sexta-feira, 25 de abril de 2008

25 DE ABRIL




Hoje, 34 anos passados sobre a data em que os portugueses, sobretudo os que têm idade para estabelecer e interpretar conscientemente a diferença entre aquilo que era antes a nossa existência e o que ocorre hoje, precisamente na altura em que sentimos todos nós - ou a grande maioria de nós, porque os que usufruem das vantagens e dos benefícios que lhes são concedidos pelos cargos importantes que ocupam, esses andarão a rir-se para dentro e a fazer afirmações de extasiante optimismo sobre o futuro que os aguarda - no momento, repito, em que sentimos quase todos nós, a preocupação generalizada, é nesta data que se atravessa que é legítimo e seguramente necessário que paremos para reflectir.
Cada um de nós terá os seus motivos para se situar nos dois extremos: ou em êxtase perante a situação económica, financeira, social que se instalou neste País que nunca usufruiu, sejamos sinceros, ao longo de toda a sua longa História, da felicidade suprema, ou, precisamente na posição oposta, encarando já os dias que correm como assustadoramente preocupantes no que diz respeito ao futuro, não vislumbrando uma saída que leve os portugueses a não ter necessida de de recorrer a mercados de trabalho no estrangeiro, e em que a nossa vizinha Espanha já está a ocupar um lugar preferencial, interessando a juventude para atravessar a fronteira a caminho do vizinho que, ainda há pouco tempo, era tomado como pouco recomendável.
Existem ainda os outros nacionais que, em face da situação que se vive nesta época pós-25 de Abril, actuam como sempre é costume entre os nossos compatriotas: estão indiferentes, não sabem o que hão-de pensar, não se atrevem a demonstrar uma opinião, têm medo de ser considerados como defensores da ditadura salazarista que aqui se instalou durante excessivo tempo, mas também, dadas as suas actividades que se situam em áreas sem grande ligação à actividade política e não tiveram antes que tropeçar num sistema que usava a opressão como força para decidir sobre a existência de todo um Povo. tal como hoje apenas sentem os efeitos da governação democraticamente instalada pela diminuição do poder de compra e por aquilo que a comunicação social, agora com total (ou relativa) liberdade para exercer a crítica, aparece a denunciar, muitas veses também por influência de posições partidárias fortes que exercem o seu poder nas administrações desses orgãos.
É que Democraria plena, séria, isenta, completamente livre de pressões de grupos ou, pior ainda, do poder financeiro, essa Democracia não foi ainda inventada... na prática. Nem cá nem, noutros locais ainda que um exercício mais honesto dessa prática.
E, no que respeita a partidos políticos que conseguem, de tempos a tempos, situar-se no comando do Governo, também esses são naturalmente formados por homens e, que me desculpem os que não são da minha opinião, nos seres humanos eu confio pouco... mas não tenho mais remédio senão deixar nas suas mãos as decisões que somos obrigados a aceitar.
É, afinal, hoje melhor ou pior do que antes do 25 de Abril que se está agora a comemorar outra vez? Bem, pior não se pode dizer que seja. Já nos basta podermos afirmar o que pensamos, termos o direito à indignação em voz alta, aguardarmos pacientemente pelo momento em que o nossos voto é depositado na urna e confiarmos que não nos enganámos de novo, como nas outras vezes, chega-nos isso para podermos gritar que um regresso ao passado horroroso que vivemos, nós os da nossa idade e que podemos estabelecer a comparação, esse passado por favor NÃO!!...
Dito isto e perante a realidade que nos tem sido mostrada ao longo destes 34 anos, não nos resta outra solução que não seja aceitar a menos má das soluções políticas que existem por esse mundo fora. E quem, como eu, fez o que pôde para pôr entraves à Ditadura Salazarista e Marcelista (esta foi uma pena que o homem não tivesse sido capaz de aproveitar a oportunidade que teve para, pelo menos, solucionar em paz o problema das Colónias) e que, depois da Revolução dos Cravos, no exercício da profissão de jornalista e de Director de Jornal, fez os impossíveis para interferir no respeito pelas regras democráticas, mesmo tendo-se sujeitado a 16 processos judiciais por alegados crimes da chamada Liberdade de Imprensa, de que foi completamente absolvido em todos os casos, os que terão no seu activo algo parecido com aquilo que me calhou ser actor naturalmente que estarão hoje mais satisfeitos do que com o que teria acontecido se não tivesse ocorrido a rebelião militar que, com os mais discutidos motivos da suua origem, conseguiu ser levada a cabo.
Mesmo passando por cima das situações que me foram oferecidas de ter sido e continuar a ser testemunha de centenas, senão milhares de situações em que os intérpretes das cenas que a vida real nos mostra serem representadas pelos novos "revolucionários", tendo sido eles antigos partidários e intervenientes activos do salazarismo que, passado o período imediato da Revolução, surgiram como entusiastas participantes do punho fechado, do braço no ar, mesmo não levando em grande conta tal gente, com todo este período passado sobre o 25 não poemos ficar agarrados a revoltas contra o descaramento que surgiu e ainda surge a cada passo da nossa vida.
Hoje, atingida a idade da complacência, do esquecimento, até do perdão, o que interessa é ir comemorando todos os anos a data que marcou um acontecimento em que tivémos a oportunidade de participar. Deixemos mentir, enganar, iludir - e até iludirem-se - todos aqueles que gozaram do antes e que usufruiram do depois. São os espertos da silva, como há por aí tantos e houve, ao longo da nossa História milhões que foram nascendo e vivendo neste País.
Tais chicos espertos são aqueles com quem nos cruzamos dirariamente em muitas das nossas actividades. São também aqueles que surgem de repente como figuras públicas de relevo.
Eu, por mim, já estou conformado. Mas não deixo de ir resmungando comigo próprio e de me arrepelar cada vez que os topo a tomar acento em lugares que lhes são confiados... como "prémio" do seu descaramento.


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