sábado, 17 de outubro de 2009

A INFELICIDADE



SERÁ que nós, os que atravessamos esta época de um mundo acabrunhado e, particularmente, um País que, embora habituado por séculos de poucas felicidades, suporta nesta altura uma das maiores crises económicas, financeiras e sociais que já teve ao longo da sua História, será que a geração a que pertenço e de que sobram ainda muitos cidadãos, aquela que, ao longo de várias décadas, viveu sob o jugo de uma ditadura que deixou as suas marcas de que, por sinal, ainda muita gente não se desabituou, repito ainda, será que não teremos a alegria de vir a contemplar um Portugal, ainda durante a nossa vivência, que seja uma Nação que só terá razões para se regozijar com o que oferece aos seus cidadãos? Pergunto de novo: acabaremos todos por partir com a mágoa de nos ter sido oferecido um espaço de nascimento em que os desgostos e as dificuldades preencheram todo o tempo em que nos movimentámos como portugueses?
Já sabem os que me lêem desde sempre que eu não costumo cantar hossanas só para mostrar que anda tudo bem, que não têm os nacionais razões de queixa no que diz respeito ao ambiente em que são forçados a viver, não só quanto às determinações políticas superiores como igualmente ao comportamento de outros cidadãos e até de empresas, sobretudo as estatais, que não se habituaram ainda a cumprir os seus deveres, com competência e como é obrigação de quem tem de atender a sua clientela com competência.
Todos nós sabemos que, na vida quotidiana que somos forçados a acompanhar, frequentemente deparamos com o desleixo, com a ausência de atenção no trabalho, com o desinteresse dos funcionários, sejam eles públicos ou privados. Há, na verdade um número aflitivo de desocupados em Portugal, mas o que falta, por outro lado, é gente, portugueses, que sejam aprumados no cumprimento das suas obrigações na actividades que exercem.
Não é verdade que todos nós, enquanto consumidores, temos repetidamente razões de queixa no que diz respeito à forma como somos tratados, especialmente pelas empresas públicas, quando deparamos com faltas de bom atendimento, de rapidez nas execuções, de boa vontade em solucionar os problemas?
Quem vê diariamente o programa na RTP, com o nome “Nós por cá”, em que são denunciadas situações escandalosas de incompetência, de ausência de cumprimento de obrigações, de verdadeiro desleixo na execução de erros que têm obrigação de ser rapidamente ultrapassados e que levam tempos infinitos em ser atendidos, nesse programa, que merece o louvor de todos nós, assiste-se a escândalos do tal portuguesismo não operativo, que começa nos responsáveis superiores e que logo se transmite a toda a escala de operacionais.
As Brisas, as Estradas de Portugal, as companhias de água, electricidade, e por aí adiante são a prova provada de que actuam à solta e criam a imagem daquilo que todos nós somos: uns “deixa para lá”, uns não apressados que preferimos estar ao telefone todo o dia do que cumprir com rigor o trabalho para que somos pagos, uns ditos trabalhadores que fazemos horas extraordinárias porque, durante o horário estabelecido, nos entretemos com outras coisas… e por aí adiante. É que, nesta Terra ninguém é assume as suias responsabilidades, são sempre os outros os culpados. E é com esse sacudir a água do capote que lá vamos vivendo... mal mal!
Fico-me por aqui, porque a lista de casos que tenho para contar é de tal forma extensa que, seguramente, enfastiaria o leitores que estarão cansados de saber que tudo isto é verdade, mas que preferem fingir que não é tanto assim. Eu é que tenho este costume de não andar a fingir que estou vivo e, por isso, pago com as queixas que faço a mim próprio.

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