terça-feira, 17 de novembro de 2009

EXPROPRIADOS


EU POR MIM sei os esforços que faço para encaminhar as minhas meditações escritas no sentido de valorizar as características positivas do nosso País e do povo que somos e temos sido. Mas se tais desejos não são encontrados, só me resta uma de duas coisas: ou não escrever nada ou fazer sair o que considero ser literariamente (ou jornalisticamente se for nessa condição) da forma mais honesta possível. Preciso de referir, de vez em quando, esta situação para me salvaguardar das críticas que, felizmente, recebo, o que é sinal de que o meu blogue é seguido ainda por um público com opinião.
Pois bem, o que hoje quero salientar é um caso que, tendo ocorrido na época em que Marcelo Caetano foi primeiro-ministro, serve de mostra de que o comportamento das forças políticas antes do 25 de Abril, em certos aspectos não se diferenciava muito do que ocorre agora, neste período da Democracia. E é pena.
Acontece que, em 1974, quando ainda não tinha ocorrido a Revolução, pouco tempo antes, o Gabinete da Área de Sines, então criado concretamente para expropriar cerca de 50 mil hectares de terrenos cultivados naquela zona, com o pretexto de ser dada execução a um projecto da construção do porto de Sines. Com o nome de “vendas amigáveis”, 210 proprietários das referidas terras viram-se corridos dos seus terrenos, ficando abandonadas os milhares de sobreiros, eucaliptos e olivais, os quais, grande parte ainda se encontra por aproveitar, com prejuízo para o Estado português.
No Governo de Cavaco Silva, em 1988, extinto o GAS, as terras em questão foram entregues à Direcção-Geral dos Recursos Florestais e às Câmaras de Silves e de Santiago de Cacém, mas nada foi feito no sentido de aproveitamento de toda a riqueza em cortiça que ali jazia abandonada. Durante todo este tempo sucedeu o abandono da área de uma grande parte de habitantes, ficando apenas a gente idosa. A mata cresceu de forma perigosa e ninguém cuida de dar caminho ao que foi alvo de medidas que não são capazes de encontrar solução para o problema.
Nesta altura, a Direcção-Geral das Florestas detém a maior parte dos terrenos, bem como os referidos Municípios, e nada nem ninguém surge a pegar num assunto tão escaldante.
Que resta então? Pois, com a entrada em vigor do XVIII Executivo, e com um ministro da Agricultura que não é o anterior – pelo menos nisso ganhou-se alguma coisa: esperança – renasceram as esperanças que andam há muito adormecidas. Pode ser que seja desta vez, 35 anos depois da primeira asneira levada a cabo pelo antigo regime, também tempo passado sobre os vários responsáveis no período democrático, alguém seja capaz de pegar o touro pelos cornos e não faça vista grossa sobre o que é uma vergonha de todo o tamanho e a prova de que, em qualquer situação política, os governantes portugueses não têm competência, coragem ou seja lá o que for, para fazerem alguma coisa de útil ao País a que pertencemos.
Está explicado o princípio deste texto, em que faço referência à dificuldade com que me debato frequentemente para não fazer crítica não positiva ao que somos, nós portugueses, em todas as classes sociais a que pertencemos. Mas, sobretudo, aos que se situam no chamado poder.

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