segunda-feira, 16 de novembro de 2009

DO MAL O MENOR...




JÁ NÃO é novidade nenhuma que a corrupção se instalou, nos mais diversos níveis, no nosso País. E não é um comportamento exclusivo dos nossos dias, pois desde tempos bastante recuados que isso de passar o envelope por debaixo da mesa é atitude que sempre correspondeu à necessidade de se conseguir um emprego, de passar num exame, de ganhar um concurso público, de obter a aprovação de um projecto, de convencer um fiscal de qualquer coisa a fechar os olhos a uma irregularidade. Enfim, nesta Terra onde, sobretudo por causa das inúmeras burocracias que fazem as delícias de imensos serviços públicos e que, em muitos casos, só conseguem retardar as resoluções, uma das maneiras de se poder fazer qualquer coisa de positivo é utilizar o dinheirinho por fora, beneficiando umas vezes funcionários de segunda ordem e noutras ocasiões até fulanos posicionados em lugares de destaque. Provavelmente, desde o tempo de Afonso Henriques que os lusitanos, no País então inventado, descobriram que não havia só que vencer os mouros e corrê-los daqui para fora, pois além das armas era necessário recorrer ao saquinho das pesadas moedas para conseguir “convencer” uns tantos teimosos a abrir as portas ao caminho que havia a percorrer.
Mas, enfrentando agora o que ocorre nos nossos dias, de facto, ou porque a coisa se tornou já tão corriqueira que não há porquê escondê-la ou devido ao facto de ter toda a gente ficado já farta de ver os desavergonhados ricos que se pavoneiam com exibições repentinas de milhões que conseguem extorquir por processos que o sistema até dá a impressão que protege, a verdade é que tem de exigir que a Justiça, apesar de ser aquela que temos, faça alguma coisa para pôr cobro a tantos sucessivos casos de corrupção.
Já perdemos a conta às situações que se encontram ainda por solucionar através das vias legais, pois que umas fazem esquecer as anteriores e a sucessão de dinheiros a circular por carreiros obscuros levam a que no fixemos nos mais recentes e deixemos de pensar nos anteriores. Este caso do sucateiro, que se encontra nesta altura debaixo de olho público, ninguém sabe durante quanto tempo andará nas páginas dos jornais e que mereçam das televisões o privilégio da saliência. Vamos ver até onde se manterá esta situação.
Porém, há que, em minha opinião, fazer um sublinhado na personalidade do, até agora, único participante no caso denominado “Face Oculta” e já detido, o empresário de sucata Manuel Godinho, o qual, segundo veio a lume, é considerado em Ovar uma pessoa de grande generosidade, pois são bastantes as situações em que deu provas do seu sentimento de ajuda dos alheios, ao ponto de ser chamado naquela terra como o “padrinho dos pobres”.
Enriqueceu imenso, dizem, apesar de ser filho de sucateiro que não passou nunca de uma relativa modéstia. Mas, através do seu trabalho e, provavelmente, dos métodos que o levaram a posicionar-se na situação que forçou a Justiça a intervir, sendo um corruptor que teve a “arte” de convencer personalidades importantes a posicionarem-se como “corruptados” - coitadinhos deles -, o que, em meu entender, o distingue de muitos e muitos que levaram uma vida a obter benefícios chorudos com o seu procedimento e andam por aí a pavonear-se, em diferentes áreas empresariais e mesmo políticas, como gente honesta é precisamente a característica de que deu mostras Manuel Godinho de não querer só para si os benefícios de que usufruiu.
Perante tantos glutões que ignoram as faltas dos outros, perdoem-me mas tenho de tirar o meu chapéu a uma excepção!

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