terça-feira, 29 de setembro de 2009

ELEIÇÕES - PERSPECTIVAS



Ao contrário do que talvez bastante gente suporia – e eu incluído – a soma dos votos do PS com o Bloco de Esquerda não conseguiu alcançar o mínimo necessário para que uma decisão governamental possa, a partir de agora, passar no Parlamento. Com efeito, os 117 que se impõem para que, perante uma Assembleia completa, os socialistas façam aprovar uma determinada lei que saída por decisão do Governo, somando os resultados do BE com os 96 do PS o total fica-se em 112, o que não chega para atingir tal objectivo. A verificar-se um entendimento desse lado do Hemiciclo, entre o PSD e o CDS, a junção dos 78 sociais democratas com os 21 cristãos democratas permitirá vetar todas as decisões que saiam da bancada socialista, pelo que este partido necessita entender-se com os opositores que dêem mostras de maior adversidade, isto se quiser mostrar obra nas suas funções governativas.
Em resumo: o CDU, com os escassos 15 elementos de que dispõe, mesmo juntando-se ao Bloco de Esquerda, o que parece impensável, e consiga totalizar 31 deputados, não fica em condições para bater o pé a nenhuma das outras presenças parlamentares. Isto é o que a matemática explica.
Sendo assim, como é, o panorama a que se vai assistir a partir desta altura é o de que José Sócrates é o grande derrotado decorrente das votações ocorridas no domingo. Continua a ocupar o lugar de primeiro-ministro do Executivo que venha a ser nomeado, mas a maneira de actuar muda completamente. De um chefe de Governo arrogante e sempre certo das suas decisões, passaremos, será o desejo da maioria, a ter um dócil e subalternizado condutor do novo grupo de ministros. E, quanto a estes, também se assistirá a um elenco diferente, espera-se, pois que os que se encontravam nesses lugares, a maioria deles, não têm possibilidade de prosseguir com as orientações que deram aos seus ministérios, não sendo sequer necessário mencionar aqueles que não podem manter-se ao lado do antigo chefe.
Quanto a ser conseguido prosseguir na tentativa de resolução dos inúmeros problemas que são transportados do Executivo anterior, lutando contra a crise avassaladora, externa e interna, o desemprego que não para de aumentar, a enorme dívida externa que nos compromete agora e no futuro, as situações inadmissíveis com a Justiça que temos, os problemas que se mantêm por resolver na área da Educação, a urgente necessidade de alargar os cuidados de saúde aos portugueses, sobretudo aos de categoria social mais débil, o enfrentar-se com realismo o estado a que chegou a nossa agricultura e, também importante, não deixar que se mantenhas as benesses inaceitáveis que são concedidas aos detentores de lugares oferecidos aos amigos do sistema, tudo isto entre uma enormidade de problemas que não podem continuar a existir num País que já merece, há muito, fazer parte dos mais desenvolvidos da Europa.
José Sócrates venceu? Não é esse o meu entendimento. Mas oxalá esteja equivocado. E passemos a assistir a um governante que entendeu, por fim, que não é com arrogância que se convence um povo. E que, pelo contrário, é admitindo os enganos, reconhecendo dúvidas, pedindo desculpa quando as coisas não correm bem, é com essa modéstia que, sobretudo com estes portugueses que estão sempre dispostos a desculpar, que se poderá, talvez - quem sabe? -, atravessar o período tão difícil que se apresenta a S. Bento.
Ainda aí vêm as eleições autárquicas e essas, sendo importantes, não interferem directamente na governação do País. É outro assunto a que voltarei.
Já quanto ao Presidente da República, por enquanto mantém-se tudo numa incógnita. E será bom que não se criem mistérios, que não ajudam nada a animar os portugueses.

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