sexta-feira, 27 de novembro de 2009

PRESTAR CONTAS


POR muito que alguém, maldosamente, julgue o contrário, a minha grande aspiração é conseguir ver o nosso querido País, antes da minha partida final, entrar na via correcta e em que a sua população, que é apenas de cerca de dez milhões, consiga atingir a felicidade mínima que qualquer habitante tem direito a usufruir. Bem bastaram os quase nove séculos que constituíram, até hoje, toda a vida de Portugal como Nação independente, em que as circunstâncias que foram proporcionadas aos lusitanos em todo esse tempo não se situaram, de uma forma geral, na área da prosperidade, para, nesta altura, em que se está a atravessar uma crise que não se consegue vislumbrar forma de sair dela, como se isso já não chegasse, ainda nos tenhamos de confrontar com um comportamento do sector político, todo ele, que tem de envergonhar qualquer ser humano responsável.
Não hesito em afirmar, alto e bom som, que esses portugueses, que se situam nas áreas das decisões importantes de Portugal, só têm dado mostras indesmentíveis de que não são capazes de utilizar o regime democrático que foi tão difícil introduzir, depois de um longo período de ditadura, e que parecem apostados em clamar por uma mudança igual à que se operou quando foi posto fim à Primeira República.
Esta afirmação escandaliza uma boa parte dos portugueses? Pois também a mim. Mas, ao ver, todos os dias, o que os noticiários mostram quanto às tentativas de verdadeiros assassinatos que estão a ter lugar, em que o regime afasta, cada vez mais, adeptos, mesmo os que, com idade para isso, deram largas e efusivas mostras de alegria no 25 de Abril, ao ouvir o que se diz nas ruas e até mesmo o que começa a ser escrito e dito por alguns chamados politólogos, entra-me na consciência a convicção de que, como as coisas estão a correr, não é possível prolongar por muito mais tempo a situação que se atravessa.
E, no que respeita aos mais novos, aos que não sofreram na pele os efeitos do antigo regime, então esses ainda mais inclinados se encontram para que o sistema actual sofra uma volta de 180 graus, e nós, os antigos, bem sabemos o que isso significa.
Nesta altura só basta que o Governo venha declarar que não tem forma de continuar a pagar as reformas e que, de um dia para o outro, a enorme quantidade de aposentados fica de mãos a abanar. Juntando-se os desempregados aos reformados, a multidão que constitui essas duas categorias da população ninguém sabe se não chegará para tomar iniciativas políticas que não têm nada a ver com a prática democrática.
Estou mesmo a ver que, se não existir outra solução para sairmos do buraco negro em que nos encontramos, os culpados de tamanha catástrofe, se lhes chegar a hora de terem de fazer contas, vão seguir o exemplo de Marcelo Caetano e de tantas outras gentes que, naquela altura, embarcaram rapidamente para o Brasil. E ali conspirarão contra os malvados que os fazem repetir a “injustiça” que calhou há trinta e cinco anos aos que já cá não encontravam lugar para viver.
Bem sei que este é um cenário catastrófico e quase ficcionista. Mas tem acontecido tantas vezes a realidade acabar por surgir dos romances, que nem sei bem se será assim tão pouco viável. Que todos os santinhos nos livrem de tão grande descalabro!

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