domingo, 28 de setembro de 2008

MÁRIO SOARES


Foi hoje publicada num diário uma extensa entrevista com Mário Soares. Aí, a frase de chamamento para a as perguntas e respostas é a de que “José Sócrates é o anti-Guterres”, realçando que o antigo primeiro-Ministro é um homem “que não sabe dizer não”.
Isto fez-me recordar tempos passados em que o que foi Presidente da República, antes de ocupar esse cargo e na altura em que exercia funções de chefe do Governo, proclamava à boca cheia que se considerava, perante os seus ministros no Executivo, como “uno inter pares”, o que, na altura, levantou até uma questão entre mim e o homem de Estado. Na verdade, tendo eu tido oportunidade de, na qualidade de jornalista e de director de um semanário, ter acompanhado Mário Soares em dez viagens que então foram efectuadas a diversas partes do mundo, sobre tudo na Europa, pois havia a preocupação, aliás bem sucedida, de convencer os parceiros do nosso Continente a aceitarem Portugal como futuro membro da Comunidade Europeia, como veio a suceder depois, pois foi numa dessas viagens, em que conversávamos bastante durante os trajectos, que eu mostrei o meu desacordo quanto a isso de um primeiro-ministro poder ser mais um parceiro do conjunto governamental, em lugar de exercer o exercício com plena autoridade sobre os seus colaboradores mais directos na governação, não tendo até complexos em substituir os que não estivessem a corresponder às funções que lhes tinham sido confiadas. Estávamos, portanto, em desacordo. Isso do “uno inter pares” com a responsabilidade de levar com competência as rédeas de um governo, poderia ser muito “porreiraço” mas não correspondia ao que um país exigia do seu principal governante. Sobretudo, se existisse no seio do seu grupo, um ou mais que não estivessem a ser capazes de executar as tarefas que lhes cabiam.
Logo, vir agora acusar Guterres de ter sido um governante incapaz de dizer não, a mim, que conheci bem Mário Soares naquela época atrás referida, parece-me um dos esquecimentos que também sei que lhe são muito correntes, numa memória seguramente muito preenchida com outros assuntos mais importantes do que este. Estou certo de que este meu Amigo já não se recorda que, uma vez em Nova Iorque, ao termos ficado instalados num hotel que eu já conhecia de outras visitas anteriores, sentindo-se ele muito aperreado pela segurança americana demasiado apertada, me mostrou o desejo de ir comprar uma camisa e não querer ser seguido por aqueles polícias. Foi aí que valeu eu conhecer uma porta do hotel nas traseiras que utilizámos, e lá fomos os dois a caminho das lojas na rua 7ª (parece-me) e quando regressámos com embrulhos, o meu Amigo Mário fez questão de utilizar a porta principal, onde se encontravam vários dos seguranças de serviço que, ao vê-lo vir do exterior, ficaram todos claramente surpreendidos. Foi uma verdadeira partida à Mário Soares, de que eu tenho outras para contar um dia, caso venham a talho de foice… O fim da minha longa actividade jornalística, antes e depois do 25 de Abril, provocou depois entre nós um afastamento que me deixa muitas saudades, pois eu posso assegurar que, como companheiro de viagem, é das mais interessantes figuras que tenho conhecido e vem-me sempre à memória um célebre jantar que tivémos um dia no aeroporto de Londres, quando o nosso avião, que se dirigia dalí a Washington, teve de voltar para trás por motivos técnicos. Que engraçado que foi tudo, apesar das contrariedades com o cumprimento de horários, sobretudo para o então ministro dos Negócios Estrangeiros, Medeiros Ferreira...

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