sexta-feira, 8 de agosto de 2008

PORTAGENS EM LISBOA


De facto, há problemas que surgem a quem tem de tomar decisões relacionadas com a orientação de uma cidade, que a única forma de os solucionar parece ser a de tomar medidas drásticas, tipo daquelas que se sabe serem usadas na China, drásticas, de alto a baixo. Apetece, de facto, mas a vida em sociedade humana não pode estar sujeita aos apetites daqueles que mandam, sem olhar a consequências e a precauções que têm de estar sempre na mira de quem tem o poder na mão.
Já sabemos que é assim e, portanto, não vale a pena fazer apelo aos direitos de todos e não às conveniências e aos apetites de alguns.
Isto vem a propósito daquilo que, há já bastante tempo, constitui uma preocupação da nossa capital, como representa um problema que muitas cidades pelo mundo fora enfrentam e que é o excesso de circulação de automóveis nas ruas que, quando foram feitas, não contavam com tamanha enchente de carros.
Já em tempos este tema foi levantado, mas voltou agora a aparecer e, de novo, surgem os defensores da redução de entrada de motorizados em Lisboa, aparecendo propostas que assentam no que é mais fácil: o pagamento de portagens para as viaturas que tragam apenas um passageiro, nem que ele seja o seu condutor.
Na China, de novo apelo ao seu caso pouco exemplar, também em Pequim, devido à afluência de população por via dos Jogos Olímpicos, já se instalou uma lei que só permite a circulação de viaturas de acordo com as suas matrículas, uns dias pares outros dias ímpares. Isso já aconteceu em Portugal, durante a II Guerra Mundial, em que as limitações de combustível obrigaram a tal medida. Mas era a guerra! E nessa altura até se vivia à base de senhas de racionamento. Mas agora, faz-nos pensar se não existe outra forma de solucionar o excesso de automóveis dentro de Lisboa, mesmo com os problemas de poluição que se vão sentindo caca vez mais.
Apetece recordar, no caso da capital, recordar o Município de que existem não sei quantos milhares de casas vazias, à espera de obras, e que todas essas residências representam milhares de famílias que tiveram de optar por viver fora de portas e que, por via disso, constituem uns milhares de automóveis que, todas as manhãs, açambarcam as ruas para trazer os seus usuários para a sua vida que se faz na cidade.
Impor a esses milhares de cidadãos a ter de pagar portagem para entrar na cidade que é a deles ou impor que tragam companhia para lhes reduzir os custos, é uma medida que se toma no papel com a maior facilidade, mas, na prática, não parece ser a mais adequada num país europeu que ainda não chegou aos extremos da… extrema China.
Comecem, quanto antes, por legislar quanto aos milhares de prédios vazios, muitos deles propriedade do Estado e de entidades oficiais e instituam a obrigação dos alugueres, que é uma das formas de solucionar também o drama que se vive hoje de ex-compradores de andares que se encontram perante a impossibilidade de liquidar os empréstimos bancários, como me referi ontem no respectivo blogue.
Já é muito tarde? Pois é. Como sempre não somos capazes de prever os fogos antes de ver as labaredas já em plena evolução. Mas essa de pagar portagens, todos os dias, a quem vive nos arredores e trabalha na capital, essa só pode lembrar ao mesmo que estabeleceu a proibição de circularem carros aos domingos no Terreiro do Paço. Isso serve, de facto, para alguma coisa?

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