sábado, 16 de janeiro de 2010

CONSCIÊNCIA TRANQUILA


ISTO DE SERMOS o que somos, de não aspirarmos ser outra coisa ou de, dentro daquilo que reconhecemos ser, não desejarmos melhorar o que fazemos, portanto, de andarmos satisfeitos com o que nos calhou ser, tal posição representa a felicidade plena, seja porque temos as características de conformados por natureza ou porque não atingimos um grau de conhecimentos que nos mostre o que existe acima das nossas capacidades, tal situação é mais tranquila do que o não aceitarmos permanentemente o grau e a posição na vida que nos coube em sorte, olhando sempre para cima, para os que, com mérito ou sem ele, alcançaram um posto que servia para nos consolarmos por termos sido colocados no mundo em que nos puseram, sem auscultar previamente a nossa opinião.
Penso demasiadas vezes neste conflito e chego à conclusão de que, na maioria esmagadora dos casos por essa Terra fora, a posição que vingará será a de multidões inteiras que não ocupam o seu tempo a imaginar o que poderiam ser em vez de serem o que são. E isso, para bem da manutenção de um certo bem estar, pois a aceitação daquilo que se encaixa no dia-a-dia de cada um, o conformismo sem sacrifício e sem invejas terá de ocasionar um mínimo de contentamento na actuação nas diversas áreas onde o ser humano se movimente.
Esta será, penso eu, a forma de ser dos cidadãos normais na generalidade. Mas o que se passará na cabeça daqueles que chegam a ocupar postos de elevado nível, seja onde for que se situem esses lugares, inclusive no meio político ou, sobretudo, com essa mesma responsabilidade? Um chefe político de um país, e não me refiro àquele que alcançou uma posição desse nível e que, dispondo de meios que podem levar a que todo um povo, sob o seu comando, atinja um nível de grande prosperidade, mas sim, ao que, pelo contrário, tenha colocado a população no mais baixo grau de pobreza, esse também aspirará a atingir a craveira de competência que possa ser observado num outro responsável de outra nação que, nessa mesma altura, se encontre a desfrutar de glória e de aprovação de todos os habitantes dessa área?
A resposta parece não ser diferente da afirmativa. Isto dentro de uma certa lógica. Mas, face ao que se assiste à nossa volta e ao que a História também mostrou em diversas ocasiões, nos tempos das ditaduras que se instalaram por esse mundo fora e que provocaram tantos males aos seus compatriotas, a ideia com que se fica é que esses tais detentores de tanto poder, uns mais moderados mas outros bastante sanguíneos, ou não observaram o que se passava com colegas que assumiram (e hoje ainda assumem demasiados) a ascensão ao posto máximo ou, considerando-se senhores da razão total, sem necessidade de mudar a sua forma de actuar, insistiram em prosseguir na linha de conduta que impuseram aos outros.
Hoje em dia, seria bom que os chefes, especialmente porque não estão colocados na lista dos ignorantes absolutos, fizessem, de vez em quando, uma análise do que fazem, do que são e do que resulta das suas tomadas de posição. O andarem satisfeitos com as decisões que tomam, sejam elas quais forem, o não fazerem comparações com o que resultou de outras atitudes de parceiros que passaram pelos mesmos problemas, o serem indiferentes a críticas e o não atenderem a conselhos que saiam mesmo de adversários políticos, essa teimosia tem preços muitos elevados e acarretam, muitas vezes, o descalabro que, posteriormente, já não têm solução.
José Sócrates, que é o que temos por cá, deveria embrenhar-se numa humildade que o levasse a pensar naquilo que seria se não fosse o que é. Teria a sua utilidade.

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