terça-feira, 8 de abril de 2008

Uma vida difícil (19)


Aí, a minha vida deu uma volta completa. As circunstâncias permitiram que, conhecendo a filha do director da Fina, acabasse por admitir casa com a Filipa, o que viria a acontecer meses mais tarde. E, ainda as circunstâncias, determinaram que, nessa mesma altura, a posição do meu sogro na empresa sofresse um abalo ao ponto da sede geral em Bruxelas pretender substitui-lo no cargo que ocupava em Lisboa. Vim a sabê-lo mais tarde. E, subitamente, após um convite que me foi feito para me deslocar à Bélgica e depois a Itália, em ambas as ocasiões para poder estar de perto da cabeça da organização e ser analisado pela chefia máxima da Empresa internacional, foi-me feito o convite para substituir o meu sogro no lugar que ocupava em Lisboa. Tive de declinar o convite, anunciando então aos máximos da Fina que a razão era a de que não podia aderir a tal proposta, precisamente porque iria casar dentro de pouco tempo com a filha do homem que tencionavam demitir, desejando, para mais, que fosse eu a substitui-lo no lugar. Foi a surpresa geral daquela gente e isso custou-me o que era inevitável que viesse a suceder. Claro que, de tudo isto não dei conta ao visado, Filipe Corte-Real, pai da Filipa, e a minha ingenuidade não permitiu que admitisse que levassem avante a intenção de dispensar o meu futuro sogro.
Casei em 30 de Março de 1968 e as coisa mantiveram-se como estavam, em relação à Companhia, tal como até aí.
Durou pouco tempo tal situação, pois, repentinamente, a direcção belga da Fina indicou-me a porta de saída. A situação era, de facto, difícil e só eu é que a podia entender, visto que nunca comuniquei à minha nova família que me tinha sido oferecido o lugar de director-geral, substituindo quem o exercia e que, por sinal, tinha passado a ser meu sogro. Bem me insurgi bastante mais tarde e quando soube que a minha sogra, Alice Corte-real, tinha difundido no seu meio que eu é que tinha provocado o despedimento do meu sogro, para ocupar o seu lugar!...
O regime político em Portugal estava, ainda naquela época, de pedra e cal e as minhas limitações para poder exercer a actividade que sempre me apaixonara eram as maiores. Até chegar o 25 de Abril nem me parece que valha a pena entrar em mais detalhes e contar a história da minha vida. Tinha sido forçado a abandonar a vida jornalística, porque a actividade que eu queria desenvolver estava-me vedada pela Censura, pela PIDE e, segundo apurei, tudo por indicação expressa de Salazar... que honra me foi concedida! A verdade, porém, é que, já casado, tinha ficado sem emprego e, algum tempo depois, o meu próprio sogro também se encontrava demitido, embora já sofrer da doença que, cerca de um anos mais tarde, o vitimou.
Tive de me agarrar ao que me pudesse surgir e foi então que conheci um empresário que me deu que fazer, o Francisco José de Sousa Machado. E foi no seu grupo que, de novo as circunstâncias, me proporcionaram pôr de pé um empreendimento que, na altura, deu que falar: o chamado “drugstore” Apolo 70. Não me honra nada ter sido o autor de tudo que tornou real o que, então, era a maneira de eu ganhar a vida, já sendo casado. Pus a minha imaginação a funcionar e ainda hoje ma admiro de ter tido tanta capacidade para levar a cabo um empreendimento que estava bem longe de pensar que seria capaz de ef
ectuar
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