sexta-feira, 30 de outubro de 2009

PRIORIDADES



A NOTÍCIA não causou surpresa, mas assim, com números e tudo, não pode deixar de interferir na nossa preocupação, pois que portugueses continuamos a ser, à falta de outra alternativa que nos seja apresentada, e por isso cabe-nos enfrentar aquilo que constitui o panorama que nos envolve. Refiro-me à divulgação dada pela Imprensa de que a pobreza já atingiu por cá a casa do milhão e oitocentos mil cidadãos, mais de dez por cento da população total desta nossa Terra.
Eu tenho consciência de que os dinheiros do Estado – e, por outras palavras, o que é nosso – não podem chegar para tudo e muitas vezes, ao presenciar a divulgação de um investimento que o sector estatal resolve tomar, me pergunto se tal decisão será prioritária na lista de urgências ou se conviria antes dar aplicação, às verbas correspondentes, a outra iniciativa muito mais premente. E, não o escondo, com frequência o meu ponto de vista não coincide com a que é tomada pelas forças públicas, quer as que se situam no topo da pirâmide quer as que são provenientes de sectores médios e secundários, como os municípios, por exemplo.
A tarefa, que deveria ser generalizada, de fazer frente à pobreza que grassa por aí não é coisa que se resolva por simples decreto. E se os cofres oficiais não conseguem suportar o bastante para apoiar todas as necessidades, então há que descortinar outras formas de, pelo menos, reduzir as situações mais graves que sabemos existirem em Portugal.
Nesta altura, em que o XVIII Governo acabou de tomar posse, o ter apontado que uma das medidas que vai tomar é legalizar o casamento dos “gays”, sem me caber entrar no pormenor de discutir se se trata de uma decisão justa ou não, o que julgo importa é avaliar se existe realmente urgência em enfrentar esse problema.
E, no capítulo da pobreza, não sendo original, permito-me sublinhar o princípio de que, no caso da miséria que invadiu o nosso País, é preferível facilitar a cana de pesca do que distribuir peixe pescado, o que se traduz, na prática, na conveniência de o novo conjunto governamental dever colocar em posição ultra-prioritária o efectuar todos os esforços para diminuir drasticamente o desemprego no nosso País, criando condições favoráveis às empresas para procederem a admissões de novos funcionários em lugar de se sucederem os despedimentos.
Esta é apenas uma indicação, um desejo que os portugueses trarão na ponta da língua, e, por conseguinte, uma proposta que um Governo que acaba de tomar posse deveria situar na primeira linha do seu programa. Agora, aquela de defender a prioridade de legalizar o casamento dos “gays” numa altura destas, nem merece mais do que uma exclamação, na falta de uma gargalhada que não apetece a ninguém dar nas circunstâncias actuais.
A menos que o número de casos de pares nas tais condições seja assim tão grande que chegue a ultrapassar a quantidade de pobres que fazem parte das estatísticas oficiais. Será que o Sócrates tem consciência disso?

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