma operação dolorosa, pois refere-se a cobranças violentas de dívidas ao fisco, se esse passo tem de ser dado, então que o objectivo final seja cumprido: o de reverter para o Estado o valor em dinheiro dessa acção.
A pergunta que há que fazer é qual o destino e em que espaço de tempo é que as entidades oficiais transformam em atitude prática as medidas em causa. Quer dizer, essas viaturas são, por exemplo, postas ao serviço de departamentos estatais e no mais curto espaço de tempo, de forma a não se desvalorizarem pela antiguidade? Evitam-se, com tais medidas, as compras de automóveis novos para os serviços oficiais, sabendo-se, como se sabe, que muitos chefes de departamentos e até mesmo gestores de empresas públicas adquirem à vontade carros novos logo que acham que os que estão ao seu serviço já não correspondem ao nível social que atribuem a si próprios?
E, no que respeita a toda a enormidade de carros que, segundo se sabe, entram na posse das autoridades, seja pelas mesmas razões fiscais seja porque são confiscadas por outros motivos, como roubos e outras causas, onde vão parar tais viaturas? Com tanta matéria jornalística que este assunto daria, onde estão esses profissionais da investigação para a notícia que perde tempo com matérias fúteis, em lugar de prestar atenção ao que nos interessa verdadeiramente?
Confirmo, de novo, aquilo que tenho proclamado em escritos vários: o que deveria existir no esquema administrativo do Estado era um serviço de compra, manutenção e facilitação de viaturas, sempre que requisitadas para cada actuação, saindo o carro que fosse e o motorista que estivesse disponível na altura, para recolher de novo à garagem e ficando disponível para atender ao pedido seguinte, desde que devidamente justificado. Assim, sim, se poupavam compras desnecessárias de automóveis, bastantes dos quais se encontram estacionados à porta dos utilizadores que, com excepção dos ministros e secretários de Estado, desde Directores-gerais e daí para baixo não deveriam ser carros e os motoristas respectivos exclusivamente aos serviço de um única individualidade.
É doloroso, para quem tem gozado, até hoje, das benesses de ter o “seu” carro e o “seu” motorista parado todo o dia à porta da sua repartição. Mas, que querem? Então não estamos em plena crise e não temos também todos de nos sacrificar para não vermos Portugal seguir o caminho da Grécia?E não digo mais nada. Estou farto de pregar aos peixes

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