sábado, 16 de maio de 2009

CRIMINALIDADE



Acontece seguramente a todos os que têm por propósito escrever artigos com regularidade: ao acompanhar a comunicação social escrita, sempre que deparam com um tema que pode servir de base a um texto próximo, recortam a página e guardam-na para ser lida mais pausadamente na altura em que vai servir de inspiração. Algumas vezes esse artigo acaba por ser redigido, mas outras vezes não, pelo que, com o tempo, se vão acumulando, o que obriga a que, periodicamente, seja limpo esse arquivo improvisado, com lástima por não ter sido escrito o que estava previsto.
Pois passou-se isso mesmo comigo e já depois de ter redigido o parágrafo acima. Ao tomar conhecimento de que a PSP, depois desta ter sido confrontada com a entrevista televisiva prestada por um participante nos tumultos ocorridos no Bairro Azul da Bela Vista, em Setúbal, analisou o seu cadastro e procedeu a uma busca domiciliária. E, com tudo junto, encontrou matéria suficiente para o deter, incluindo um cocktail Molotoff e outras provas da sua má actuação. Foi um e quantos não se encontrarão em idênticas condições?
Mas o que ocorreu depois, quando o juiz de instrução decidiu julgar o caso? Simplesmente ordenou apenas que o detido ficasse sujeito a apresentações semanais na esquadra da PSP local!... E assim se ficou perante uma situação de indiscutível gravidade!
O problema não é, de facto, de resolução fácil. Constitui uma questão de ordem social, sem dúvida, mas não é exclusivamente isso. Não se trata apenas da cor negra dos participantes que enfrenta problemas de falta de recursos, para além de não ser forma de encararmos este tipo de situações quando os complexos racistas tomam conta das situações que devem ser encaradas. As leis que castigam as criminalidades devem ser aplicadas sejam quais forem os tipos ou grupos de pessoas que prevaricaram. Aqueles que são atingidos pelo mau comportamento de uma minoria populacional não têm de sofrer com a falta de vigilância ou a ausência de punição por parte daqueles que são pagos pelo Estado para manter a ordem.
Se se organizam grupos violentos de protesto pelo facto de um elemento da sua etnia ou classe de amizade ter sido preso ou mesmo acidentalmente morto quando enfrentou a força policial, não pode assistir-se a manifestações de protesto, e ainda por cima quando utilizam meios destruidores e desafiantes. Não podemos assistir a campanhas de amedrontação provocadas por gente com atitudes separatistas. E, ainda por cima, quando o alvo da revolta se tratou de um tal Antonino, que desde tempos recuados tinha participado em assaltos, roubos e em agressões violentas e foi apanhado com um carro roubado momentos antes.
Já chega de crises de que não se conhecem ainda formas de a solucionar. A grande falta de trabalho, para os que o querem ter, é, sem dúvida, só por si, uma enfermidade social de monta que pode conduzir a caminhos que, noutras circunstâncias, não ocorreriam. Ter família e não ter recursos para lhe dar nem sequer alimento, faltarem os meios mínimos para ser cumprida uma missão familiar por muito modesta que seja, quando se chega a essa situação tem de ser entendida a perca de cabeça que leva a um menos bom comportamento. Mas, se a condescendência das autoridades for ao ponto de não actuar dentro das regras para evitar que essa mancha já se situe dentro dos foros da criminalidade, então o que se pode esperar é que, de um dia para o outro, surja um confronto de forças populares cujas consequências são sempre difíceis de imaginar.
Foi assim que já nasceram algumas guerras civis!...

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