quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

VALSAS DE VIENA



Não há como começar cada dia de ano novo vendo e ouvindo, pelo menos na televisão, a orquestra filarmónica de Viena de Áustria a tocar peças que andam sempre nos meus ouvidos em todas as alturas, da autoria de Johann Strauss. Depois da tristeza que me atinge no período do Natal, compensar esse mau estar que não é explicável para a maioria das pessoas com o bem-estar interior, com a harmonia da musica e essa particularmente a condizer com o início de mais um período de doze meses que, sobretudo agora, não se sabe como vai correr, ultrapassado a época natalícia sinto como uma vacina reconfortante entrar-me pelos ouvidos e encher-me a vista todo aquele conjunto de músicos que, num ambiente deslumbrante e num salão lindíssimo, dão mostras do que é realmente a beleza da arte musical.
Eu, que sempre fui um entusiasta melómano e que já em miúdo ia assistir aos concertos da G.N.R. no quartel do Carmo, levado pelo meu bisavô, que era um violinista de grande mérito, e que ainda andei a estudar solfejo e piano na Academia dos Amadores de Música, mas cujo conflito de tempo com os outros estudos que eu tinha me obrigou a não passar das primeiras notas, por esse motivo, ao longo de toda a minha vida de escrita e de tentativas de pintura sempre me arrepelei por não ter seguido a profissão de musicólogo. Mas a realidade foi-me mostrada de que, nesse caminho, aqui em Portugal não ganharia para viver, pelo que me embrenhei no jornalismo depois de várias experiências de outro tipo.
Vem isto a propósito de afirmar aquilo que toda a gente sabe e que já Ortega y Gasset desenvolveu na sua tese do Homem e das suas circunstâncias. O caminho que levamos durante a nossa existência é, quase sempre, conduzido por acontecimentos que estão alheios à nossa própria vontade. E, quando damos por isso, a certa altura da nossa vivência, já não há nada a fazer. Há que suportar o tempo que resta e não importa queixarmo-nos e angustiarmo-nos.
Nesta altura em que delicio os meus ouvidos com as melodias que a televisão transmite e que são da autoria dos vários Strauss que ofereceram todo o seu génio ao mundo, enquanto escrevo este texto e em que não tenho apetência para tocar noutro assunto que não seja um ligado ao prazer que sinto, penso no ano de 2009 que acabou de chegar e que vem carregado de maus presságios. Quero terminar esta escrita ao mesmo tempo que o concerto de Viena também se despede. Só depois é que me vou enfiar no sofá que conhece todas as minhas curvas e contra-curvas, para me dedicar aios meus pensamentos.
Quem me dera voltar um dia àquela linda cidade austríaca, que eu visitei duas vezes em missão profissional, mas que tão mal fiquei a conhecer. Já não tenho esperanças de lá voltar um dia por minha conta e na altura dos belos concertos em locais paradisíacos. Mas se este é o ano das más notícias, para quê aspirar a coisas impossíveis?

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