quarta-feira, 9 de setembro de 2009

MEMÓRIA



Que coisa preciosa é a capacidade que cada um tem de conservar na memória imagens, ideias, frase, acontecimentos que, quando a ocasião se proporciona, voltam a surgir na nossa imaginação.
É, de facto, agradável reter no subconsciente aqueles momentos que nos deram satisfação. Tenham eles ocorrido recentemente ou sejam recordações mais remotas, até da nossa distante infância.
Eu memorizo, com frequência, a minha situação quando entrei para a primeira classe na escola da D. Beatriz., sentado num banquinho comprado pelos meus pais e colocado logo à frente da aula e em que guardava um respeito e um comportamento respeitoso que eram impostos naquela altura à rapaziada que passava a frequentar as escolas.
E, se bem que a palmatória, tão em uso nessa época, constituísse o pavor maior, mesmo assim a minha memória fixa-se nesse momento. E não é com desconsolo ou com azedume que a minha memória funciona com tal recordação. Pelo contrário, tenho saudades de tal período e da imagem da professora.
Porém, as memórias também pregam partidas. Sem constituir o nosso desejo, algumas vezes nos conduzem a situações que bem desejaríamos que fossem esquecidas. Mas a nossa vontade não é suficiente para arredar da cabeça o que aparece sem pedir licença.
Também mantemos no registo muita aprendizagem que se fixou por necessidade de a repetir nos tempos de estudo, por exemplo enunciar as preposições, tal como na minha época se tinham que repetir de cor os nomes dos rios portugueses e seus afluentes, e ainda hoje, sem ser necessário dar mostras dessa sapiência, nos saem da boca várias dessas memorizações antes impostas. De facto, esse saber não incomoda nada e tudo indica que o que hoje se aprende é menos do que nas quatro classes iniciais dos estudos na infância dos hoje bastante seniores.
Seja como for, a memória é um bem de que o Homem saudável dispõe e quando, por razões de enfermidade, se perde tão agradável recôndito, nessa altura é que se dá conta da falta que faz chamar à cena o que só nós, os proprietários das lembranças, perdemos.
Mas, sejamos também justos. Há ocasiões em que a falha de memória nos é útil. Sendo autêntica, não há outro remédio que não seja declará-lo com honestidade. Mas também serve de desculpa para falhas que outras razões provocam. E, nessa altura, o “ai esqueci-me!” serve mesmo de desculpa para aliviar uma falta que tenha sido cometida.
“Esta cabeça!...” é uma frase que se aceita dos mais velhos. Mas aquela cabeça, ainda que com algumas “brancas” que atrapalhem, continua a ser, enquanto se anda por cá, a servir para ocupar os momentos de silêncio, de repouso, de conversação com nós próprios. E esses, nos animais racionais, são situações que merecem a compreensão de todos.

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