quarta-feira, 9 de abril de 2008

JÁ NÃO TENHO IDADE


Já não tenho essa idade
passou o tempo de a ter
perdi também a vontade
de pensar que vou morrer

Já não tenho tal idade
para incómodos fatais
p’ra merecer caridade
até dos que estão iguais

Assim faço eu na vida
quieto aqui no meu canto
passou tudo de fugida
não sequer fui um santo

A aguardar p’la minha hora
penso bem no tal momento
no velho por quem se chora
no que sou e me contento

Quando passa essa idade
p’ra outras coisas fazermos
obrigar-nos é maldade
podemos ficar enfermos

Há aqueles que não crêem
que a idade muito pesa
pois coitados não se vêem
ao espelho, é só beleza

Passada a idade bela
quando é tão fácil tudo
agora toda a cautela
me torna mais façanhudo

Não senhor, não tenho idade
p’ra fingir que não sou velho
quer no campo ou na cidade
o que me sinto é bem relho

Relembrar tempos antigos
antes de haver liberdade
enfrentando os perigos
para isso tinha idade

Muitos amigos de então
recordo-os com saudade
mortos ou velhos estão
já passaram a idade

A juventude de hoje
gozando a mocidade
já não se esconde nem foge
como eu com a sua idade

Nem p’la cabeça lhes passa
sequer a dor a metade
hoje pode até ter graça
não tinha naquela idade

Mudou muito cá a vida
de voltar não há vontade
p’ra enfrentar tal ferida
eu já não teria idade


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