sexta-feira, 20 de março de 2009

É UMA ALEGRIA!...



Não tenho, propositadamente, tocado no tema Manuel Alegre para não deitar achas para uma fogueira que tem andado a fumegar no panorama político nacional e que, de uma forma particular, atinge especialmente o secretário-geral do Partido Socialista e, por via disso, o próprio Governo sob sua conduta.
Havia que ver como a situação evoluía e, da minha parte, com o conhecimento que tenho do antigo refugiado na Argélia, altura em que eu tanto acompanhei essa deslocação por via da correspondência assídua que mantinha com o seu companheiro de fuga política, Fernando Piteira Santos, como já me referi, tempos atrás, neste mesmo blogue, em que, pelo facto de ter interferido para o esconder quando, dias antes da sua fuga para o Algarve, me pediu para o ajudar nessa difícil missão, pois tinha a PIDE a persegui-lo, a nossa antiga amizade e essa acção proporcionou que mantivéssemos uma correspondência assídua, via Paris, onde existia uma pessoa que encaminhava as nossas cartas, a sua e a minha, nos dois sentidos, pois por essa via e com esse acompanhamento da personalidade da figura preponderante no PS, Alegre, e também porque acolhi as suas crónicas regulares no semanário que eu dirigia, “o País”, tenho, em relação a ele, uma opinião das suas características, o que, de certo modo, ajuda a compreender a posição que tem tomado no Parlamento e como figura notória dentro do partido em que está integrado.
No que diz respeito a José Sócrates, quanto a este político o meu conhecimento da sua formação é bastante mais reduzida, primeiro porque não se trata de um lutador do passado pela mudança do regime existente e depois porque o seu comportamento, na qualidade de chefe de um Executivo, não tem proporcionado entender com alguma profundidade qual a inclinação esquerda/direita que orienta os seus passos. Confesso que me sinto, por vezes, confundido quanto à direcção que esta figura política sustenta nos seus actos de governação, embora, nesta fase de crise profunda que obriga a atitudes que, por vezes, impõem desvios de inclinações partidárias, mesmo assim, alguma coerência poderia existir e as explicações públicas são sempre úteis para isso mesmo, para justificar certas medidas que estarão em desacordo com tomadas de posição que podem parecer contrárias aos princípios seguidos na base pelo seu partido político. Tudo isso, para além de não ser este exactamente o momento que atravessamos o mais adequado para andarmos a discutir posições de esquerda ou de direita, dado que o essencial é conseguirmos vencer o que nos aflige bem no fundo.
Por outro lado, não deixo de expressar a minha opinião no que diz respeito à atitude pouco entendível que Manuel Alegre tem seguido, porque estar em desacordo com tomadas de posições do seu partido nesta altura difícil do País e do mundo é atitude que se compreende, mas manda a verticalidade que se seja claro e que se apontem as discordâncias com absoluta responsabilidade e sem ferir o conjunto da organização partidária a que pertence. A revista “OPS”, de que saiu agora o terceiro número e de que é líder Alegre, refere-se concretamente à corrupção e à promiscuidade que grassa entre os partidos políticos, nas autarquias, no próprio Estado e no mundo empresarial, em que a falta de regras legais claras não põem fim a tamanha pouca vergonha, e essa mansidão, afirma, é a grande culpada do que ocorre e daí o contestatário socialista acusar ainda Sócrates de não ter coragem para enfrentar o problema, não escondendo o seu desacordo quanto a estar o Estado a injectar milhares de milhões na banca, “quando cresce o número de desempregados e sobretudo quando é preciso dinheiro para iniciativas sociais urgentes”. E isso para não falar já na distracção no que se refere a não serem tomadas medidas severas contra as impunidades que se verificam nas múltiplas acções corruptas sobretudo na zona financeira que, assim como as protecções que são dadas na área dos combustíveis, na empresa pública de electricidade que mantém os preços maiores da Europa sem que tal incomode os governantes, todo esse conjunto e muitas outras situações que mereciam terem sido tratadas já por quem tem obrigação de cuidar de todas as situações criticáveis e não o foram. Se esse mal-estar indicado agora na publicação “OPS”, conta, julgo eu, com o aplauso de um grande número de portugueses, o que, em minha opinião, se impunha era que o descontente em causa viesse a lume público dar nota das suas opiniões, em vez de criar dentro do seu próprio Partido uma separação que não conduz a uma solução positiva.
Eu tenho estado em completo desacordo com a arrogância e o excesso de apreço pelo próprio umbigo de que o actual primeiro-ministro tem dado excessivas provas. A falta de humildade afasta-me do seu caminho. Mas, ao não ver no horizonte, outra estrada para desembaraçar Portugal do clima austero em que se encontra, isso obriga-me a suportar quem, noutras circunstâncias, já teria sido alvo do meu ataque sem tréguas. Mas a vida é assim…

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