quarta-feira, 25 de novembro de 2009

MEDINA CARREIRA - O PESSIMISTA!


CADA vez que Medina Carreira surge na televisão e expõe os seus pontos de vista sobre a situação económica portuguesa, não se ocultando por detrás de panoramas cor de rosa que, conforme são as suas exposições, estão muito longe de constituírem as que nos envolvem desde há uns tantos anos e que, nesta altura, dão mostras de se encontrarem a piorar rapidamente, ao ponto de num futuro, que não virá muito longe, passarmos a ser uns “pedintes da Europa”, repito, cada vez que o professor e economista e antigo membro de um governo, sem papas na língua, lança o aviso de que o caminho que levamos, se não mudarmos rapidamente de opção, se nos sentirmos satisfeitos com a situação que temos, se preferirmos ser optimistas para simples sossego dos nossos espíritos, mesmo que tenhamos consciência de que nos estamos a enganar a nós próprios, a sensação que tenho é que o que eu tenho andado a escrever há certo tempo neste meu blogue poderá constituir uma cópia de algum desabafo que tenha saído da boca de Medina Carreira. Mas a verdade é que as teses que tenho defendido neste espaço são mais antigas do que o surgimento do economista em público, o que me dá certo consolo pelo acerto que terei mantido com as minhas observações.
De resto, quem seguiu anos atrás, os meus editoriais no semanário que dirigi ao longo de uma década, “o País”, não se admirará das posições que tomo, pois sempre fui defensor de que, politicamente, os governantes têm obrigação de expor permanentemente a verdade, serem francos e abertos, não iludir os cidadãos, sobretudo quando as situações são mais complicadas, até mesmo num estado preocupante, não fazendo como se tem visto com o actual Governo mas já sucedeu o mesmo com anteriores – e bem nos bastou o estilo de mentira que aguentamos na época da Ditadura -, em que o falseamento das situações é que se encontra na primeira linha do interesse dos governantes.
No meu caso, até porque já passei por muitas situações ao longo do meu caminho profissional, que teve início em 1954, e em que paguei bem caro, perante a Censura e a polícia politica da época, o não me ter completamente calado e a ser obrigado a usar as metáforas e as entrelinhas para tentar fazer passar o que ia na cabeça, não será agora que deixo de apontar os erros, ainda que seja neste singelo blogue.
Este caso recente das escutas e da limpeza das mesmas por intervenção judicial, por muito que queiram disfarçar recorda os tempos antigos do fascismo. Ter visto uma peça de teatro proibida de ser representada, uma revista de que fui director a ser encerrada, a de um número deixado a Angola que escrevi numa deslocação que ali fiz, terem sido cortadas 64 páginas e, logo a seguir, ter sido preso, ter o então ministro da Presidência de Salazar, Correia de Oliveira, dado ordens ao Jornal do Comércio, onde eu mantinha uma coluna onde defendia a comunhão económica com Espanha, para não publicar mais a palavra “Ibéria”, substituindo-a por peninsular, sendo essa expressão também depois proibida até que acabou na minha exclusão como colunista, tudo isso e muitas situações que levam tempo a contar foi o que tive de suportar antes do 25 de Abril.
E depois? Bem, aí, com a chamada Liberdade em acção, aquilo a que assistimos é à intervenção sub-reptícia de deferentes poderes, por forma a que não possa ser exercida em absoluto a Democracia. Já naquele período, por ter clamado contra a inoperância de um ministro da Economia – que ainda está por aí a exercer cargos que lhe garantem a subsistência -, devido ao facto ridículo, de que ainda haverá quem se lembre, de ter desaparecido o bacalhau do mercado nacional e ter de se ir às fronteiras com Espanha, onde o fiel amigo se encontrava pendurado nas árvores nas entradas fronteiriças do País vizinho, obrigando os portugueses irem alí às comprasse se queriam adquirir tão precioso alimento, por esse facto, a publicidade daquele ministério foi cortada a “o País” e era grande o valor que era destinado a essa propaganda. E venham-me agora mostrar, como novidade, o que se passou também no início da era da Revolução!...
Não posso prolongar-me muito mais para descrever imensas situações por que me fizeram passar. Por isso mesmo escrevia num texto anterior que “estou farto!”. E ainda por cima, tenho de tomar conta das queixas que são agora feitas por gente que não vem de longe e que não tem possibilidade de efectuar a comparação do antes com o depois. O que não é ocaso de Medina Carreira que, embora não tenha passado por situações semelhantes à minha, tem idade para ter vivido a época salazarista e caetanista e também tem memória.

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