quinta-feira, 31 de julho de 2008

QUE DISCURSO!


Quem não está muito identificado com estes fenómenos da economia, perante as notícias que saltaram nos jornais não foi capaz de evitar esta exclamação: só faltava mais esta! De facto, tomar conhecimento que a Banca portuguesa atravessa neste período uma crise que e traduz num título bem expressivo como “Banca lucra menos 43% com crise sem fim à vista”, deixa os cidadãos não sei se mais consolados do que extremamente preocupados. Aqueles que contam os cêntimos nas bolsas e que, todos os dias, deparam que o que compravam ontem com uma certa quantia já hoje se encontra fora do seu alcance, esses rir-se-ão perante o que se chama de crise bancária. Já não somos só nós!
Mas a coisa não dá para rir. Quando são os quatro principais bancos portugueses, o BCP, o BPI, o Santander Totta e o BES a declarar que o primeiro semestre deste ano apresentou queda de lucros, impacto negativo na bolsa e, de uma forma geral, redução de movimentos, o resultado disso é que, se não entra dinheiro a saída também diminui, ou seja, os financiamentos são medidos cautelosamente e quem precisa de uma ajuda vê grandes dificuldades em ser atendido.
É sabido que o crédito mal parado aumentou, nos últimos tempos, de uma forma perigosa, quer dizer as dificuldades em liquidar os empréstimos cresceram de forma excessiva, o que se reflecte naquilo que está já â vista e que são as casas à venda que estão a aparecer por toda a parte, pois quem não pode pagar o que adquiriu a crédito bancário, ao ver-se impossibilitado de cumprir as suas prestações não tem outro remédio que não seja entregar a residência que tinha anos para ficar totalmente paga.
É verdade que o exagero de dependências bancárias por todo o País e, na capital então, chega a ser um exagero, porta sim porta sim com uma sucursal de qualquer banco de portas abertas, o que, por um lado, permite oferecer trabalho a bastante pessoal que, com algumas qualificações, ali obtêm o seu ganha-pão, por outro lado, no caso de Lisboa elimina a existência de outros tipos de estabelecimentos que dariam mais alegria à cidade. Por exemplo, a ausência dos velhos cafés, onde as populações dos bairros se reuniam, liam o jornal, discutiam os seus problemas, tudo isso tem desaparecido com uma velocidade que entristece. Embora se compreenda que se tratam de negócios que não sustentam facilmente as exigências de gastos que o estilo de vida económica dos dias de hoje exigem.
E antes de pôr fim a este tema, acrescento a outra notícia que correu hoje nos órgãos de comunicação: que as seguradoras também estão a evidenciar resultados mais baixos daqueles que se verificaram no ano transacto. São, pois, companheiras das outras poderosas empresas que não estão habituadas a não apresentar saldos líquidos elevados.
Este texto foi redigido enquanto, ansiosamente, se aguardava a hora em que o Presidente da República iria fazer uma declaração, até aí secreta, ao povo português. Não vale a pena fingir que a Nação não andou, durante este dia, moída pela curiosidade. Não sendo um hábito Cavaco Silva expor os seus pontos de vista sem ser em datas estabelecidas, não podia deixar de constituir surpresa este aparecimento do Presidente assim anunciado de repente. Foi, pelo menos, o que se passou comigo. Esperei pela hora marcada para o acontecimento e, tal como deverá ter acontecido a um enorme número de portugueses, coloquei-me de fronte do écran da televisão e, a olhar para o relógio, despertei todos os meus sentidos. Tratava-se de um momento solene. E o Presidente da República começou a debitar o seu discurso.
Não foi, de facto, muito longo. Embora com um tom de importância que fazia acreditar que todo o comunicado se revestia de algo que iria solucionar vários problemas do País, à medida que prosseguia na leitura do texto que trazia preparado, o desconsolo por parte dos ouvintes foi-se avolumando. O tema dos Açores, tratado noutro contexto, noutra altura e sem o ar de mistério de que se revestiu, merecia a importância que, de facto tem. Mas, ter criado o clima de tema de gravidade nesta altura em que os portugueses lutam contra as dificuldades de subsistência que se agravam de dia para dia, não se ter referido a essa situação que é a que o Povo neste momento mais entende, não chega a ser compreendido, como se viu até logo a seguir os comentadores referirem, pela camada populacional que, essa sim, precisa de ouvir palavras verdadeiras sobre o que se passa e sobre o que está para vir. Até parece que eu adivinhava tendo feito a introdução deste texto com um assunto que, pelo menos esse, poderia ter servido de tema ao conteúdo do discurso do Presidente. Embora também fosse escasso.
Cavaco Silva não foi feliz. E se foi algum dos seus assessores que lhe terá dado o conselho para surgir com aquela palestra e naquelas condições, o melhor é pensar em arranjar-lhe outro serviço. Isto digo eu, para arranjar, assim à pressa, alguém que arque com as responsabilidades.

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