terça-feira, 8 de abril de 2008

Uma vida difícil (21)

(continuação)

Mas a História é, muitas vezes, mentirosa. E tendo em conta a "febre" de extrema esquerda que atacou o pós-25 de Abril, surgir um jornal que se mostrou contra as ocupações selvagens, contra as nacionalizações apressadas e que levaram ao descalabro económico nacional e ao desprestígio internacional que hoje já ninguém desmente, ter lutado pela democracia pura, com aceitação de todas as correntes políticas, mesmo daquelas de que não gostamos, ter tomado essa posição, na época era ser considerado de "direita". Não podia ser compreendido então que um jornalista como eu, entrevistasse, por um lado, António Champalimaud - exilado no Brasil -, e em pleno período gonçalvista, e, por outro, Santiago Carrillo, secretário-geral do PC espanhol. Era demais para muitas cabeças de oportunista !...
De resto, tendo em conta que "o País" nasceu graças a um empréstimo feito ao seu fundador de 200 contos e que, apenas pelo seu próprio esforço chegou a ser o único semanário que dispunha de fotocomposição e montagem próprias, entregando apenas à tipografia os fotolitos das páginas, que, para além disso, criou a sua própria livraria e galeria de arte (tendo sido inédito por dispor de um pequeno bar e local para pequenas tertúlias), recordando tudo isso ter-se-á que concluir que a iniciativa representou um verdadeiro milagre.
É por isso que eu digo que a História é injusta e que, infelizmente, vale a pena ser-se oportunista, como sucede hoje com a maioria da comunicação social em que, os mesmos que antes se mostraram tão revolucionários, hoje estão nas mãos de grandes grupos capitalistas, porque a censura dos nossos dias não é oficial, mas sim situa-se no poder económico.
"o País" durou dez anos e nunca se deixou aliciar por várias propostas de compra que surgiram e que queriam aproveitar-se da honestidade jornalística que constituía o capital do semanário. Se existisse hoje, seria outra coisa, mas nunca como sucedeu, por exemplo, com o grupo tão "avançado" na época de "O Jornal", que foi absorvido por um poderoso empório suíço... E o mesmo se pode dizer quanto ao que sucedeu e continua a suceder com os grandes grupos que são hoje donos da comunicação social de toda a espécie mais importante e que chegam ao despudor de serem donos também de pequenos jornais de província!
Mas, continuo a acreditar que o que é importante é ter-se a consciência tranquila, mesmo que se tenham perdido oportunidades de ganhar muito dinheiro !
"o País" acabou devido a uma traição de gente que surgiu a oferecer-se para fazer ingressar capital na empresa, na condição de que se suspendesse por 3 meses a publicação para depois ressurgir com toda a força de um Jornal livre e independente, o que não veio a verificar-se devido ao pleno que existia de me fazer crer em pessoas de bem e fugir na altura de se concretizar o que tinha ficado estabelecido. Mas, um dia, poderá ser que a história venha a ser toda contada, com os respectivos nomes dos patifes que, com grande desplante, ainda se movimentam por aí.
(continua)

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