sábado, 24 de outubro de 2009

OS CAINS DE SARAMAGO



NÃO TENHO o costume de me referir a alguma coisa sem antes procurar inteirar-me, o melhor possível, do que se trata e, mesmo contrariado, colocar-me do lado do que pretendo observar. Isso de dizer não gosto, sem antes efectuar a prova para não deixar de ter razão fundamentada, é situação que sucede com muita gente mas que, neste caso, retira argumentos e força para demonstrar que todos têm direito a manifestar a sua opinião.
Esta questão que tem sido debatida largamente para gozo e prazer do apontado, com as televisões a trazer continuadamente o assunto à baila e os periódicos a publicarem sucessivamente a sua imagem e as suas declarações, essa propaganda que, sem ser paga, tem sido difundida, tem contribuído para que o tema focado obtenha o privilégio de ser largamente espalhado. E, sendo assim, também se coloca na posição ideal para ser criticado.
Refiro-me, julgo que foi entendido, a José Saramago e ao seu último livro intitulado “Caim”.
Desde que este escritor foi distinguido com o Prémio Nobel que passei a interessar-me pela leitura das suas obras. Não podia ficar-me pela primeira impressão que tinha tido antes e que não era de molde a considerá-lo um autor de craveira superior. Mas, perante as referências elogiosas que foram largamente divulgadas em redor da sua obra e da sua personalidade, levei tempo a formar a minha opinião definitiva e não deixei de ir seguindo os livros que foram aparecendo e de ter analisado as múltiplas rectificações que iam surgindo, até mesmo no capítulo da pontuação, que era o que saltava logo à vista na leitura do que ele escrevia. Mas os assuntos referenciados também não contribuíam para atrair a minha preferência.
Eu, que tinha seguido à distância a caminhada de José Saramago, quer na área política como na vida profissional que, depois do 25 de Abril, foi desenvolvendo primeiro no campo da publicidade e depois numa carreira dita jornalística que a sua participação no Partido Comunista lhe facilitou, ao ponto de ter chegado, incompreensivelmente, a dirigir o “Diário de Notícias”, onde deixou bem marcada a sua presença com uma atitude que, essa sim, me fez arredar da sua proximidade, a de ter despedido 22 jornalistas só porque não faziam parte da área política que o atraia a ele, pois foi precisamente o seu comportamento que também contribuiu para que, depois do galardão recebido em Estocolmo, não quisesse perder uma só das suas produções literárias para não cair na crítica ao seu trabalho sem ser por razões estritamente literárias.
Pois vem agora a motivo deste blogue o referir-me ao tal “Caim” que tem provocado tanta celeuma e propaganda. Começo por apontar a forma como o nome do dito filho de Abel é escrito, sem acento, e igualmente ao seu hábito de não escrever os nomes de participantes nos seus escritos sem ser com letra maiúscula. Quanto ao resto, não discuto se se trata de um trabalho que interfere na verdade ou não verdade de um tema que, apesar de não constituir leitura muito lida, não deixa de ser largamente conhecida, a Bíblia, nos seus dois Testamentos.
O que me deixa a mim a convicção é que Saramago é um excelente propagandista e a escola que fez nas agências de publicidade tem-lhe servido para, por tudo e por nada, divulgar largamente o que produz lá na ilha espanhola onde se instalou. Quanto a este livro último, eu, que contribui para aumentar a sua receita de direitos de autor, sinto-me confortado para poder afirmar que fiz um grande esforço para ultrapassar a página 40, que é onde, geralmente, me fico nos outros livros que lançou antes no mercado.
Que ele é o mais vendido, lá isso é. Agora que também será o menos lido… nesse aspecto igualmente não se andará muito longe da verdade. E isto não tem nada a ver com o assunto que escolheu, pois toda a gente tem o direito a opinar sobre o que lhe apetece – desde que tenha editor, claro está, e isso não lhe falta, pois as empresas respectivas o que querem é produto que se venda, seja ele de Sócrates ou de qualquer Carolina. Ao que é obrigado é a escrever bem e a usar correctamente a língua portuguesa, seguindo todas as regras da escrita, incluindo as pontuações, que essas são uma autêntica desgraça, próprias de um principiante. E nisso, o Prémio Nobel português, ainda que tenha vindo a melhorar bastante, ainda se situa muito longe do que a qualquer iniciado nessa arte é imposto. Mas se os editores gostam assim!...

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