sábado, 30 de maio de 2009

SÊ-LO E PARECÊ-LO...



Nem os políticos que estão no activo e que passam a vida a revelar faltas dos outros, nem esses que se julgam cumpridores absolutos das leis e que querem fazer crer aos cidadãos que são intocáveis e imunes de defeitos, até mesma essa camada de pessoas que deviam dar o exemplo mas passam a vida a cometer faltas, quando se lhes apontam tais erros dão-se ares de ofendidos, de perseguidos, de vítimas das más intenções de quem levanta a acusação.
Nem é preciso pôr mais na carta, dado que a opinião pública desfavorável que, cada vez mais, se avoluma em relação aos que se instalam nos lugares que lhe oferecem um elevado nível de vida que, fora disso, seria igual a todos os outros que enchem este País e que bem se queixam das agruras, a opinião pública, repito, não pode ser mais clara quanto à credibilidade que lhes merecem os chamados políticos profissionais. E, por vezes, alguns deles deixam-nos surpreendidos, pois que, apesar de tudo, sempre existem uns tantos que se podem julgar como pessoas de bom índole, razoáveis intenções de servir, diferentes da maioria que só procura entrar na vida pública com uma intenção: servir-se o mais possível das regalias e facilidade que são obtidas com os cargos que conseguem e, numa palavra, meter nos bolsos os maiores proventos que conseguirem, ao ponto de, em muitas situações, entrarem na política com uma mão à frente e outra atrás e, quando saem, surgirem com riquezas escandalosas.
As condescendências do Executivo de Sócrates, que não toma medidas quanto a dois casos noticiados esta semana de que o “patrão” da Telecom ganha quase 97 mil euros por mês e de que o similar de cargo na EDP leva para casa, mensalmente, outro tanto, quando recebia 4.800 euros quando exercia funções no Governo, não podem haver palavras que procurem justificar tamanha pouca vergonha!
Mas isto, sendo sabido por bastante de todos nós, os que estamos de fora e assistimos ao espectáculo sujo que nos é oferecido, não deixa de nos escandalizar. Agora, tanto os que se encontram lá no palco, como outros que já partiram para funções de que gozam agora as benesses que conseguiram com funções ultra bem remuneradas, graças à influência que exerceram, esses não podem alegar que desconhecem a lei que rege “a obrigatoriedade de aguardar três anos a partir da data da cessação da funções públicas, antes de exercer cargos em empresas privadas que prossigam actividades no sector tutelado anteriormente pelo próprio, desde que no período do respectivo mandato tenham sido alvo de benefícios fiscais de natureza contratual”.
Quantos não são, além dos enunciados atrás, quer nesta altura quer os que já beneficiaram antes, os ex-membros de governos que bem se regalam com lugares ultra-bem remunerados em empresas que, tempos atrás, estiveram sob a sua alçada política? Nem é preciso acrescentar mais casos à lista de tais personalidades.
Mas, o que me espantou recentemente foi ter tomado conhecimento do caso de uma figura que eu, apesar de tudo, ainda tenho na conta de se tratar de uma pessoa que não dá assim tanto nas vistas pela exibição de grandezas. Trata-se de Manuela Ferreira Leite. É sabido que exerceu as funções de ministra das Finanças durante o governo de Durão Barroso. Disso todos nos lembramos. Só que é menos do domínio público que, nessa ocasião, concedeu o regime de neutralidade fiscal à reestruturação do grupo Totta, que incluía, entre outros, o Santander Portugal. E essa determinação, cujos efeitos não vale a pena aqui reproduzir, custou ao Estado cerca de um milhão de euros.
Pois bem, apesar de serem conhecidas opiniões contrárias de técnicos fiscais quanto a dever a agora presidente do PSD cumprir ou não o que determina a lei descrita acima, o que é factual é que a D. Manuela, em 2007, exerceu as funções de administradora do Santander, auferindo, num ano, cerca de 83 mil euros de salário.
E, já se dizia em tempos recuados: não basta ser-se honesto, é preciso também parecê-lo… E, digo eu agora: todos têm o seu Freeport às costas!

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