quinta-feira, 17 de setembro de 2009

PAULINHO DAS FEIRAS



Tenho evitado referir-me neste meu blogue aos manos Portas, cada um situado no seu extremo político. E o motivo é simples: é que a consideração e amizade que mantenho com a sua Mãe, a economista e nisso minha colega – embora eu nunca tivesse exercido -, Helena Sacadura Cabral, não permite que eu me abra em considerações, ainda que apenas de aspecto político, sobre o modo de estar dos dois participantes em atingir a posição de chefe de um Governo de Portugal.
Vou deixar, por agora, Miguel Portas, pois que este não se tem defrontado com adversários nos frente-a-frente que se têm realizado nas televisões. Faço, pois, uma simples passagem, tão cuidadosa quanto possível, em relação ao presidente do CDS.
Tenho-me debatido comigo mesmo e até porque não obtenho em minha casa a concordância total com o que opino, no sentido de procurar ser o mais independente possível e não levar em conta as teses que são defendidas por este líder da Direita. Mas, já me coloquei, em mais de uma vez, na posição de oponente nos confrontos a que tenho assistido e, apenas com tal papel, não posso deixar de constatar que Paulo Portas, no aspecto de seguidor dos princípios democráticos, não conseguiu fugir da luta das palavras e do desrespeito pelo tempo concedido a cada um dos intervenientes. E já nem vale a pena apontar as caras que fez sempre que, no outro lado da mesa, surgia um ponto de vista com o qual não concorda e dos risinhos de gozo, de complacência, de desculpa a quem não sabe do que fala que se nota no comportamento do Paulo. Mas, há que dizê-lo, que, neste aspecto, pode ser feito o paralelo com o comportamento de José Sócrates nas mesmas circunstâncias, posto que este, também mau seguidor das regras democráticas, até na troca de palavras com Manuela Ferreira Leite, marcou claramente as formas de desatenção quanto ao respeito pela opinião dos outros.
A forma autoritária que cada um utiliza nos seus discursos não pode servir de padrão em democracia. Enquanto uns, poucos, são mais tranquilos a expor os seus pontos de vista, outros sacam de toda a força da sua voz para não deixar dúvidas de que o seu pensamento é o autêntico e não admite réplicas. Mas o que tem de ser criticado e é isso que faço agora é o ter sido utilizado o tempo que corresponde ao oponente para o desmentir, para expressar o contrário, para não o ter deixado ser dono do que lhe cabia nos minutos que lhe eram atribuídos.
Nisso, meu caro Paulo Portas, não posso deixar de o acusar de dar mostras de dificuldade em aceitar as regras democráticas e, por isso, eu recear que um mandato político que lhe viesse a calhar seria utilizado para não ouvir as opiniões dos outros, só aceitando as suas como as autênticas. E, nisso, já nos basta ter de suportar o José Sócrates.
Vou agora dizer uma coisa de que o Paulo provavelmente já nem se recorda: quando se foi oferecer ao semanário “Tempo”, para ali se poder estrear no jornalismo, ainda eu era seu Director Adjunto, deixei o chefe de Redacção Peixe Dias atendê-lo e dar-me depois uma opinião. Foi, de facto, esse profissional que contou muito para a sua entrada na Imprensa, pois eu, que já estava de saída para fundar outro semanário, “o País”, não quis interferir nessa tomada de posição. Mas recordo-me de me ter sido dito que o “rapaz que se propunha ser jornalista” mostrava um grande sentido de confiança em si próprio e debitava já muitas opiniões que lhe foi dito que era conveniente resguardar para si, se queria ser um jornalista com sentido de independência. Mais tarde fundou um semanário com um título que dizia tudo - o Independente” -, mas sobre essa característica não me quero pronunciar. É que o meu ponto de vista sobre a ética profissional do jornalismo já foi aqui expresso e julgo que os meus colegas sabem bem o que penso.
Desculpa-me, minha querida Helena Sacadura Cabral, se não me expressei em completa defesa da actuação do teu filho Paulo, mas eu adiei o mais que pude este comentário e quem se expões tem de se sujeitar às opiniões dos outros. Mesmo que não condizentes.

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