segunda-feira, 21 de julho de 2008

SE SÓCRATES TIVESSE TEMPO PARA LER!...




Já ontem me referi às duas viagens relâmpagos de José Sócrates, uma a Angola e outra, 24 horas depois, à Líbia. E fiz a pergunta que ficará sem resposta, posto que nós, portugueses sem importância, não temos nada que saber o motivo por que se fazem tais gastos com as idas e vindas aéreas a países que, por muitas outras razões que possam existir, neste momento não se verificam a olho nu interesses de ordem económica que justifiquem esses rompantes.
Apareceu, entretanto, a notícia de que o nosso primeiro-Ministro considera a Líbia como um “parceiro estratégico” e que existe um enorme desequilíbrio desfavorável a Portugal no que diz respeito à balança comercial entre os nossos países. E, ara além de ser reaberta a nossa embaixada em Tripoli, depois de nove anos encerrada, só se ficaram pelas intenções de animar as “oportunidades” para a terra de Muammar Kadhafi, apontando-se o imobiliário, o turismo e a petroquímica, em contrapartida dos produtos petrolíferos que atingem os 1.500 milhões de euros.
Valerá a pena fazer comentários a estes sonhos socrateanos, de que teremos alguma vaga capacidade de compensar a grande diferença de valores nas trocas económicas entre os nossos dois países? Mas andamos a enganar quem? Terá essa fantasmagórica imaginação nascido na tenda que se montou quando o homem da Líbia nos visitou nos finais de 2007? Só pode ser isso, sobretudo porque a lista de tentativas para desenvolver as nossas exportações para terras alheias é tão vasta, que não lembraria efectuar agora esta viagem relâmpago das Mil e Uma Noites!
Já quanto a Angola, o outro destino nesta corrida aérea do chefe do Governo português, o problema põe-se de outra maneira. De facto, a antiga Colónia portuguesa atravessa um período de desenvolvimento que, sem dúvida, a riqueza própria do seu território – petróleo, diamantes, oiro, ferro, para não ir até às perspectivas próprias que a sua dimensão proporciona – oferece condições que, da nossa parte e como faladores da mesma língua, para além do entendimento humano que nos liga como povos, podem proporcionar um intercâmbio que seja considerado interessante em termos de trocas de actividades que seja útil a ambas as partes. Por aí, valerá a pena, sob todos os aspectos, desenvolver entendimentos que, segundo se sabe, outros países não lusófonos têm procurado levar a cabo. E com êxito!
Mas, como o período que atravessamos não se tem mostrado muito favorável às nossas conveniências, até a escusa de José Eduardo dos Santos em vir a estar presente na cimeira da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, muito embora Sócrates, na sua aparente ingenuidade, tivesse garantido em Angola que o Presidente angolano se deslocaria a Portugal por essa ocasião, a sua ausência não pode ser considerada como uma prova de estima declarada, o que, do nosso ponto de vista, não pode deixar de ser considerada uma lástima. Mas, ao fim e ao cabo, uma posição tomada terá uma importância que, com o decorrer dos tempos, poderá representar um elevado benefício: a ser considerado na prática e a não ser mais uma intenção que fica guardada nas gavetas, o envio de 200 professores portugueses destinados a apoiar o ensino secundário em terras angolanas representa um passo da maior importância que, agora, em 2008, não podemos deixar de considerar como sendo uma atitude tardia, lenta, tímida. Com tantos professores por cá a necessitarem de actividade, quantos milhares não se disporiam a tomar conta desse trabalho e como ganharia a divulgação da nossa cultura lusa por terras onde nos instalámos há cerca de500 anos!
E já agora, Governante Sócrates, haja alguém que lhe diga que o envio, em condições muito favoráveis para os angolanos, talvez com algum suporte de editores portugueses, de livros que estão a ser postos de parte por cá – recordamos que há novas empresas editoriais portuguesas que, com a junção abrutalhada de produções empresariais de livros, estão neste momento a destruir material de leitura em fornadas de labaredas - , essa medida teria os seus efeitos muito significativos na criação do espírito de leitura em português que, como se sabe, nunca foi atitude que interessasse a Lisboa, em todas as suas governações desde tempos remotos.
Tanto que há a fazer em favor do nosso País e que, ficando para segundas e terceiras núpcias, acabam sempre por não ser consideradas prioritárias!
Mas isto é só um insignificante blogue, escrito por um português que, tendo sido apenas um jornalista de toda a vida, que teve a mania de se interessar pelos problemas nacionais e nunca se escusou a prestar a sua opinião em temas que sempre considerou e considera ainda positivos, sobretudo os que passam despercebidos aos que nos governam, não tem, por isso, outra importância que não seja a de tentar ter a sorte de ser lido e pensado por alguém que terá o mínimo de Poder para decidir.
É pouco, bem sei. Mas quem dá o que tem e, sobretudo, não custa ao erário público um centavo que seja…

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