sábado, 14 de novembro de 2009

FISCAIS - FISCALIZAM?



COMO é que nos admiramos de sermos um povo desobediente, amigo de não cumprir com as regras mínimas de convivência, sempre a faltar às obrigações mais elementares e quase sempre por simples comodidade e falta de vontade em obedecer a princípios que nem sequer são muito difíceis de executar?
Então, no que diz respeito aos condutores de automóveis são inúmeras as falhas que estes praticam de uma forma geral, começando pelo aparcar em qualquer sítio, sobre os passeios, em segunda fila, a interromper o trânsito, quando bastaria dar uma pequena volta ou esperar um pouco para não causar incómodo aos outros, mas é sobretudo em condução que, por se encontrarem envolvidos pela carcaça da viatura, os indivíduos se julgam donos do mundo e aí dão mostras do egoísmo, da sobranceria e da prepotência que o ser humano traz dentro de si e que procura com esforço não mostrar publicamente.
Há países onde os serviços de correcção das faltas de bom comportamento das populações, as polícias, para se ser mais claro, não se distraem e cumprem o seu dever aplicando as coimas aos que resistem em aceitar o que está estabelecido para todos. Na Suíça, por exemplo, onde vive um povo que, por nós, é considerado muito “chato”, especialmente por respeitar escrupulosamente os horários, um carro que permanece num local público mais do que dois dias, proporciona que logo apareçam as denúncias dos vizinhos que fazem com que o mesmo seja rebocado para parque apropriado. Por cá, o espectáculo de se assistir à exposição da velhas carcaças que vão apodrecendo nas ruas, essa exposição tem a sua graça.
Os portugueses, embora não gozem de felicidade a mais, pelo menos fazem o gosto ao dedo, isto é, contrariam o que os que mandam lhes impõem. E, até para isso, as instituições jurídicas, os parlamentos e as forças que têm a seu cargo o estabelecer as legislações, quando as redigem deixam sempre uma possibilidade de se jogar com a sua interpretação, o que quer dizer que as leis podem frequentemente ser ludibriadas e os advogados servem exactamente para isso, para dar a volta e encontrar uma escapatória que liberta os prevaricadores do cumprimento de penas.
Já não digo que seria bom que, em Portugal, fossemos rigorosos cumpridores de regras que, por serem escrupulosamente cumpridas, não deixariam margem ao nosso lusitânico hábito de usar a sua tão pândega improvisação, não assistindo assim às animadas falhas, sobretudo na área da construção, seja de uma simples casinha ou de um complicado túnel, com a maçador cumprimento de prazos e de custos, pois que o aumento para o dobro do que estava previsto dá sempre jeito a muita gente. Igualmente, na área das fiscalizações de toda a ordem, incluindo, evidentemente, as que competem aos Municípios, o rigor, que seria o fim das corrupções dos fiscais, dos que fecham os olhos constantemente para os construtores poderem estabelecer as suas próprias regras, então isso teria alguma graça?
Deixem-nos continuar a ser como somos. Não avançamos em nada no capítulo do progresso em todas as áreas, mas isso de sermos um povo que ama a perfeição, que adora não cometer faltas, que se deleita a puxar pela cabeça para encontrar maneiras de contornar as leis, isso, embora possa compensar bastante a pobreza e o atraso em que vivemos, é uma maçada que ninguém gosta de ter de suportar.
É o que pensa muita gente. E desde o tempo do Afonso Henriques. Não se julgue que é só de agora!...

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