terça-feira, 1 de dezembro de 2009

ADEGA MACHADO - UM SÍMBOLO



PODERIA não servir de tema para este blogue, porque outros acontecimentos de maior dimensão ocorrem cá pelo nosso País e seria natural que eu não me ocupasse dele com certo relevo. Mas serve de exemplo e, neste caso, a morte de uma andorinha pode significar que a Primavera está a atingir o seu fim.
Que quero eu dizer com esta espécie de metáfora? Pois que, assistindo nós ao encerramento, todos os dias, de grandes empresas com centenas de empregados, a notícia de que a Adega Machado, a tão antiga casa de fados do Bairro Alto, que vem desde 1937, fechou a suas portas, tendo deixado sem trabalho 28 pessoas, tal acontecimento poderá parecer que não constitui excessiva preocupação perante o panorama geral da Nação. Sobretudo, quem não vem de gerações anteriores, os que só circulam por Lisboa, sobretudo à noite, não ficarão muito impressionados com o fim triste que acaba de suceder com uma “catedral” da canção nacional. E isso compreende-se.
Mas o que tem de causar justificada tristeza naqueles que, ao longo da sua vivência, tiveram ocasião de frequentar aquele estabelecimento, nem que fosse apenas para escutar os fadinhos castiços cantados por diferentes vozes que fizeram parte do elenco da casa – e, desde 1937 foram v árias as gerações que gozaram desse privilégio -, esses não podem deixar de evidenciar a pena lhes causa o referido desaparecimento.
Porém, não é somente pelo facto de encerrar um estabelecimento comercial que nos poderemos lastimar. É o significado desse acontecimento, é a demonstração de que, em Portugal, as fábricas com muito pessoal, as firmas internacionais partindo para outras paragens, as empresas de boa dimensão, todos esses contribuintes para a economia portuguesa que não suportam os malefícios dessa crise que tem posto todo o mundo em polvorosa. Não, são também, as de pequeno volume de negócio, as que se encontram na área da distracção do Homem, as que oferecem momentos de prazer a nacionais e aos turistas, são igualmente essas que apagam a luz e fecham as portas, deixando um rastro de saudade que entristece ainda mais os portugueses, mesmo aqueles que só conheciam a Adega Machado de nome.
Andamos todos desorientados. E não entendemos completamente o que se está a passar. É que, ao mesmo tempo que se sucedem estes casos de falências sucessivas de empresas, surgiu a noticia de que os agentes de viagem nacionais regozijam com o facto das viagens para o Brasil na época do fim do ano estão quase esgotadas. Incompreensível! Será devido aos altos rendimentos de bastantes administradores e directores de empresas públicas, como veio agora difundida a notícia de que uns tantos levam todos os meses para casa escandalosos salários? Por exemplo, o pagamento do ordenado de Fernando Pinto atinge os 816 mil euros por ano, para além de ainda ter uma pensão (?) de 13.700 euros, assim como o de Faria de Oliveira, da Caixa Geral de Depósitos, cujo montante ascende a 700 mil euros, também com uma pensão de 115 mil, essas situações a que se juntam muitas outras de também protegidos pelas empresas em que o Estado interfere podem possivelmente explicar as excepções, que não são tão poucas como isso, que dão azo a que haja quem e veja passar a crise sem a menor preocupação. Revolta isto!
É este o panorama injusto que se vive nesta ponta da Europa. E eu quero lá saber que não seja só aqui, que o mesmo se passe noutros países! É aqui que nós vivemos e é aqui que exigimos que haja decência…

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