quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

DESENCANTO... POR ENQUANTO!...

Tenho a impressão de que, quanto mais me dou com as pessoas menos elas me conhecem. Confundem-se, julgam que sou aquilo que não sou.
Mas também não tenho que me admirar. Provavelmente, eu não serei igualmente aquilo que julgo ser. E o que é que eu sou, na verdade?
Esteticamente, está bem de ver, não é difícil aos outros e a mim próprio chegar a uma conclusão. Sou o que está à vista.
Mas, por dentro? O que vai na minha cabeça? Que sentimentos alimento? Não há dúvida que não é fácil ver o negativo do retrato e, menos ainda, obter a imagem correcta do que surge depois da lavagem desse mesmo negativo.
Aceito, por isso, que os outros se equivoquem a meu respeito. Que se desconsertem. É o que me sucede. É verdade que tenho mais pena dos animais que dos seres humanos. Um cão maltratado, revolta-me. Um miúdo que leva um puxão de orelhas para comportar-se bem, não me impressiona. É isto normal?
Eu, que sou do tempo das palmatoadas na escola primária e dos castigos por ter dado erros no ditado, não posso compreender que se agridam, hoje, os professores por estes terem sido severos com os alunos mal comportados. Se fosse viva a minha D. Beatriz, que me ensinou como ninguém, não tendo deixado de se servir da palmatória quando necessário, se a minha antiga professora ainda existisse, enchia-a de beijinhos.
Mas, voltando à ignorância dos outros a meu respeito, muitas vezes opto pelo silêncio, em lugar de contrapor a uma opinião que me é expressa. Deixo a impressão que estarei de acordo com o que foi dito, mas é exactamente o contrário. E quando dou a minha opinião, se não condiz com o que acabo de ouvir, logo surge a discussão, o mau humor, por vezes até a zanga. É que as pessoas não gostam de ser contrariadas. Não admitem que não estejam dentro da razão, que não sabem tudo, que a verdade não esteja do seu lado. E o pior é que às vezes está! E é isso que me deixa confuso. Que me obriga a perguntar, a mim próprio, o que sei, quem sou e para onde vou.
De uma forma geral, gosto mais de ouvir do que falar. Saber o que os outros pensam, desde miúdo que me entrego a tal prática. A escutar o que os mais velhos diziam e a aproveitar a sua sapiência. Tive a sorte de usufruir dos elevados conhecimentos de pessoas que sabiam muito mais do que eu. Tirei partido da sua experiência de vida.
Hoje sigo, ainda que em menor escala, o que é natural, tal princípio básico de ouvir com os sentidos bem despertos, mesmo que, em demasiadas ocasiões, o resultado seja somente um gastar de ouvidos. Mas, no mínimo, não falando não dou a conhecer a minha ignorância. Daí, a criar o mistério. O silêncio é mais intrigante do que o manter sempre a porta aberta para expelir o que vale e não vale a pena.
Por isso, ao analisar-me, ao pretender obter uma resposta sobre quem sou eu, realmente, confundo-me. Porque, não sendo daqueles que se julgam perfeitos, por fora e por dentro – o que ajudaria muito a encontrar uma definição, mesmo que falsa -, é na imperfeição que tento colocar-me no catálogo da classe de indivíduos.
Modesto excessivamente? Não, que isso é também uma forma de vaidade. É pretender ser melhor do que os outros e fabricar uma imagem de exposição. Andar, permanentemente, a tentar mudar de rumo, a reconhecer os erros acabados de cometer e a prometer-se não voltar a cometê-los? Mas isso é transformar a vida, já por si tão difícil de levar, num calvário.
Pois é, mantendo a dúvida sobre aquilo que sou, prefiro conformar-me e deixar passar o tempo sem encontrar resposta. Os outros que me julguem, mesmo que não condigam as opiniões, Que pensem mal, uns, e menos-mal, outros. Porque bem, bem, dá-me a impressão que poucos alinharão por esse padrão.
Mas, que posso eu fazer? Nesta cadeia de vida em que todos somos prisioneiros, à espera da libertação, trazemos um número gravado no peito e cumprimos a pena que nos foi aplicada. Eu não sei por quem, mas lá que o juiz foi muito severo para uns e magnânimo para outros, disso parece não haver dúvidas.
Se não é assim, paciência. Cada qual tem a sua opinião. E, como disse, muitas vezes o melhor é não arriscar, desabafando em voz alta.


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