domingo, 31 de janeiro de 2010

CONSELHO DE ESTADO


CHEIRA a princípio de uma caminhada para reocupar o lugar de Belém e, quanto a isso, cada um faz o que pode para preparar o seu futuro, sempre que seja dentro das normas legais e éticas. É o que parece querer representar a convocatória de Cavaco Silva para a reunião do Conselho de Estado ainda esta semana. Mas, por outro lado, dadas as circunstâncias amargas que se vivem no nosso País e as dificuldades nítidas em encontrar resposta positiva, todas as iniciativas são bem aceites e a esperança de que alguma coisa de bom saia dos que ainda têm nas mãos alguma possibilidade de procurar saída, todas elas serão bem vindas. Realize-se, pois, mais esse Conselho e que os seus membros não utilizem tal reunião apenas para mostrar que estão vivos, mas que façam ouvir as suas vozes no sentido de tentarem acrescentar algo de útil, não receando referir as verdades e já que a ordem de trabalhos incide sobre os desafios do futuro e para uma análise da situação política.
Sendo a quinta vez que, com este Presidente da República, tem lugar um encontro desta instituição, dada a situação muito delicada que Portugal atravessa há que esperar que não se trate de uma reunião, por sinal a 40ª desde que foi constituída, sem resultados palpáveis, visíveis, úteis, e que os seus 20 membros, com o Presidente, não saiam da mesa com a sensação de que foi infrutífera a iniciativa.
Os portugueses que começam a estar pausadamente conscientes da situação que se vive e do que ainda virá a enegrecer o panorama, e de como são duvidosas as medidas positivas que esperam do poder, quando se sabe que a dívida pública, só em juros, atingirá os 5,5 milhões de euros no final deste ano, para além de o saldo das contas públicas se apresentar negativo em mais de 14 mil milhões de euros, tudo isto acrescido da taxa do desemprego que, segundo tudo indica, já chegou os dois dígitos, ao não presenciarem os cortes que se impõem nos gastos públicos em termos de verdadeira necessidade, e de não assistirem a só serem feitas despesas no que é absolutamente essencial, é evidente que, face a essa situação, têm de aguardar por qualquer “milagre”, seja ele qual for, que surja de um sector que mantendo, pelo menos, alguma tranquilidade política, seja capaz de trazer certa esperança para os espíritos mais atingidos pela realidade económica, financeira, social que se vive no nosso País.
Será que o próximo Conselho de Estado anunciará possibilidades de ultrapassarmos o desassossego em que vivemos? Mostrará esta Instituição, que não serve apenas para dar lugares honrosos a personalidades que, tendo já exercido funções importantes ou encontrando-se ainda dentro delas, que os seus parceiros não aparecem somente para dar lustro às suas honrarias?
Se ao menos os nossos vizinhos espanhóis se encontrassem numa situação que pudesse constituir uma ajuda de valor ao nosso caso, nem que fosse com a continuidade de importações dos produtos portugueses e com a contratação de muita mão-de-obra nacional como sucedeu antes, ainda poderíamos antever uma saída por essa porta! Mas, tal como se encontram, embora dispondo de meios mais viáveis de sair da crise, ainda levará algum tempo até isso suceder. Se este conjunto peninsular já estivesse integrado numa nação ibérica, sem sujeição de nenhuma das partes à outra e mantendo a suas características próprias, seria possível que o drama comum fosse solucionado com maior força e determinação. Mas como essa comunhão sempre encontrou aljubarrotistas dispostos a estarem orgulhosamente sós, não é essa a posição e cada um chora os seus problemas isoladamente.
Já sei. Os mesmos de sempre revoltam-se perante esta ideia que defendo há muitops anos, desde os tempos em que a Censura me proibiu de voltar a este tema. Mas o
futuro dirá se se trata de ter razão antes de tempo.

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