quarta-feira, 20 de maio de 2009

LOPES DA MOTA




Até parece que não temos por cá problemas que nos atormentem o bastante e que, por isso, desperdiçamos tempo com situações que, pelo menos para a maioria dos cidadãos portugueses, não têm o menor merecimento e cujas soluções não trazem qualquer acréscimo ao afastamento das dificuldades que temos de enfrentar. As forças tidas como mediáticas ocupam os seus poderes a chamar a atenção para situações que, em muitos casos, deixam indiferentes os portugueses que, nem sequer se apercebem bem do que se passa em relação aos temas tão divulgados.
É o que tem acontecido, por exemplo, com Lopes da Mota, nome só agora conhecido nas ruas e que exerce as funções de presidente do Eurojust, um organismo que também a massa popular não tem a menor noção de que se trata. E, segundo o que tem vindo a lume, aquele responsável pelo departamento europeu que coordena as investigações sobre o caso Freeport, o tal que envolve o engenheiro Sócrates e que se tem arrastado ao longo dos anos, ao ponto de não haver nada decidido quanto a culpados que tenham que ser levados a tribunal, pois Lopes da Mota parece que terá exercido influência junto de magistrados para que actuem em favor do actual primeiro-ministro.
Quer dizer, não bastava já que o problema Freeport continue a manter-se na obscuridade de apuramento do ou dos responsáveis, para se juntar agora outro mistério, este do homem que dizem ter tentado silenciar os intervenientes na busca de culpados. E lá vão os partidos políticos, que não terão outras matérias de extrema importância para tratar, entrar na questiúncula, uns a pretender que o visado apareça no Parlamento para prestar depoimento e outros a impedir que isso aconteça…
Por sua vez, o actual bastonário da Ordem dos Advogados, que, sempre que tem oportunidade, surge a mostrar publicamente as suas opiniões sobre factos que, como cidadão, o incomodam – e aí também se verifica existir uma guerrilha entre oficiais do mesmo ofício que, ou estão de acordo com o seu representante ou se situam do outro lado da barreira -, e em que, em lugar de se discutir o desastre em que se encontra a Justiça no nosso País e surgirem propostas radicais de rectificar essa desgraça que atinge todos os portugueses, o que acontece é que se aproveitou a barafunda criada à volta do caso Lopes da Mota para também aí acrescentar alguma acha para a fogueira da distracção.
Estamos condenados, cá em Portugal, a andar tempos sem conta agarrados a situações que, na maioria dos casos, não deviam distrair a população nacional do principal que se situa, neste período, no centro das preocupações nacionais e internacionais.
Já não se pode esconder mais que o futuro, próximo e mais longínquo, que nos aguarda é de verdadeiro tormento. Há os que defendem o princípio de que não podemos perder a esperança, pois que é isso que nos resta “enquanto há vida”. E ficarmos por aí. Mas, como se não tivesse bastado que, desde o período pós-Revolução, tenhamos andado enganados com a ideia de que somos ricos e de que a Democracia é isso, o termos todos o direito de gastar o que não temos – mesmo sem nada fazermos para que consigamos esse benefício -, teimamos em manter uma ideia que, quando chegar a realidade, então o sofrimento é muito maior do que se estivéssemos conscientes há certo tempo de que as circunstâncias não nos foram favoráveis e que, por cá, todos se endividaram e acordaram tarde para constatar que aquilo que se deve, mais cedo ou mais tarde, tem de ser pago!...
Então, por exemplo, estarmos já a rondar os 10 por cento de gente desempregada no nosso País, não é questão muitíssimo mais importante do que aquilo que, comparado com tal flagelo, não passa de reles mexerico a que pretendem que fiquemos atentos?

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