domingo, 27 de abril de 2008

CAVACO SILVA E O DISCURSO




Ao ler atentamente o discurso do Presidente da República, Cavaco Silva, pronunciado na sessão comemorativa do 25 de Abril na Assembleia da República, e em que foi divulgada a sua preocupação frente ao que considerou constituir a ignorância da juventude em relação ao 25 de Abril, perante tais declarações, mesmo que queira não posso ficar indiferente face à admiração que isso terá provocado, quer, parece, ao autor das palavras proferidas quer na repercussão que se verificou na transcrição posterior na comunicação social. E é por isso que não resisto a deixar aqui expressa a minha opinião sobre tal matéria.
Por vezes tenho a sensação de que caminho isolado neste País, que o que contemplo à minha volta não é visto pela maioria dos meus compatriotas, especialmente pelos que assumem responsabilidades políticas, pois tomo conhecimento de afirmações que têm forçosamente de causar espanto a quem não anda completamente distraído cá neste burgo, que é o nosso e que nos vai causando permanentemente mais dissabores do que alegrias.
Tenho pelo político Cavaco Silva o respeito e a consideração que me deve merecer um primeiro Magistrado da Nação. Se ele lá está é porque foi eleito pela maioria dos portugueses e, quanto a isso, com este ou com outro titular, não há que levantar quezílias. Por sinal, no desempenho das suas funções tem dado mostras de bom senso, especialmente não impondo a ideologia política que talvez mantenha em virtude da sua origem perante a actuação de outras forças que se situam em quadrantes diferentes. Faz o que compete a um Presidente que não exerce o cargo para aumentar ainda mais o mau relacionamento que se verifica entre todos os agrupamentos que, esses sim, existem para evidenciar discordância e para tentarem fazer a vida negra aos que se encontram na posição de governantes.
Mas, apontando apenas um facto concreto e dado tornar-se de uma situação muito recente, não escondo que fiquei deveras desiludido com a atitude de Cavaco no que se refere à sua passagem pela Madeira e não ter dado mostras, mesmo que devidamente cautelosas, do seu desagrado em relação à porta que lhe foi fechada para presidir a uma sessão solene do Parlamento ilhéu. E, em particular, depois das declarações, infelizes como sempre são, as do homem que preside totalitariamente ao comando do Governo local.
Não quero dizer com isto que seria oportuno fomentar ali uma “guerra”, aumentando o mau viver criado por Alberto João Jardim em relação ao Continente. Já bem basta o que basta, estou de acordo. Mas que seria uma forma de demonstrar que aquele Arquipélago ainda não é independente e que, por isso, tem de respeitar as regras que lhe são impostas pelo todo nacional e que, enquanto se mantiver o quadro político português, Lisboa é que é a capital de todo o Território pátrio, pelo que o Governo geral não se situa no Funchal nem noutro sítio ao livre arbítrio de um mandão qualquer, por muito respeitável que seja a sua actuação como comandante do poder local, ter Cavaco Silva, com amabilidade mas com firmeza, chamado a atenção para esse facto não teria caído mal ao País que ainda somos e que, como é bem sabido, anda precisado de uma lavagem de cérebro e de um estímulo patriótico para fazer frente aos desagrados diários que somos obrigados a enfrentar.
Ora, isto vem bem a propósito da tal ignorância que os nossos jovens demonstram quanto à História do 25 de Abril, tanto mais estranho como se esse fosse o único sector em que a juventude (quer-se dizer, da população entre os 10 e os 50 anos?) dá mostras de não ser propriamente grande conhecedor!...
Para não me alongar demasiado no comentário de fundo que bem me apetecia fazer, basta que me fique pelo essencial: é que os portugueses, de uma forma bem generalizada, são a matéria-prima que forma um povo que, desde séculos passados, desde a sua Fundação - podemos e devemos repisá-lo -, tem dado largas demonstrações de que não é propriamente grande sabedor, muito instruído, exemplarmente avançado nas descobertas e nos rasgos de conhecimentos profundos.
Tivemos, pela nossa História fora, figuras de que nos devemos recordar e que podem servir de exemplo à juventude, dando a ela conhecimento completo da sua existência e das suas obras, o que não é feito devidamente? Lá isso temos. Mas a regra geral não é essa. E o que temo perante os olhos, nos dias de hoje – deixando para trás o já lá vai -, é um panorama de que não será legítimo que nos satisfaça. É a minha opinião.
De quem é a culpa dos tristes espectáculos de interrogatórios de rua que, de vez em quando as televisões nos mostram, quando descem à praça pública? O Senhor Presidente da República não quer dar-se ao trabalho de reflectir sobre isso? Os vários partidos políticos, sempre tão prontos a apontar erros àquilo que os outros fazem e a não serem capazes de encontrar soluções, especialmente quando se situam nos lugares que lhes permitem mostrar o que valem, esses não dão a volta a este estado de coisas. Não é de agora, não é deste Governo, mas será de todos os que se instalaram desde o tal 25 de Abril (e, repito, o mal que vem de trás, já nem vale a pena referir), de todos esses, recordando que muitas das figuras que acumularam erros sobre erros aí estão, de novo, a querer voltar a instalar-se nos lugares de honra, de todos esses, repiso, que reside a culpa de, após 34 anos de Democracia, estarmos, quanto ao nível de conhecimentos dos portugueses, na mesma: IGNORANTES.
Continuemos, portanto, a achar muita graça às atitudes lastimáveis e às frases verdadeiramente deploráveis de políticos como o tal Jardim; prossigamos na escuta dos discursos presunçosos dos políticos, quer estejam no Poder quer não, com as referências que ninguém entende de percentagens disto e daquilo; e insistamos em presenciar o que sucede, nesta altura, com a guerrilha que se instalou no seio de PPD, apenas e só para uns tantos usufruírem do cadeirão que ficou vazio pela saída de alguém que não se sentiu apoiado no cargo que exerceu de passagem. Vamos andando no meio de todo este lodaçal, mas não nos queixemos quer da juventude ignorante quer da população de idade mais avançada só por não terem paciência para encaixar as habilidades de linguagem daqueles que, está à vista, o que querem é apenas o seu esplendoroso bem estar.
Aqui deixo o que penso. E não o mando dizer por ninguém!...

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