quinta-feira, 19 de março de 2009

COMUNIDADE IBÉRICA



Por mais que eu evite tocar excessivamente no assunto que tem atraído a minha atenção ao longo dos anos e até poderei afirmá-lo, sem complexos, que, desde há mais de meio século que tenho este tema sob a maior atenção, não posso deixar passar em branco o que a comunicação social divulgou agora quanto a estar a Espanha a doutorar professores destinadas a instituições do ensino superior português, dada a escassez de programas de doutoramento para certas áreas de estudo no nosso mercado.
Existe uma certa dificuldade entre nós em arranjar lugares de acesso para alunos em programas de doutoramento, sobretudo no ensino politécnico, pelo que esta medida teve de ser encarada com urgência, ao mesmo tempo que muitos docentes nacionais têm de se deslocar aos seminários que decorrem para lá das fronteiras. É que o novo regime jurídico do nosso ensino superior, de 2008, obriga as universidades a terem mais de 50% do seu corpo docente com o grau de doutor.
Isto quer dizer que, mesmo contrariando aquela gente portuguesa que ainda mostra algum enjoo ao facto de necessitarmos cada vez mais da comparticipação dos nossos vizinhos ibéricos (não agora em crise, mas logo que seja viável), a verdade tem vindo a mostrar, e cada vez mais, a indispensabilidade de unirmos forças neste bloco na ponta ocidental da Europa por forma a criarmos uma força, em área, população, posição geográfica e entendimento linguístico, que permitem que termine de vez a divisão que só tem servido para o Continente a que pertencemos se vangloriar com a inexistência de um agrupamento nacional que possa fazer frente aos que se têm, ao longo da História, mostrado sempre como mais importantes. Refiro-me à França, Alemanha e Grã-Bretanha.
Ao longo dos séculos passados e desde sempre existiu uma certa influência da intriga de maneira a que nunca tivesse sido possível criar um entendimento, sobretudo económico e social, que pusesse os dois países peninsulares em comunhão de interesses. Isso não agradava, de forma alguma, aos parceiros europeus. E nem os relacionamentos familiares que tiveram lugar entre a monarquia espanhola e portuguesa, nem isso foi favorável a tal conjunção de conveniências, isso, claro, na situação actual, sem que cada um perca as suas origens, as suas raízes, as posições emblemáticas e até políticas que distinguem as nações. Países com mais de um idioma existem neste nosso Continente e nem por isso deixam de ser independentes e autónomos nas suas populações. E hoje, até com a mesma moeda, e aceitando princípios que são comuns, não deixando morrer as suas próprias tradições, até as gastronómicas, respeitam bandeiras diferentes, têm as suas próprias autonomias políticas, mas honram-se por pertencerem ao mesmo grupo nacional.
Um dia isso sucederá por cá, como já tanto se fala na candidatura ibérica em relação ao Mundial de futebol em 2018, cujo registo já foi aceite pela FIFA. É o que eu vaticino em relação ao futuro. Agora, com a crise que atacou todos por igual, não é a altura ideal para mexermos no que se vai arrastando, mas, no momento em que se começar a vislumbrar uma saída desse martírio, quem estiver na cadeira do poder logo verá se não é mais viável e mais forte fazer uma caminhada em parceria, na conquista de mercados e na imposição dos nossos interesses com um tamanho muito mais expressivo, ou se valerá a pena andarmos a esticar o pescoço e a cantar de galo, sem que ninguém nos oiça e nos ligue a mais ínfima importância por esse mundo fora. O problema reside aqui e sem o mais pequeno complexo.

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