quarta-feira, 4 de novembro de 2009

FALTA DE DEUS


Que falta me faz Deus,
que falta,
sobretudo quando exerço o direito de ser racional
e me revolto,
porque retenho na memória que,
em miúdo,
me impuseram a sua veneração
com missas, rezas, terços,
quando diziam que Deus
era a suprema e indiscutível autoridade
e que castigava
os que não lhe obedeciam ,
cegamente,
e aqueles que punham questões incómodas
não aceitando o que não entendiam,
discutindo as histórias do Evangelho,
contadas sem direito a perguntar
o porquê
das afirmações não demonstradas.
Ao recordar tudo isso
e ao confrontar-me
com a vida
já longa,
decorrida desde então,
não cheguei
ao ateísmo
porque nunca tive coragem
para tanto
e também porque não quero ser
fundamentalista.
Mas a razão leva-me
ao limite do agnosticismo
perante a dúvida quanto ao que é isso
do infinito,
que habilidade e imaginação foi essa
de fazer um mundo
cheio de defeitos, é certo,
mas com imensas maravilhas,
desde a criação dos seres vivos que se movimentam sobre a terra
até às extraordinárias paisagens
que nenhum pintor seria,
provavelmente, capaz
de imaginar.


Mas, e as vilezas ?
A maldade que se verifica por esse mundo ?
Que Deus pode permitir
que o homem seja capaz
de tanta destruição ?
Porquê as guerras,
as doenças incuráveis,
a fome,
a desgraça dos povos infelizes,
o ódio
que faz com que os humanos se guerreiem,.
até invocando o nome
de Deus ?
Afinal as igrejas servem quem
e para quê ?
As guerras, ditas santas, são as piores de todas,
porque, muito para além
do desejo de conquista
do poder material,
transportam a bandeira do que chamam fé,
lutando contra os outros,
os infiéis,
que é o mesmo que dizer
os que não acreditam
no mesmo Deus,
o que é o seu
e de que querem ter o exclusivo.


Perante tantas incongruências
navegando
entre o belo e o odiento
detenho-me
e não me atrevo
a ser ateu
e sinto, por vezes,
a falta de um Deus que me tire
desta angústia existencial
e me farte da busca
de uma explicação
dos mistérios profundos que nos rodeiam.


Se não houver o Deus
das igrejas,
das mesquitas,
das sinagogas,
dos santuários,
haverá, quero crer,
um Deus
com os olhos nos homens,
mesmo que muito distraído
ou talvez farto do mau comportamento
de um mundo que não saiu
como idealizaria
o seu Autor,
que não poderá ter sido construído para
estar a ser destruído
desta maneira.


Será castigo?
Mas Deus pune ?
Então não poderia actuar
doutra forma ?
Se Ele tudo pode
basta-Lhe pôr um ponto final
dar o murro na mesa do Céu
fazendo com que todos
se dêem bem,
uns com os outros.
Se não quiser fazer isso,
então bem podem,
as gerações que aí vêm,
preparar-se para apagar a luz
e fechar a porta
deste mundo.

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