quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

CONDECORAÇÕES



EU SEMPRE TIVE alguma dificuldade em aceitar, de bom grado, as notícias que me chegavam e continuam a ser do meu conhecimento de individualidades a quem são concedidas condecorações. Tanto as caseiras como as internacionais, incluindo até os tão cobiçados Prémios Nobel. E faço este intróito como forma de preparar o que não é fácil de explicar e sobre o qual tenho as maiores dúvidas sobre se estarei minimamente dentro da razão.
Não é que não haja seres humanos que, em virtude de feitos que excedem muito a média, pela sua importância, pela excepção que representam e sobretudo pelo bem que podem resultar em favor dos outros habitantes da Terra, não sejam merecedores de ser distinguidos com honrarias que os façam colocar em pedestais para melhor visibilidade. E se tal actuação se verifica após o desaparecimento do campo dos vivos, se os distinguidos não têm já possibilidade de evidenciar reconhecimento pelos prémios que lhes são atribuídos, nestes casos até considero que tem mais razão de ser que o mundo se vergue perante a maioridade, o génio, a demonstração de superioridade que foi reconhecida aos visados.
As concessões de prémios, sobretudo daqueles que gozam do estatuto de excepcional importância, são o resultado de uma escolha efectuada por um júri, o qual obedecerá a um critério que, de uma forma geral, não é dado a conhecer ao público e pode ser susceptível de certa discussão. E, por muito democrático que seja o apuramento, haverá, seguramente, quem, de entre esse grupo, não esteja de acordo total com a preferência encontrada. Para além disso, é evidente que há sempre quem tenha o privilégio de efectuar a primeira selecção dos candidatos às honrarias. E aí mesmo começa logo a suspeita sobre se não terão sido excluídos nomes que mereceriam ser avaliados. Mas, como o Homem não tem o privilégio de ser perfeito, dado que existem correntes que são favoráveis às concessões de honrarias a quem se encontra ainda a movimentar-se na Esfera terrestre, neste caso, os que, como eu, não apreciam estes actos, não têm mais do que se submeter às justiças e às injustiças que se praticam e, através dos meios de que dispuserem, expor os seus pontos de vista. É o que estou a fazer.
Falemos então do último Prémio Nobel da Paz que foi concedido a Obama, o actual presidente dos E.U.A. que tem idade para poder praticar ainda grandes erros pela vida fora. Julgo que, neste caso, nem vale a pena gastar muito espaço do meu blogue, pois terá causado grande surpresa que se tivesse verificado tanta pressa em distinguir um político internacional de que ainda se pode esperar bastante de positivo, mas que, sobretudo quanto à paz mundial, não fez nada por enquanto que justifique tamanha honraria. E condecorar por antecipação não representa uma atitude demonstrativa de bom senso.
Ora, esta parte do texto apropria-se ao facto de Cavaco Silva ter condecorado Santana Lopes com a Grã-Cruz da Ordem de Cristo, isto apenas por ser um hábito honorificar aqueles que passaram pelo lugar de primeiro-ministro em Portugal.
Mais uma razão, portanto, para eu confirmar o meu desagrado em ver condecoradas certas personalidades, especialmente vivas ainda, tanto mais que, no caso de Santana Lopes, este exerceu aquele cargo político durante apenas oito meses e não se procurou esclarecer se a figura em causa cumpriu bem ou mal a respectiva missão, ainda que haja muitas opiniões, contrárias umas das outras, e portanto tanta ligeireza só pode servir para desinteressar prováveis futuros chefes de Governo portugueses em serem também agraciados, pois que essa atribuição não corresponderá a um prémio mas apenas a um certificado de presença e a um hábito estabelecido.
Não digo mais nada. Não vale a pena. Cada um que faça o julgamento que achar mais adequado. Por mim tenho muitas dúvidas de que os cidadãos do nosso País atribuam algum respeito a todos os que, vaidosamente, exibem na botoeira dos seus casacos aquele sinal de que se trata de alguém que já recebeu alguma comenda. Por muito que evidenciem “orgulho” por serem chamados de “ senhores comendadores”!...

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