sexta-feira, 30 de maio de 2008

VIVEMOS DE ILUSÕES

Nesta fase em que andamos, de contar bem os dinheirinhos antes de efectuarmos uma despesa que não seja de absoluta primeira necessidade, pergunto-me se os interessados em conhecer pormenores das vidas de criaturas que circulam por aí conseguem chegar ao ponto de desviar verbas do seu orçamento, provavelmente limitado, para adquirir publicações que apresentam logo nas respectivas coberturas e em letras chamadas garrafais, para além das respectivas fotos de tipo deslumbrante, notícias sobre próximos nascimentos de filhos, de casamentos à vista, de separações de pares que se encontravam com ares de se encontrarem antes muito enamorados, como também os casos deles e delas que pisam o risco e colocam os respectivos chifres nos parceiros. Enfim, exploram essas ditas publicações acontecimentos que me fazem pôr a questão: será que essas situações se sobrepõem aos problemas que nós, portugueses, vivemos dentro de portas?
Porém, perante as vendas que eu observo no meu jornaleiro se irem mantendo, não posso chegar a outra conclusão que não seja a de, na verdade, ser eu que ando enganado nesta vida, E, ainda por cima, porque muitas das figuras que são alvo dos ditos noticiários, são gente que não se pode considerar como tratando-se de personalidades de merecida publicidade, seja qual for a actividade a que se entreguem. Eu, por mim, não os conheço de parte nenhuma e quando recorro a alguma ajuda de companheiros que julgo que se encontram mais em dia com aquele tipo de figuraças, também deparo com alguma ignorância, com excepção das zonas onde são mais sapientes, no futebol, por exemplo.
Mas não fica nessa área, pelas publicações cujos títulos circulam por aí às dezenas, tal desaforo. Também as televisões concorrem entre si, na luta pelas audiências, com programas em que se esfalfam a apresentar os seus pontos de vista, com pareceres, com opiniões, com críticas ou com aplausos mostrando grupinhos de chamados tertulianos, título que é dado a tão sabedores das vidas alheias.
Logo, numa altura tão difícil para os portugueses - com as devidas e arrepiantes excepções dos beneficiados com fortunas vultoss e condições vida por vias de ordenados, subsídios e benesses de todo o tipo que conseguem obter por força da sua habilidade em serem lapas das opções políticas -, neste momento temos de nos interrogar como pode haver ainda gente que se distrai das suas labutas seguindo "faits divers" (e que me desculpem a expressão não lusitana) que não contribuem em nada para minorar a luta que se trava por cá para se ir subsistindo .
Somos, de facto, um povo especial. Mantemo-nos um País com características de sofredor. No passado. No presente. E quem sabe como vai ser no futuro. No próximo.
Valham-nos, ao menos, as ilusões de que tudo se resolverá pelo melhor!

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