terça-feira, 31 de março de 2009

BOTAR FALADURA


As vezes que José Sócrates surge, perante as câmaras de televisão, a “botar faladura” – que outra forma não será fácil de encontrar para reproduzir as intervenções que o primeiro-ministro faz a pretender explicar aquilo que, tratando-se de propaganda da sua actuação na política, constitui o motivo por que deixa o seu gabinete e se dispõe a comparecer em público - todas essas vezes excessivas mostra o seu estilo que, como aqui tenho afirmado com frequência, é cansativo, quanto mais não seja dada a forma que utiliza de querer mostrar-se sempre sabedor e competente no que respeita à actuação do seu Governo.
Mas, enfim, cada um explica-se como julga ser a melhor maneira para transmitir aos outros as suas teses, só que, quando se ocupa um lugar de destaque e com enorme responsabilidade política, como é o caso, se for necessário até deve aconselhar-se com profissionais do discurso e ouvir as críticas que são feitas e os conselhos que surgem de diferentes lados.
Em resumo: o político Sócrates não tem habilidade para expor as suas razões na praça pública e, cada vez que teima em surgir nessa condição, só aumenta a repulsa que os portugueses já sentem por ele. E não o escondem. Muito embora, não me canso de o afirmar, não esteja à vista ainda uma alternativa governamental ao que se encontra no poder. E esse é o verdadeiro problema!
Mas não é apenas a figura de Sócrates que tem fartado os cidadãos portugueses de ouvir e de ver. Logo a seguir, mas com um ar que se pode considerar mesmo humorístico, vem o responsável pelas Obras Públicas. Mário Lino, aquele que garantiu a todo o País que o novo aeroporto da capital teria de ser localizado na Ota e não poderia ficar situado na outra margem do rio Tejo. Todos nos recordamos do já célebre “jamais” e da garantia dada pelo mesmo de que, nesse lado, só havia deserto! E o resultado está a ser visto. Como se nunca tivesse aberto a boca em relação àquela localização, agora garante que é Alcochete o local ideal. Outra "faladura".
E, também os concursos do TGV e da nova ponte sobre o Tejo, que estão já na forja para serem lançados, só por pertencerem ao sector comandado por aquele membro do Governo entram na linha dos projectos que levantam as maiores desconfianças, no que diz respeito a custos, a prazos e às localizações. É que, no total, se trata de um investimento da ordem dos 10 mil milhões de euros e, por isso, não podem – ou não devem – ficar sob a alçada de um governante que diz e desdiz com a maior facilidade. Isto, para não falar já na inconsciência de se pretender, nesta altura particular de enormes dificuldades financeiras, estar a esbanjar dinheiro que, todos temos de saber, vai faltar dentro de pouco tempo. Quem ouviu ontem, na televisão, o economista e antigo ministro Silva Lopes, fazer o retrato do que nos espera em Portugal, de, dentro de pouco tempo, não se poder fugir aos cortes nos salários, porque a dificuldade que se enfrenta já nos empréstimos oriundos do estrangeiro, não só às empresas como ao próprio Estado nacional, isso não retira dúvidas de que o que vem aí é aterrador.
Até por isso, não posso deixar de me referir ao ministro da Justiça, Alberto Costa, que tão mal tem gerido a pasta que, segundo as acusações que surgem de todos os lados, tem cumprido desastradamente o que deveria funcionar como um relógio, e que, como se estivéssemos a navegar no mar das maravilhas, fez uma visita, dita “profissional” à China e a Macau, para efeitos de “regulação dos serviços jurídicos e assistência à mesma”, pelo que teve conversações com a sua homóloga chinesa para “fazer o ponto da situação dos acordos existentes entre os dois países”!...
Estão enganados aqueles que supõem que Alberto Costa, com as eleições à vista e não sabendo se se vai conservar naquele lugar, entendeu por bem efectuar esta visita que, por mais que queiram afirmar o contrário, não se podia tratar de outra coisa que não fosse um aproveitamento ainda a tempo das mordomias ministeriais que uma viagem deste tipo lhe proporcionaria.
E Sócrates a ver e a consentir. Deve-lhe ter dito: “Vai lá rapaz. Aproveita agora porque o depois ninguém pode garantir”. E como foi em chinês que “falaram”, por cá ninguém pode saber o que disseram e o que combinaram!
Pois é isto que sucede neste pobre País, que cá se vai embrulhando, mesmo muito mal, com a crise que não nos larga, mas com muitas "faladuras"...

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