sábado, 31 de julho de 2010

Se desligar a luz é fácil, já apagar as más recordações é tarefa que não depende de dar ao interruptor.
Homem não é a tal máquina.
Não há comando eléctrico que possa afastar aquilo que não se deseja que volte à memória.
Não se comanda com um botão.

A PASTELARIA

Gente que entra e que sai
disposta a consumir
e depois p’ra onde vai
já está pronta p’ra seguir
a vida que cada um
tem ainda pela frente
pois já não segue em jejum
levando um ar de contente

Os bolos têm saída
neste País de gulosos
e o café como bebida
de simples e de vaidosos
lá prepara para a luta
quem pouco dinheiro gasta
que a vida é uma disputa
o que se ganha não basta
É nesta pastelaria
ond’eu por vezes me sento
que até me serve de guia
p’ra poesia que eu tento
e mesmo qu’ocupe alguém
cadeira na minha mesa
a conversa me faz bem
porque saio da tristeza

O de café variar
onde vou mais a miúdo
é só p’ra desabafar
e imaginação ajuda
pois vejo gente diferente
e outras vozes eu ouço
algo que é influente
naquilo que faço e posso

Daqui da pastelaria
até ao café normal
não faz falta correria
é tudo peto afinal
é só questão de apetite
de como estiver o dia
pois preciso qu’arrebite
toda a minha fantasia



DESENCANTO POR ENQUANTO!...


Quem nunca teve bens materiais que valessem a pena, quem sempre lutou pelo Pão Nosso de cada dia sem ter gozado de abastanças, ainda que tenha podido desfrutar ocasionalmente de algumas mordomias que lhe foram proporcionadas, é natural que tenha aspirações a não morrer sem antes ter a sorte de lhe sair, em qualquer lotaria, um prémio pecuniário chorudo.
Claro que os ricos, os que já têm bastante, esses não desprezam um aumento substancial das suas fortunas. Dinheiro nunca vem em excesso, dirão. E a única diferença é que, quando arriscam um verba ainda que elevada nas apostas, utilizam a expressão “investir”. Os pobres e mesmo os remediados, os que contam as moedas na carteira, limitam-se apenas a tentar a sua sorte, com o lema de que “se tiver de sair… sai!”.
Pensando apenas nos que não têm nada que se veja, no cidadão corrente que vive condicionado a um montante mensal certo, ao que administra, ele e a mulher, geralmente até ela, aquele contadinho que não chega para dar um passo fora da linha, que a custo dispõe de uns trocados para tentar a sua sorte numa dessas lotarias que, quando sai e toca só a um, é coisa que se veja, tendo essa figura como modelo de imaginação, pode-se deduzir a mudança radical que se produz na sua vida. Será que a inundação de dinheiro a quem não está habituado a tanta fartura, que não soube nunca o que era ter para lá do mínimo, ultrapassada a alegria eufórica do momento da notícia inesperada, persiste sob a forma de felicidade?
Não ter problemas no gastar, não fazer contas na altura das compras, extasiar-se com tudo o que vê e que pretende adquirir, ter finalmente o carro dos seus sonhos, mudar de casa, deixar de trabalhar, aproveitar as excursões organizadas, comer a tão ambicionada lagosta, fumar do mais caro, ir visitar um parente que não vê há anos e que emigrou para longe, dar a volta a todos estes desejos que nunca pensou poder um dia satisfazer, tudo isso ultrapassa. Mas, e depois?
Passado o período da experimentação, de sensações novas e, por vezes, até antes disso, não é difícil imaginar que começam a surgir os contratempos impensáveis na época das vacas magras. As choramingas dos familiares, vizinhos e mesmo vagamente conhecidos, as propostas de negócios mirabolantes que surgem, sem se perceber bem de onde, deixam a cabeça dos chamados sortudos em bolandas. Mesmo usando óculos escuros, agora de marcas refinadas, saindo de casa de fugida, analisando cuidadosamente quem se encontra nos arredores antes de regressar ao lar, não atendendo o telefone que passou a retinir repetidamente, retirando com enjoo os maços de correio que todos os dias encontra na caixa e que prefere não ler, tudo isso são consequências de ter passado, de um dia para o outro, de pobre a rico.
E os filhos, antes tão dóceis, cumprindo sempre os seus deveres, que deixaram de ser tudo isso e passaram a apresentar exigências?
E a saúde, que tinha sido razoável até então, e de repente, deu mostras de não estar tão segura? A ida frequente aos médicos, o cuidado com exames complicados e caros, a compra excessiva de medicinas que se vão acumulando meio usadas nas prateleiras, o interesse em conhecer especialistas no estrangeiro que anunciam curas aos que podem pagar, tudo isso passa a fazer parte das preocupações dos novos ricos.
Dizia-me uma vez um homem que gozava de grande poder financeiro pessoal que lutava com um grande dilema: que não sabia se as pessoas que o rodeavam e pareciam ser companheiros fiéis, o faziam por serem seus amigos ou simplesmente porque ele era rico. E essa angústia persegui-o sempre, ao ponto de evitar relacionar-se com novos conhecidos. Preferiu o isolamento. Era um infeliz!
Pergunta-se então: onde está a felicidade? Provavelmente naquele que tem a coragem de se desfazer dos excessos de bens. De distribuir pelos que precisam. Mas como em tudo em que entra a mão do Homem, como não é humanamente possível que seja o filantropo, ele próprio, a actuar pessoalmente e a controlar o que pretende distribuir pelos necessitados, tem de confiar em organizações, em grupos que se prestam a cumprir honestamente a missão de repartir. Será que adquirir mantimentos num continente e enviá-los para outro distante, incluir nessa complicada operação múltiplos operadores, não acaba por beneficiar muita gente que não tem a ver com a miséria que se pretende diminuir? E até vai contribuir para encher os bolsos de quem já tem muito?
Por isso, dar, ser generoso, dividir com quem necessita dá trabalho. E preocupação. Se não for assim é um acto apenas de propaganda – porque geralmente essas atitudes são propagadas -, de alguém que não está disposto a ter maçadas. Não tem valor.

sexta-feira, 30 de julho de 2010

CONTENTE

Mesmo sem saber porquê
pois que tal não é preciso
é gostar do que se vê
e mostrar sempre um sorriso
contente,
contente
maravilha estar assim
sempre com ar de festim

Pode parecer doença
coisa física e mental
pois ter alegria intensa
lembra logo carnaval
contente,
contente
todos ao lado a chorar
quem ri a dissimular

Em época de tristeza
mostrar que é diferente
é p’ra já uma proeza
e que se anda a Poente
contente,
contente
será preciso inconsciência
ou deste mundo ausência?

Contente, contente
só com muita aguardente

QUE CONTENTES QUE NÓS ESTAMOS!


ENTÃO NÃO EXISTEM MOTIVOS, nesta altura, para que todos nós portugueses nos sintamos ultra-felizes em face dos acontecimentos que nos acabam de proporcionar razões mais do que suficientes para nos congratularmos com o facto de ter nascido neste torrãozinho pátrio e continuarmos a manter as nossas existências em local tão deslumbrante?
Não põe ser outra a minha opinião momentânea e, em face disso, conforme tenho determinado, interrompo os textos do meu livro “DESENCANTO POR ENQUANTO!...” para dar largas às notícias que, preenchendo agora os muitos espaços da Informação que ocupam os jornais, as rádios e as televisões portuguesas, permitem que os nossos compatriotas sintam que podem agora ufanar-se dos acontecimentos que vão melhorar imensamente as suas vidas.
De facto, pelas ruas fora, nos encontros com os amigos, nas conversas com os vizinhos, nas trocas de opiniões que constituem nesta altura o motivo principal dos telefonemas, não se ouve outra coisa que não seja a demonstração de regozijo que todos nós sentimos com o facto da PT ter solucionado o problema da venda da brasileira VIVO e da compra da também brasileira e igualmente empresa de comunicações telefónicas do País irmão de além Atlântico com um nome muito explícito – “OI”.
Que melhor poderia suceder a todos nós, cidadãos lusitanos, do que essa operação financeira que meteu no bolso da nossa PT qualquer coisa como 350 milhões de euros? Não tem razões José Sócrates para estar eufórico com tal solução e por isso não houve motivo para se justificar o discurso que resolveu fazer aos jornalistas para mostrar vaidosamente como foi deslumbrante a medida tomada através das acções do Estado, denominadas “golden shares”, atitude genial que só poderia sair de uma cabeça tão privilegiada como a do engenheiro primeiro-ministro?
Perante tamanho feito, os cidadãos deste País vão constatar que, a partir desta genial negociação, os impostos vão descer, o desemprego vai ser muito reduzido, a produção nacional atingirá níveis que nunca foram alcançados, as medidas governamentais, como sejam as diminuições visíveis das despesas públicas, entrarão nos eixos, a Justiça passa a ser exercida com eficiência, a educação passa a ser uma zona que vai preparar toda a nossa juventude para um futuro que lhe vai dar muito trabalho, que a burocracia oficial deixará de ser, de uma vez, um empecilho das nossas acções, enfim, não podemos deixar de concordar que esta “milagrosa” medida, tomada com a PT, vai solucionar todos os grandes problemas que o nosso País vem a enfrentar há alguns anos. Esta é uma razão indesmentível que a “festa” que os portugueses estão a fazer é mais do que justificada.
Por isso pergunto: então, perante tamanho feito não deveria eu também dar um ar de alegria ao meu blogue, sempre tão desencantado?
E, para além disso, também surgiu a notícia nos jornais de que essa figura a que só posso chamar de “esquisita”, e que se chama, há dúvidas, José Castelo Branco, convidado para comentar a lista masculina – e qual deveria ser? – dos denominados “sex platina”, considerou Sócrates como “o mais sexy”.
Não há dúvida, não podiam surgir mais motivos para que todos os portugueses se sentissem “ultra-orgulhosos” – como se diz tanto agora – com a benesse de serem naturais desta Terra e terem à frente dos poderes instituídos personalidades de tanto valor como aquela cabeça que chefia o Executivo actual.
Só faltou uma coisa a isto tudo: foi que tivesse sido anunciado, por quem o possa fazer, que o custo das chamadas telefónicas que pagamos no nosso País beneficiam com tanto dinheiro arrecadado pela PT e que, por isso, o seu custo e as condições contratuais que nos são impostas, desde que existe telefone em Portugal, tudo isso vai ser alterado para disposições muito mais favoráveis.
Mas nem pensar!... Os mamões, aqueles que auferem, por mês, por hora, por segundo, fortunas com esses lugares que ocupam, tais personalidades só se riem e quando mudam para outros é apenas para retirarem ainda maiores e mais apetecíveis proveitos.
E isto veio mesmo a calhar numa altura em que a "broca" do caso da Freeport tenha sido “arrumado” para escândalo de toda a gente, situação esta que se equivale a tantas outras que representam, do mesmo modo, o proteccionismo escandaloso que é atribuído àquelas figuras que são sempre resguardadas das leis que devem existir para todos de igual modo, apesar disso, os portugueses não escondem a sua alegria pelo caso que, esse sim, lhes vai trazer grandes benefícios directos.
?

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Faço o possível para ler toda a poesia que me chega às mãos.
A que é publicada e apreciada, pelo menos pelos editores que lhe deram oportunidade de surgir impressa.
Concluo que não tenho sensibilidade suficiente para ser tocado por certos poemas sem métrica, sem rima, conjunto de palavras sem significado à primeira e à segunda vista.
Está muito para lá do meu entendimento.
Ou será que, tal como aquela denominada música, que é só barulho?
Também há poemas que não respeitam o silêncio…

A MALA

Ter sempre a mala pronta para a viagem
não ser apanhado de surpresa,
sem bagagem
com destreza
com a roupa bem arrumada
isso ajuda a não perder a oportunidade
e a jogar essa cartada
não sei se com felicidade
não é fácil encontrar uma boleia
e adiar o que já estava determinado
sem ter nada de especial na ideia
e ficando bastantes assuntos de lado
e seguramente alguma coisa esquecida
não é por aí que se falta ao compromisso
e como não se pode recusar a ida
pois foi o destino que a estabeleceu
não nos competindo a nós alterar
e havendo sempre a esperança de ser o Céu

Não me escondam a mala já fechada
preparada para a viagem que for
basta apenas descer a escada
afastando todo e qualquer pavor
não sei quem irei encontrar à chegada
se será alguém conhecido
que também fez troca de morada
o que causou na altura alarido
que partiu antes e nem se despediu
numa linda tarde de primavera
houve gente que muito sentiu
mas se por mim não há ninguém à espera?

Seja como for a mala está pronta
não é por aí que chego atrasado
e é forçoso levar bem em conta
que não faço isto com completo agrado
nem importa se vou de boa vontade
vou, e pronto!
todo e não metade
meio tonto
é como tantas mais
é outra viagem
todas desiguais

Agora que estou cansado de viver
de aturar uma fatigante malta
só espero não ter de andar a correr
tranquilidade é o que me faz falta

Haja até quem me desfaça a mala
que arrume as roupas em bom local
que me conduza a bonita sala
tudo feito com ar informal
e me indique o local onde vou restar
não sei se será longa a estadia
porque bem preciso de descansar
e não me causará grande alegria
se for o mesmo que passei por cáº
mas seja o que for
onde for
como for
terei sempre presente um oxalá
de que seja muito melhor do que aqui
de onde parto
e de cujo bem-estar sempre descri
por isso fiquei farto
mas de onde, apesar de tudo, levo saudades
das pessoas que me transmitiram amor
aonde fiz algumas amizades
e onde a luta me transmitiu calor
e que, mesmo com desenganos
que ocuparam uma parte da minha vida
houve sempre tempo para planos
até ao dia da partida

Pode ser que um dia
seja eu à espera e a desfazer a mala
de quem terminou a correria
e me caiba a mim conduzir à sala
e a ajudar as malas arrumar
e a acompanhar para o lugar do sossego
a quem tenha chegado a hora de arrimar
e mereça também seu aconchego

Se cá fica algo são papéis
Mas também não valem cinco réis

O DENUNCIANTE


O denunciante pode ter dois pesos e duas medidas. Tanto pode ser observado com a lente da utilidade, como pelo prisma do mau carácter… como chamam os brasileiros.
Se se trata de não deixar que fique impune um crime, sobretudo se inculpa injustamente gente inocente, nesse caso a ajuda da descoberta da verdade só pode merecer louvores. Se diz respeito a uma criança que, sem se poder defender, é, por exemplo, vítima da prática de pedofilia, dessa aviltante atitude doentia que, infelizmente, vem desde que o homem é homem, então, quem tem conhecimento desses factos tem o dever de não ficar calado.
Agora, os outros, aqueles que denunciam pelo prazer mórbido da perseguição do próximo, pagos ou não por isso, são movidos geralmente por razões de inveja dos que têm mais do que eles Tais gentes são merecedoras de desprezo, de mudança de passeio quando são cruzados na rua.
Os denunciantes de má memória, aqueles que eram sustentados pela antiga PIDE para indicarem cidadãos que não aceitavam o regime totalitário que existia em Portugal, tais “informadores”, como eram apelidados, praticavam um acto abominável. E, ainda por cima, a recompensa que lhes era atribuída era insignificante, dizem os que sabem dessas coisas.
Ainda se moverá por aí, mesmo com a idade já a pesar-lhes, se é que não se passaram ainda para o outro mundo, gente que tem a pesar-lhes na consciência o mal que praticaram, por muito que se tenham diluído na população em geral. Porteiros de prédios, empregados de certos cafés, restaurantes, hotéis, dos transportes públicos e detentores de outras profissões que mantinham um razoável relacionamento com o público, eram esses os preferidos da polícia política.,
Quem atravessava a vida a observar e a escutar o que se passava à sua volta, para depois preencher os relatórios que tinham como finalidade levar à cadeia, primeiro na António Maria Cardoso e, de seguida, no Aljube e noutras masmorras existentes para esse fim os que não aceitavam a situação política que era imposta, quem foi capaz de aderir a tal procedimento, se ainda for vivo andará provavelmente com a consciência a pesar-lhe.
Andará, de facto?

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Eu não tenho ilusões. Nós somos assim, vivemos num deixa andar, num “logo se verá” permanente.
No “há tempo”. Já me referi a isso noutro texto por aí algures.
Por isso, fico-me pela imaginação da época da minha infância.
Desse acompanhar a par e passo, riscando no mapa, a evolução das tropas que se enfrentavam na II Guerra Mundial
Não me apetece pôr-me noutro lugar. E tenho pena.

A CHUVA

A chuva molha a cidade
Fica mais triste, escurece
É duro, mas é verdade
É assim, quando aparece

Tocada a vento, então,
Mais agreste fica ainda
Nela o Homem não tem mão
Mas por vezes é bem vinda

Sim, há gente que a deseja
Que tanto implora por ela
É o pão da sua boca

Ela é sua benfazeja
Desponta como uma estrela
Toda a chuva será pouca

DESENCANTO POR ENQUANTO!...


Os políticos. Quem não os topa? E são de duas classe: os que entendem em pleno o que é a Democracia e, com essa forma de actuar, são mais susceptíveis de respeitar a vontade da maioria dos eleitores, o que também representa uma maior fragilidade na manutenção dos lugares que ocupam, e os que se mostram indiferentes a regras democráticas, embora, por estarem inseridos nesse regime, se esquivem quanto podem a escutar a vox popoli, seja qual for a forma dela ser expressa. Isto, num resumo sem outras pretensões.
Dos regimes ditatoriais, nem tem cabimento nesta singela observação fazer qualquer abordagem.
Mas, quando é no âmbito das liberdades que se observa o comportamento de um político que se encontre no poder, em tal situação é incompreensível que surjam, com mais frequência do que se pode pensar, políticos que utilizam todos os meios ao seu alcance para praticarem o chamado abuso do poder. Ou seja, o utilizarem indevidamente meios que, moral e politicamente não lhes estão atribuídos, como sejam o uso de “mordomias” para si e para familiares e amigos, como é o caso de automóveis, viagens, etc. que só se devem destinar aos inerentes detentores dos cargos e quando se encontram em serviço oficial.
Este desabafo parece não vir a propósito de nada. Para mim, sim. É que, ao ler as notícias de hoje, deparei com fanfarronadas proferidas por um responsável político de uma zona do País, um que, conseguindo sempre obter vantagens nas eleições a que tem de ser sujeito, mesmo assim não perde nunca a ocasião de marcar o seu separatismo ideológico em relação ao todo nacional. E o País assiste ao espectáculo que essa personagem arrogantemente dá, ouve e cala. Parece que tem medo!..

terça-feira, 27 de julho de 2010

QUANTAS COISAS QUERIA FAZER

O que pela vida ficou por fazer
não tem conto
para trás ficaram várias coisas
com que sonhei
desejei
muito ambicionei
mas nem sequer foram começadas
ficaram pelo meio
ou não chegaram ao fim
os amigos que tive
e já morreram
os que perdi, porque deixei de os ver
os sonhos que me envolveram
e que de manhã se esvaíram
os mistérios que não cheguei a sondar
ou que os quis descobrir mas não fui capaz
as mentiras que disse
quase todas caridosas
outras não
e que quis emendar e não consegui
os defeitos que fui mantendo
e que não encontrei a forma
de emendar
várias coisas de que me arrependo
e que não fui a tempo de
dar a volta
tudo isso e muito mais
que me faz pensar
sendo já tarde para resolver
aqui deixo como prova
de arrependimento

Mas outras coisas que queria fazer
não foram motivo de tristeza
antes de beleza
grandeza
firmeza
pois satisfizeram
se não no total
pelos menos em grande parte
já que
se faltou o génio
o trabalho compensou
o suor dispendido
trouxe resultados

TAP/IBERIA


PEÇO desculpa por voltar, excepcionalmente, a um tema de crítica que eu, há alguns dias, pus de parte para me dedicar apenas ao meu DESENCANTO POR ENQUANTO.
Mas vou ser rápido, embora o tema não seja novo para mim, pois há bastante anos que eu levanto a questão, mesmo muito antes da crise, de se tirar maior proveito com o que custa caríssimo ao erário público e que não obtém os resultados que se devem exigir para interesse nacional.
Trata-se agora da notícia e que a TAP atravessa um período de grandes dificuldades financeiras e que, como está a suceder por toda a parte em Portugal, não se sabe como solucionar esse problema.
É evidente que a minha tese bate sempre na mesma tecla. AQ de nos unirmos aos nossos parceiros ibéricos, com o objectivo de sairmos ambos a ganhar. E essa minha defesa da junção da TAP e da IBERIA numa companhia que juntasse até os dois nomes, por exemplo TAT/IBERIA, e em que os enormes gastos que se dispensem por todo o mundo, com as delegações e os escritórios abertos onde as companhias chegam, se poderiam reunir numa só representação, assim como os balcões que se encarregam da propaganda turística de ambos os países deveriam figurar nos mesmo locais das companhias aéreas, não ficando mesmo por aqui a junção de actividades que não se afastam assim tanto dos outros dois objectivos e que são os escritórios que, no nosso caso, se chama agora AICEP (antes apenas ICEP, sem se entender o motivo de tal mudança, a menos que tenha sido por invenção de um desses cérebros que há por aí e que não são capazes de ter ideias positivas), pelo que, Portugal e Espanha, ambos países interessados em propagar as visitas de turistas estrangeiros a esta Península que está junta, tirariam todo o partido em fazer a divulgação dos produtos de origem ibérica, em mostrar-lhes a forma de chegar por via aérea e, dessa forma, também referir-lhes as belezas do turismo da Península mais a ocidente da Europa.
Então não seria, com os devidos funcionários das duas línguas, uma maneira de economizar milhões de euros por ano e, ao mesmo tempo, efectuarem um trabalho proveitoso, sendo que, para optarem por uma companhia aérea ou por outra, desde que ambas estivessem unidas em função comercial e até associativa, não existiria o espírito da competição, dado que as duas trabalhavam para o mesmo.
Claro que um ideia destas merece um estudo profundo para que não se cometam erros práticos, mas este exemplo constituiria uma amostra de que o abraço de interesses que venha a ser feito um dia – disso não tenham a menor dúvida aqueles que continuam agarrados ao caduco “albarrutismo”, que não têm já ponta por onde se lhe pegue e que os portugueses. cada vez mais atordoados com as dificuldades que são obrigados a enfrentar, da mesma maneira que os vizinhos espanhóis, também eles a serem vítimas da crise que ataca por todos os lados, aceitariam como porta de saída do que já chega como sacrifício dos cidadãos.
Desde 1962 que, em coluna semanal que saia no velho “Jornal do Comércio”, com o título “Campanha para uma aproximação económica luso-espanhola”, que foi depois proibida pela Censura da época, luto pela união produtiva do bloco formado por esta Península que, se pertencesse a uma dos países europeus que está encafuada no meio do Continente, há muitos anos que impunha a sua presença e tirava os benefícios daí resultantes.
Vejam lá se a França, a Alemanha e até a Inglaterra apoiaram algum vez, ao longo da História essa união e não arranjaram consecutivamente enredos para que o entendimento ibérico nunca se efectuasse!

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Faço o possível para ler toda a poesia que me chega às mãos.
A que é publicada e apreciada, pelo menos pelos editores que lhe deram oportunidade de surgir impressa.
Concluo que não tenho sensibilidade suficiente para ser tocado por certos poemas sem métrica, sem rima, conjunto de palavras sem significado à primeira e à segunda vista.
Está muito para lá do meu entendimento.
Ou será que, tal como aquela denominada música, que é só barulho?
Também há poemas que não respeitam o silêncio…

A CHUVA

DESENCANTO POR ENQUANTO!...


Os políticos. Quem não os topa? E são de duas classe: os que entendem em pleno o que é a Democracia e, com essa forma de actuar, são mais susceptíveis de respeitar a vontade da maioria dos eleitores, o que também representa uma maior fragilidade na manutenção dos lugares que ocupam, e os que se mostram indiferentes a regras democráticas, embora, por estarem inseridos nesse regime, se esquivem quanto podem a escutar a vox popoli, seja qual for a forma dela ser expressa. Isto, num resumo sem outras pretensões.
Dos regimes ditatoriais, nem tem cabimento nesta singela observação fazer qualquer abordagem.
Mas, quando é no âmbito das liberdades que se observa o comportamento de um político que se encontre no poder, em tal situação é incompreensível que surjam, com mais frequência do que se pode pensar, políticos que utilizam todos os meios ao seu alcance para praticarem o chamado abuso do poder. Ou seja, o utilizarem indevidamente meios que, moral e politicamente não lhes estão atribuídos, como sejam o uso de “mordomias” para si e para familiares e amigos, como é o caso de automóveis, viagens, etc. que só se devem destinar aos inerentes detentores dos cargos e quando se encontram em serviço oficial.
Este desabafo parece não vir a propósito de nada. Para mim, sim. É que, ao ler as notícias de hoje, deparei com fanfarronadas proferidas por um responsável político de uma zona do País, um que, conseguindo sempre obter vantagens nas eleições a que tem de ser sujeito, mesmo assim não perde nunca a ocasião de marcar o seu separatismo ideológico em relação ao todo nacional. E o País assiste ao espectáculo que essa personagem arrogantemente dá, ouve e cala. Parece que tem medo!..

domingo, 25 de julho de 2010

Quando reflicto sobre tudo aquilo que ouvi
ao longo de toda a minha existência,
descubro que foi apenas uma pequena percentagem
que contribuiu para aumentar positivamente os meus conhecimentos.
Não sei se valeu a pena perder tanto tempo para ganhar tão pouco.

A LIÇÃO

Pode-se perder tudo nesta vida
O amor, a saúde, a amizade,
O dinheiro, o trabalho, a guarida,
O norte e até a liberdade

Pode ficar bastante p’lo caminho
Não se conseguir levar nada avante
Perder até sossego do vizinho
Ficar parado, não ir adiante

Tudo isso nos pode acontecer
Nunca ganhar e somente perder
Como se passa com que tem má mão

Mas se assim for pode tirar proveito
E lembrar-se sempre de um conceito
Se perder tudo, não perca a lição

DESENCANTO POR ENQUANTO!


Isto de viver é também um hábito. Com a idade vamo-nos acostumando. Contrariados, muitas vezes, demasiadas, mas suportando o que o dia-a-dia nos reserva. Mas a esperança em alguma coisa de favorável, que valha a pena, a ânsia de que certos desejos se realizem, uma réstia de confiança em nós próprios, uma certa dose de optimismo dentro das dúvidas que sempre nos acompanham, tudo isso resiste à tentação de desistir, de não lutar pela mudança e o conformismo com o que temos e o aceitar-se que não vale a pena qualquer tentativa de contrariar o que se aceita resignadamente por ter sido marcado pelo destino, tudo isso é a sombra que nos faz companhia até ao resto da vida.
Porém, e felizmente, não será este o comportamento de todo o habitante do Globo. Há os que lutam, os que se arreganham, aqueles que teimam em não aceitar e também não desistem. Mantêm as paixões. Igualmente são os que se confrontam com mais desilusões, os que sofrem as consequências da sua rebeldia. Os que nunca se habituam ao que lhes calhou na rifa.
Os grandes gestos, as espectaculares descobertas, as obras de nomeada, todos os actos que ficam e ficaram marcadas historicamente resultam, quase sempre, de atitudes saídas da mediania, de passos dados fora dos hábitos. Foram exactamente aqueles que não se conformaram que apresentaram resultados. E, algumas vezes que isso sucedeu no passado, foi paga com a vida a ousadia de terem saltado da carruagem do tido como correcto.
De entre os que não se aclimatam ao hábito de viver acomodados aos contornos do comportamento tido como recomendável, há os que dão nas vistas, que se movimentam, que mostram o seu desconforto, que atiram abertamente ao mundo as culpas de os não deixarem dar mostras do que entendem ser uma revolução para melhor do que é seguido obedientemente, e esses, ou acabam por ser ouvidos ou são escorraçados do meio em que se situam. E há os outros, os que não se dispõem a lutar na praça pública, os que não conseguem ter voz bastante para serem ouvidos, os que consideram que o ambiente que os rodeia não merece o esforço de tentar convencer e são esses, os que, em muitas ocasiões, só são descobertos muito mais tarde, geralmente depois do seu passamento, e nunca chegam a ver compensado o esforço que vão dispersando pela vida fora.
Os exemplos dos dois casos não são assim tão raros. E a verdade é que, por esse mundo além, sabe-se lá quantos génios se terão perdido, terão passado despercebidos, terão percorrido a vida sem o menor louvor ou reconhecimento.
No fundo, o Homem tem de ser, acima de tudo, atrevido. O seu valor conta muito, como é óbvio. Mas é a sua ânsia de saliência, a força dos seus cotovelos para afastar os que lhe fazem sombra, o não ter medo de se expor e a ausência de consciência das suas próprias limitações, tudo isso ajuda a sobressair dos tímidos e a ir ganhando suportes de outros humanos que acabam por ter inveja dessas características de líder… não de mais sabedor.
Na política, sobretudo aí, é que se encontram os que se sobressaem. Não são geralmente os melhores a exercer os seus saberes, mas são os que mais facilmente se adaptam às características da via que escolheram Tiram daí proveito. É uma injustiça, pois é. Mas é assim…

sábado, 24 de julho de 2010

A fila ao lado daquela em que nos encontramos anda sempre mais depressa, mas não adianta mudar porque, logo a seguir, acontece exactamente o contrário.
Chama-se a isso andar desencontrado com a vida.

SE

Sempre que algo queremos
e fazer não conseguimos
o primeiro que dizemos
e nisso muito insistimos
é esse pronome útil
que é sinal de precaução
e não sendo nada fútil
é o que está mais à mão

Se eu puder não faltarei
é a garantia dada
por quem do que diz faz lei
mesmo com boca fechada
se me sair a taluda
farei isso de seguida
e não preciso de ajuda
depois o se que decida

Se eu tivesse saúde
já veriam a genica
e a veloz atitude
do que nunca abdica
e se eu chegar atrasado
façam favor d’esperar
esse se é um malvado
provoca o desesperar

Ah, se isto e aquilo
sempre se a qualquer jeito
ninguém fica tranquilo
considera-o suspeito
é do Homem a desculpa
para não ficar mal visto
e não quer p’ra si a culpa
imitando a Jesus Cristo

DESENCANTO POR ENQUANTO!


É dos comportamentos mais difíceis de manter no dia-a-dia do ser humano. A compreensão das atitudes dos outros, o respeito pela maneira como cada um reage aos problemas que se lhe apresentam, o tentarmo-nos pôr no lugar dos parceiros para tomarmos consciência do papel que cada um desempenha perante uma situação concreta, essa é a tolerância que, com grande frequência, se constata que falta ao Homem, seja qual for a posição social que ocupe no panorama em que está inserido.
E, sem ser por acaso, quanto mais alta é a craveira em que o Homem se movimenta, mais destacada é a demonstração de intolerância de que dá mostras ao mundo que o rodeia.
Os políticos, por certo nos regimes democráticos – porque nos outros nem será necessário referir – são os que mais se sobressaem na escala da não-aceitação das posições dos outros seus adversários, pois o papel que representam nas sociedades obrigam-nos a contemplar esses como sendo uns sem razão, uns inimigos que é preciso abater. Aí, a tolerância não tem lugar e nem se verifica qualquer esforço em se posicionarem do outro lado da barreira.
No fundo, a luta do Homem por lugares e posições que lhe possibilitam regalias e benesses, essa ambição, sobrenatural quando é desmedida, se entra no campo do “custe o que custar” não permite que seja efectuada uma paragem para reflectir, para serem encontradas formas de entendimento resultantes da compreensão mútua dos seus papeis.
Se a tolerância fizesse parte da relação de atitudes mais usuais, quantas indisposições seriam travadas a meio, quantas zangas não passariam de breves questiúnculas, até quantas guerras sangrentas que ocorreram pelo mundo não teriam ficado em soluções pacíficas por acordos.
A tolerância tem a ver e muito com a prática democrática. O não ter certezas absolutas, o procurar-se encontrar razões aceitáveis do lado a que nos opomos, o ser-se suficientemente humilde para reconhecer os eventuais enganos em que tenhamos caído, essa atitude de “dar a mão à palmatória” só contribui para que alinhemos na prática de não fazermos finca-pé naquilo que consideramos ser a “verdade absoluta”.
Dito tudo isto, vem-me à ideia um desabafo que alguém me largou uma vez, quando se falou acerca de outro que não tinha tido um comportamento muito recomendável. E, em forma de arrependimento, deixou registada esta frase de que não me esqueci durante largo tempo: “Pois é, eu fui tolerante com esse fulano… e bem me lixei!...”



sexta-feira, 23 de julho de 2010

Ter um sonho e caminhar pela vida tentando transformá-lo em realidade é, só por si, uma justificação para se existir
Ao menos que esse sonho não se desfaça antes de chegarmos ao fim do corredor do nosso percurso.

A HUMILDADE

Reconhecer o que somos
não tanto como julgamos
hoje tal qual como fomos
é sinal de que estamos
conscientes da verdade
sem pensar em exageros
aceitar realidade
não entrando em desesperos
isso é a humildade
que só permite o pensar
que é sempre a igualdade
a abrir portas p’r amar

Dos outros não sermos mais
é dos cidadãos dever
se somos todos iguais
em vida e até morrer
só a sorte e circunstâncias
permitem nossos caminhos
não há lugar p’rarrogâncias
onde só cabem carinhos
ignorância aceitar
de que os outros saber menos
é humildade abraçar
à vaidade só acenos

Se eu ser humilde propago
gritando aos quatro ventos
a própria humildade estrago
entrando nos fingimentos
para se ser bem sincero
tenho qu’acreditar bem fundo
sem cair no exagero
de não haver neste mundo
quem seja senhor total
da ciência e do poder
e que atinja o ideal
em tudo que é o saber

DESENCANTO POR ENQUANTO!


Levantei-me hoje com a disposição de encarar o mundo com pleno optimismo. Desejo ver tudo cor-de-rosa. E até o fala-barato do café, que diz coisas por tudo e por nada, sempre em voz gritante que amachuca os ouvidos de quem está calmamente a fazer as suas palavras cruzadas, até essa criatura me merece simpatia.
Tenho de ir ver o resultado do totoloto e, antes de me dirigir à tabacaria onde a máquina mostra o veredicto, já estou com fé de que vai ser esta semana que vou ser compensado do investimento semanal que faço desde há demasiado tempo. A empregada, simpática, que me atende, também ela tem esperança de que seja bafejado pelo prémio, porque conta com uma ajuda para mudar o carro velho que tem. E eu alimento esse desejo.
Enquanto, pois, vou mantendo este optimismo em relação à vida, procuro conservá-lo o mais que posso. Dou o benefício da dúvida aos governantes, sou compreensivo com as oposições políticas que barafustam, tantas vezes com razão, aceito que não se consiga equiparar o nosso País ao que se passa fora de portas, mas dentro do mesmo grupo europeu, quando, muitas vezes, bastava saber imitar o que já foi experimentado e resultou e não era necessário querer ser original e fazendo asneira, como desculpo todos os meus compatriotas que não entenderam ainda que um País é o retrato dos seus habitantes e que depende sobretudo da forma como se comportam para que se consiga sair do deixa andar, do conformismo, da pouca e má produtividade.
Este optimismo com que acordei hoje, por mais que eu não queira, não vai durar muito. Acabarei por ser chamado à realidade e o despertar é muito mais doloroso do que o nunca ter saído da tristeza que se sente com a realidade. Que se vive. Mas, enquanto dura…vida doçura.




quinta-feira, 22 de julho de 2010

É mais útil dizer tudo o que se pensa
ou será preferível pensar tudo antes de falar, mesmo correndo o risco de, por esse facto, acabar por fica calado?

SÓ EU

Cada um tem o seu eu
aquele que é só seu
claro que tenho o meu
fui vendo como cresceu
sempre que olhava p’ro céu
me lembrava de Orpheu
sentindo-me como réu
qu’ainda não respondeu

Eu que sou um plebeu
e nem isso mereceu
não irei p’ra mausoléu
quando disserem: morreu!
Aquele que se esqueceu
do que lhe aconteceu
na vida que percorreu
nem mesmo ensandeceu

Até teve o que mereceu
com isso reacendeu
a chama a quem jazeu
o folgo que antes perdeu
e a mim me convenceu
tudo que me sucedeu
e que fez com que o meu eu
deixasse de ser só meu

E foi o que me valeu
a vida m’entristeceu
o espectáculo que me deu
em que não me protegeu
pois nunca reconheceu
o que de mim discorreu
ou seja de nada valeu
tudo o que de mim nasceu

Por isso s’emurcheceu
a veia que em mim viveu

DESENCANTO POR ENQUANTO!...


Oiço frequentemente e leio também muitas vezes este tema. O do esvaziamento de muitas aldeias do interior do nosso País. A juventude foi saindo para outros destinos mais dinâmicos, para o litoral português, para cidades e até para o estrangeiro. Ficaram somente os velhos. Porque esses, ainda que sem perspectivas e ao mesmo tempo não tendo para onde ir nem prazer em deixar os locais onde nasceram, viveram e ainda vivem há um ror de anos, preferem o desconforto ao modernismo comodista. Já não têm idade para aventuras.
Viver com o cheiro da vaca e do burro que sai do andar térreo, ir às folhas para alimentar os coelhos, espalhar milho pelo galo e pelas poedeiras, acender à noite o candeeiro de petróleo – porque a electricidade, largamente prometida, pelos políticos, ainda não chegou -, o recolher com as galinhas e usar o colchão ali pertinho da fornalha, isso depois de ter sorvido o caldo das couves que foi preparado para todo o dia, atravessar assim uma existência é uma rotina de dezenas de anos que os novos não entendem nem aceitam já o que para os idosos constitui a felicidade do sossego.
Então os computadores? As novelas da televisão? Os filmes? Os telemóveis e a sua dependência? As discotecas? Quase tudo isso não faz parte da existência nas profundezas do interior do País. Se bem que haja forma de substituir algumas facilidades que a modernidade permite, o isolamento deixa os jovens noutro mundo. Mesmo os que ainda conseguiram apanhar as escolas primárias em funcionamento, desaparecidas muitas delas hoje por insuficiência de alunos, logo que lhes foi posta a questão de seguir para o ensino secundário, aí não existia outra forma que não fosse o partir para a cidade, a quilómetros de distância, onde essa via de aprendizagem existisse. No caso seguinte, o da possibilidade de prosseguir o estudo num curso superior, então aí o afastamento era o caminho certo. Era e foi. Ficou instituída a desertificação.
Mas houve outras razões para deixar para trás a terra dos avós. A emigração, que teve início em épocas bem difíceis, que era “a salto” que se chegava à Europa, ou através de carta de chamada de parentes que já se encontravam nas Américas. Para a África de língua portuguesa era mais fácil obter autorização de partida.
Essas saídas do País, primeiro o homem e depois a cara-metade, que os filhos, quando já os havia, seguiam posteriormente, tais deslocações eram feitas na perseguição de sobrevivências melhores do que as tidas na própria Pátria. Os idosos, cheios de saudades, permaneciam onde sempre tinham estado. Cuidando das terras de que ficavam ainda donos, dos bichos e das casas de pedra que, por serem disso mesmo, resistiam ao passar dos anos.
De vez em quando, já estabelecidos lá fora, numas férias lá vinham todos ver como estavam as coisas. E as divisas, que iam enviando regularmente, acumulavam-se para construir casas novas, normalmente num estilo “emigrantino”.
Só que os filhos, especialmente os nascidos já lá fora, bastante integrados nas colónias dos países de acolhimento, falando com os colegas as línguas adoptivas, embora mantendo o idioma pátrio no relacionamento com os pais, foram espacejando, cada vez mais, as visitas ao torrão de origem familiar. Era o desenraizamento da nascença e, com isso, o esvaziamento do interior lusitano.
Como evitar tamanho emagrecimento populacional de um País? Pelo contrário, o que se encontra a rebentar pelas costuras de população, de viaturas, de competição de todos os tipos, são o litoral e as cidades portuguesas, pois são locais que sofrem do excesso. O resto, o que é constituído pelas belas e características terras do interior, quase sempre com deficientes meios de comunicação, essa mancha cada vez mais profusa de povoações, vai sofrendo as agruras do abandono..
Que fazer? É impensável obrigar a deslocar gente de um lugar para outro, assim sem mais. Não se criando condições de progresso que altere o estilo de vida para muito melhor, sem proporcionar trabalho e alojamento que sejam apetecíveis, ninguém está disposto a meter-se em aventuras. Para o estrangeiro, isso é uma coisa tentadora, por muito arriscado que se torne partir para o desconhecido. Mas, cá dentro, do litoral para o interior, das cidades para os campos, sem ser em passeio, isso será pedir muito. Ninguém está disposto.
É verdade que já se operou a experiência de instigar a vinda de grupos de brasileiros para ocuparem uma povoação esvaziada de portugueses que lá viviam antes. Tratou-se de mão-de-obra que era necessária naquele local, muito embora a qualificação das famílias que chegaram fosse superior à dos portugueses que lá viviam antes. Não se apurou ainda se esta experiência poderá proliferar. Seja como for, o que não se pode esconder é este tipo de casais emigrantes deseja, tal como lhes sucede nos seus países de origem, aumentar as suas famílias, o que quer dizer que, sendo a Europa um Continente apetecido, irá suceder que, dentro de alguns anos, de Oeste a Leste europeu se dará um câmbio de grande dimensão de raças, culturas, religiões e, o que não é importante, de cores de pele.
Quem cá estiver terá de enfrentar tamanho problema. Eu já não serei certamente.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Chamar a atenção para situações que dão mostras de estar mal resolvidas, não se deve considerar crítica maldosa.
Antes podem contribuir para encontrar melhores soluções:
Felizes os que aceitam reparos construtivos. E os agradecem, seguindo-os.
Pobres, os que só apreciam as louvaminhas, sobretudo as que são facilitadas com intenções secundárias.
Louvores que esperam contrapartidas.

HÁBITOS

O hábito é fazer sempre igual
repetir o conhecido
o homem, tal ser mortal
perde por vezes sentido
e o não ter que inventar
mudar de jeito e de forma
até dá para descansar
e com isso se conforma

O hábito faz o monge
diz o popular ditado
que já vem de muito longe
o dia em que foi criado
p’ra quê hábito mudar
se aquilo que vestir
é que parece indicar
a forma de seduzir

Há hábitos que são bons
e outros que são bem maus
tal e qual como os sons
que têm diferentes graus
eu costumo fazer isto
a isso não me acostumo
actuar como previsto
é um vício como o fumo

Assim é que me dá jeito
não me obriguem a mudar
não pretendo ser perfeito
só para a’lguém agradar
o seguir por um caminho
que eu há muito conheço
como cantar um fadinho
e conseguir o sucesso

DESENCANTO POR ENQUANTO!...


Há períodos em que pensamos mais nas doenças. Porque no sentimos mais debilitados. Porque a angústia se revela mais profundamente no nosso interior. Também será porque tomamos conhecimento de que alguém conhecido entrou em crise de saúde. Julgo que grande parte dos seres humanos passa por estes períodos, ainda que alguns tomem mais consciência dessa situação do que outros.
Eu, nesta altura, encontro-me num desses momentos. Sinto-me debilitado e não aponto concretamente um mal. Se vou consultar a minha querida dra. Arlete não sei do que me posso queixar. Apetecia-me ser rico e dar entrada num desses hospitais para abastados, onde, à entrada, se deve pedir para verem tudo à lupa. Passar lá uns dias, fazer análises, investigações radiológicas de todas as espécies, deixar que os médicos de várias especialidades e com todos os avanços tecnológicos mais modernos bisbilhotem cada cantinho do meu corpo.
Caso concluíssem que não tinham encontrado nada errado no meu físico, poder eu então concluir com toda a segurança que, afinal, a doença estava no meu espírito. E, nesse caso, entregar-me completamente a uma qualquer crença, religiosa ou nem por isso, para tentar distrair as maleitas que me perseguem.
Se eu vivesse angustiado pelo pavor da morte, ainda se compreenderia que, por sugestão, eu andasse atormentado por fraquezas físicas, mas não, atingida que já está esta minha idade, estou convencido de que já preenchi o meu papel no teatro da vida e que o acto que se segue tem de ocupar outros actores. Estou completamente preparado para a cremação que me espera. Estou consciente de que as minhas cinzas caberão todas dentro de um frasco de compota. E que é isso que eu, afinal, valho…
Porque, então, ter de carregar este pesado fardo do mal-estar sem uma explicação clínica?
Para tentar consolar-me sem resposta a esta questão, agarro-me à esperança de que, uma manhã, acordarei já morto. Fica dito.



terça-feira, 20 de julho de 2010

Se eu olho e não vejo, se eu oiço e não entendo, se toco e não apalpo, o que é que ando cá a fazer neste mundo?

A CONSCIÊNCIA

Será que isso é vulgar
que obriga a grande ciência
para neste mundo andar
pôr de parte a consciência?
Não tê-la sempre presente
até sem mostrar p’ra fora
é não querer ser prudente
falhando na própria hora

Ser consciente dos actos
antes de os praticar
evitando espalhafatos
que possam embaraçar
esse é princípio ideal
que muito ajuda a viver
e evita muito mal
impedindo de sofrer

Mas então a consciência
é coisa que se explique?
É mais do que uma tendência
mas de que não se abdique
é a forma de pensar
ver a fundo consequência
e não tem de hesitar
se é boa a consciência

De consciência limpa andar
não ter de se arrepender
é bom caminho traçar
sem ter nada que temer
dizendo sempre as verdades
próximo não enganar
só provoca amizades
andar perto do amar

Dizer mal sem ter razão
acusar sem prova ter
é desdenhar o perdão
que se merece ao morrer
tudo está nas nossas mãos
na nossa própria inocência
querermo-nos como irmãos
só com boa consciência

DESENCANTO POR ENQUANTO!...


Mesmo que se teime no princípio de que o Homem é imutável, que se mantém igual desde que tem o carácter formado e vai percorrendo toda a sua existência até ao último dia sem alterações desse mesmo carácter, essa afirmação não tem base sustentável. No que diz respeito à generalidade dos seres humanos são as alegrias e as tristezas que provocam mutações na sua forma de ser original. Umas e outras actuam como bálsamo ou veneno.
Ninguém se cria a si próprio. Todos aparecemos feitos. Por dentro e por fora. O interesse pelo saber e o desenvolvimento da cultura cria, na verdade, camadas de tecido que se cola à forma original. O que está por baixo vem do começo, embora possa ser disfarçado, com o andar dos anos, devido às carapaças que se vão sobrepondo.
Ora, são essas roupagens suplementares que vão mudando as formas de ser do Homem e tais acréscimos tanto podem resultar do que a vida ensina como do que se obtém com a leitura e também em grande escala, resulta de um factor que não obedece à vontade própria: a sorte.
O sair a lotaria, por exemplo, a quem atravessa a vida lutando com dificuldades tem, forçosamente, que provocar alguma alteração comportamental no indivíduo bafejado por essa dita. Não tem de ser sempre para uma melhoria do chamado feitio. Pode até ocorrer o contrário mas, seja como for, o que é certo é que se verifica uma mudança. Já a inversa, o perder uma fortuna repentinamente, passando a ter fome quem antes vivia na abastança, tal situação ocasiona, de uma forma, maior aceitação por parte dos atingidos. Aí, não foi a sorte que interferiu, foi a falta dela. Ou de outra coisa, como aquela que se chama de má cabeça.
Seja como for, o ser humano vai-se modificando com o andar dos anos. Vai refinando os maus sentimentos existentes de origem, aguça a malandragem que transporta no seu íntimo, fica pior do que era. Raramente se mantém igual a antes. Mas o contrário, o passar de ruim a boa pessoa, como se chama vulgarmente, ser tratável quem anteriormente ninguém suportava, perder o azedume habitual de outros momentos, diminuir o envinagramento, tudo isso não é tão vulgar. Mas também acontece.
Há excepções? Pois há. Qualquer regra não tem obrigatoriamente que ser cumprida pela generalidade das pessoas. O disfarce é uma grande defesa do Homem.
Para tentar mostrar aquilo que não é. Para não se desnudar perante o mundo. São as subtilezas do ser humano.


segunda-feira, 19 de julho de 2010

Ter um sonho e caminhar pela vida tentando transformá-lo em realidade é, só por si, uma justificação para se existir
Ao menos que esse sonho não se desfaça antes de chegarmos ao fim do corredor do nosso percurso.

MENTIR

Mentir
´e um acto necessário
para atrair
convencer adversário
o mentiroso
é fácil de detectar
com o seu falar meloso
está pronto para enganar

Mentir
não é tão difícil assim
repetir
mesmo tim-tim-por-tim-tim
algo que a outro se ouvir
e sem saber se é verdade
com outras cores colorir
e introduzindo maldade

Mentir
é para alguns um prazer
coisa gira
mesmo fazendo sofrer
começa por um acaso
e se pega continua
pode ter um curto prazo
não passar da sua rua
lá vai abrindo caminho
e com tal expansão
causa certo burburinho

O pior é se a mentira
se pega bem à memória
e mesmo que alguém fira
atravessa a História
e muitos anos mais tarde
como facto consumado
faz as vezes da verdade
e ninguém a põe de lado

DESENCANTO POR ENQUANTO!...


Todos os anos sucede o mesmo. Não constitui qualquer surpresa constatar que são muitos os hectares de propriedades que ardem por esse País fora, restando apenas apurar os números para saber se a época que corre é pior do que a que passou. E contentamo-nos quando se verifica alguma baixa de valores consumidos, registando essa melhoria, por pequena que seja, como demonstração de que os incendiários foram mais benevolentes agora do que no mesmo período do ano anterior.
Também, perante iguais catástrofes que ocorrem noutros países, damo-nos por satisfeitos sempre que os elementos apurados se apresentam por lá mais drásticos do que aqueles que são aqui anunciados. E respiramos de satisfação.
No entanto, vale a pena pararmos um pouco para pensar nas características daqueles que são os causadores criminosos dos fogos que provocam as destruições de valores, campesinos ou até de residências, que se repetem de ano para ano. Quem e como serão essas criaturas? São gente nova, diz-se, alguns são até apanhados mas, de uma forma geral, não são divulgados os perfis de tais incendiários. E continua-se sem ter uma ideia do tipo de pessoas que se dedica a tamanha malfeitoria.
Já tenho procurado colocar-me na mente de tais arrepiantes criaturas, tentando apanhar as sensações do prazer que poderão sentir no momento em que se encontram a provocar o foco inicial do incêndio que se há-de estender pelo campo fora. Terá de ser forçosamente de noite, para não ser notada a presença, logo em plena escuridão. E, em tais circunstâncias, iria assistir ao alargamento rápido das labaredas que tinham nascido de um simples fósforo que aterá as folhagens secas. E, logo de seguida, a imaginação mandar-me-ia abandonar o local, indo-me colocar numa zona de observação para satisfazer a contemplação da obra executada. Mas sempre cuidando para não ser visto. Sendo possível, faço por repetir a operação a certa distância e em que a linha da zona a incendiar seja contínua, por forma a criar uma fronteira de fogo.
Que prazer que isso me daria! E, na manhã seguinte iria assistir à azáfama de centenas de bombeiros, às aflições e choros de habitantes a verem as suas propriedades já a arder ou em perigo de serem atingidas e despejando baldes de água como se isso servisse para resolver o problema, ao mesmo tempo que o ruído das sirenes e até a minha própria participação na ajuda da tentativa de extinção, tudo isso serviria para aumentar o cenário do grande e impressionante espectáculo de que eu tinha sido o produtor.
Mas, saindo de cena, deixando de me pertencer o papel de protagonista, coloco-me agora no lugar de puro espectador, tentando interpretar os sentimentos dos actores, sobretudo daqueles cujos papeis são os de maior relevo, como sejam os incendiários propriamente ditos. E, como admito que se tratam de jovens que ainda se situam na fase experimental de vida (porque os casos de vinganças e confrontos pertencem aos mais velhos executarem), imagino que é o prazer dessa experiência que leva a praticar tais actos.
E é nessas circunstâncias que encontro mais facilidade em expor o motivo do prazer de assistir ao incêndio provocado. E mesmo que me custe chegar a tal extremo, sou levado a transpor o acto do incendiário ao de certa e excessiva juventude que encontra desmedido prazer em, através dos “sprays” de tintas de diversas cores, cobrir as superfícies, sejam elas quais forem, dar azo ao seu espírito destrutivo. Tanto faz que sejam monumentos valiosos, de muita antiguidade, como placas indicadoras de informações preciosas aos cidadãos, de paredes, portas, traseiras de autocarros, tudo que receba essa tinta horrorosa para dar largas ao acto de selvajaria que existe no íntimo de bastantes desses jovens.
Por muito que possa escandalizar os que cheguem a ler estas linhas, eu não consigo distanciar assim tanto a horrorosa atitude dos incendiários, dos destruidores de campos, florestas, arborizações, celeiros, currais cheios de animais, as residências dos que habitam por perto, com as dos que, nas cidades, sujam tudo, destroem coisas bonitas que os homens fazem para outros se deleitarem a contemplar ou para sua informação, só pelo simples prazer de encher de tinta e de escrevinhar frases sem sentido, ilegíveis, afrontosas quase sempre, inestéticas. Ambas as atitudes correspondem a um gozo lúgubre, a uma contribuição para um dia de amanhã pior do que o de hoje.
Cá por mim, essa camada de cidadãos, embora ainda não seniores, que nos torna mais negro o espectáculo da vida, não faz grande diferença uma da outra. Uns destroem, com prazer, o que a Natureza nos põe à disposição, nos campos, nas montanhas, nas aldeias. Os outros, também para seu gozo pessoal, conspurcam os locais mais habitados, nas cidades, nos sítios onde o Homem já empregou a sua arte e o seu saber. Estragam o ambiente.
Causam-me fúrias os dois.




domingo, 18 de julho de 2010


Crescer sem voltar a aprender,
sem recordar o aprendido e sem se esforçar para não esquecer é perder todo o tempo de que dispuser e
sem aproveitar o essencial da vida

POETAS PERDIDOS

Poetas desconhecidos
quantos existem no mundo
com tantos génios perdidos
que nunca saem do fundo
poetizam para si
imaginam, logo esquecem
por aqui e por ali
porque aos outros não convencem
ficam sós
tais eles Jós

Normalmente são modestos
não crêem no que lhes sai
será por serem honestos
ou porque a Musa os atrai?
Se também não há destino
a dar ao que sai da alma
só o que é mais cretino
é que lá perde a calma
escrever e guardar
também é amar

Usar costas de papel
por outros antes escrito
pode até saber a mel
a quem só usa palito
mas a penúria obriga
poeta rico não há
qu’isso de fazer cantiga
não dá dinheiro por cá
rime que rime
tanto deprime

A esperança dos poetas
Que nos cantos lá produzem
é que as obras secretas
só muito tarde é que luzem
quando os autores já se foram
e alguém vasculha os cestos
que noutro mundo onde moram
ninguém liga aos contextos
depois da ida
outra vida

Mas também há os que em vida
lá conseguem dar nas vistas
alcançam boa acolhida
seguiram as certas pistas
o normal não é assim
os génios, esses coitados
se quiserem olhem p’ra mim
verão como não dão brado
sempre mudo
eu me ajudo




DESENCANTO POR ENQUANTO!...


Muitas vezes me entrego à tortura de fazer o meu acto de contrição e sempre com o desejo de me conhecer profundamente. E, normalmente, acabo por concluir que é infrutífero tal esforço O arrependimento é algo que sucede só depois. Após
se ter tido um comportamento é que pode ser feita a auto-crítica. Porque a satisfação de ter procedido bem, essa geralmente não se verifica. Agora, o reconhecer-se que não se actuou da maneira mais conveniente, o desejar fazer uma marcha-atrás para emendar o que não saiu perfeito, esse acto de contrição faz vir ao de cima a justeza dos procedimentos. Só se arrepende quem tem consciência. Ou julga tê-la.. Só não aceitam os erros aqueles que se julgam sempre com razão. Dizer alguma coisa, ainda que seja uma verdade, sem tirar e provocar alguma vantagem em expressar o que vai dentro, sem remediar qualquer situação, em vez de tomar tal atitude será preferível não deixar sair da boca a primeira sentença que surge. Também emendar a mão depois do mal feito, normalmente já pouco serve para retirar os efeitos produzidos.
Termos a pretensão de que conhecemos o outro com quem nos damos, que a sua maneira de ser não constitui segredo para nós, é um equívoco que, muitas vezes, nos sai caro. Por mais íntimo que seja o próximo, com frequência somos surpreendidos por uma reacção inesperada, por uma atitude que nos deixa embasbacados. Sem palavras, como se diz. Isso, no que diz respeito aos outros. Mais afastados ou muito chegados. E é graças a essa falta de conhecimento completo que se pode manter um relacionamento mais ou menos estável. A ignorância do íntimo do outro mortal, muito embora possamos ter a pretensão de o compreender, é essa ignorância que suporta a convivência. E vice-versa.
O Homem, desde que começou a pôr em uso a sua própria vontade, coloca, mesmo sem dar por isso, a máscara com que atravessa a existência. Nalguns é mais perceptível que noutros, nos que se enganam a eles próprios. Ninguém gosta de ser um livro aberto. Até, como auto-defesa, se traja do que não é. Quantas vezes, mesmo inconscientemente, a máscara está lá e o próprio não dá por isso.
Os simples, os raros que não se escondem por detrás de uma aparência fabricada, não são providos de auto-protecção. O camaleão defende-se porque se confunde com o ambiente que o envolve. Parecer uma coisa e ser outra, por muito que espante quando se desnuda, tem a vantagem de manter viva uma relação que, de outra maneira, era impossível sustentar.
No que diz respeito ao conhecimento de nós próprios, acontece-me o que creio que sucederá a quase todos os mortais: convencemo-nos que sabemos o que somos, que não temos segredos quanto às nossas reacções, aos nossos comportamentos perante as diversas surpresas que o dia-a-dia nos reserva. Não há maior equívoco! Nós mesmos nos ignoramos com frequência. E, de certa maneira, ainda bem. Provavelmente, se não existissem dúvidas sobre aquilo que, na realidade, somos, teríamos de ser os primeiros a não nos apreciarmos.
Os vaidosos, esses convencem-se que se conhecem plenamente. E têm-se na conta de possuir, em elevado grau, todas as qualidades humanas. Fabricam a sua felicidade. Mas, talvez um dia caiam em si e descubram que estavam enganados. Que, afinal, são iguais aos outros, os vulgares. E é um desconsolo!
Vendo bem as coisas, a ignorância do que realmente somos e do que o muito próximo é, constitui a melhor forma de ir mantendo uma convivência saudável. Tão duradoira quanto possível.

sábado, 17 de julho de 2010

Os humores, provenientes das circunstâncias que se vivem, vão alterando os comportamentos.
É também o que se passa comigo.
Vou variando e ainda bem.

ADIAR

Tem razão quem não tem pressa
e para depois se deixa
sem medo de que se esqueça
nem de ouvir qualquer queixa
confiando na cabeça

P’ra quê andar a correr
afogueado labor
esteja onde estiver
algo se faz com rigor
tudo pode dar prazer

O cansaço não é prova
de que o labor sai perfeito
e se é matéria nova
pode sair sem defeito
seja prosa ou seja trova

Esperar com paciência
dar tempo ao tempo, então
é apostar na cadência
à corrida dizer não
e mostrar a sã prudência

O adiar é bem cómodo
o depois logo se vê
é um dito popular
em que muita gente crê
sem sair do patamar

Assim sem fazer alarde
Sem gritos de ter razão
Muito menos ser cobarde
Pensar com os pés no chão
Que amanhã pode ser tarde

DESENCANTO POR ENQUANTO!...


Muitas vezes me entrego à tortura de fazer o meu acto de contrição e sempre com o desejo de me conhecer profundamente. E, normalmente, acabo por concluir que é infrutífero tal esforço O arrependimento é algo que sucede só depois. Após
se ter tido um comportamento é que pode ser feita a auto-crítica. Porque a satisfação de ter procedido bem, essa geralmente não se verifica. Agora, o reconhecer-se que não se actuou da maneira mais conveniente, o desejar fazer uma marcha-atrás para emendar o que não saiu perfeito, esse acto de contrição faz vir ao de cima a justeza dos procedimentos. Só se arrepende quem tem consciência. Ou julga tê-la.. Só não aceitam os erros aqueles que se julgam sempre com razão. Dizer alguma coisa, ainda que seja uma verdade, sem tirar e provocar alguma vantagem em expressar o que vai dentro, sem remediar qualquer situação, em vez de tomar tal atitude será preferível não deixar sair da boca a primeira sentença que surge. Também emendar a mão depois do mal feito, normalmente já pouco serve para retirar os efeitos produzidos.
Termos a pretensão de que conhecemos o outro com quem nos damos, que a sua maneira de ser não constitui segredo para nós, é um equívoco que, muitas vezes, nos sai caro. Por mais íntimo que seja o próximo, com frequência somos surpreendidos por uma reacção inesperada, por uma atitude que nos deixa embasbacados. Sem palavras, como se diz. Isso, no que diz respeito aos outros. Mais afastados ou muito chegados. E é graças a essa falta de conhecimento completo que se pode manter um relacionamento mais ou menos estável. A ignorância do íntimo do outro mortal, muito embora possamos ter a pretensão de o compreender, é essa ignorância que suporta a convivência. E vice-versa.
O Homem, desde que começou a pôr em uso a sua própria vontade, coloca, mesmo sem dar por isso, a máscara com que atravessa a existência. Nalguns é mais perceptível que noutros, nos que se enganam a eles próprios. Ninguém gosta de ser um livro aberto. Até, como auto-defesa, se traja do que não é. Quantas vezes, mesmo inconscientemente, a máscara está lá e o próprio não dá por isso.
Os simples, os raros que não se escondem por detrás de uma aparência fabricada, não são providos de auto-protecção. O camaleão defende-se porque se confunde com o ambiente que o envolve. Parecer uma coisa e ser outra, por muito que espante quando se desnuda, tem a vantagem de manter viva uma relação que, de outra maneira, era impossível sustentar.
No que diz respeito ao conhecimento de nós próprios, acontece-me o que creio que sucederá a quase todos os mortais: convencemo-nos que sabemos o que somos, que não temos segredos quanto às nossas reacções, aos nossos comportamentos perante as diversas surpresas que o dia-a-dia nos reserva. Não há maior equívoco! Nós mesmos nos ignoramos com frequência. E, de certa maneira, ainda bem. Provavelmente, se não existissem dúvidas sobre aquilo que, na realidade, somos, teríamos de ser os primeiros a não nos apreciarmos.
Os vaidosos, esses convencem-se que se conhecem plenamente. E têm-se na conta de possuir, em elevado grau, todas as qualidades humanas. Fabricam a sua felicidade. Mas, talvez um dia caiam em si e descubram que estavam enganados. Que, afinal, são iguais aos outros, os vulgares. E é um desconsolo!
Vendo bem as coisas, a ignorância do que realmente somos e do que o muito próximo é, constitui a melhor forma de ir mantendo uma convivência saudável. Tão duradoira quanto possível.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

A ILUSÃO

Ter ilusão sempre ajuda
a vencer o dia-a-dia
ir pensando na taluda
provoca muita alegria

Viver uma vida inteira
a manter tais esperanças
é colocar feiticeira
num jardim só de crianças

Mas na falta de melhor
esperançoso ajuda
pois olhando ao redor

E vendo que nada muda
já serve seja o que for
esperança nos acuda

DESENCANTO POR ENQUANTO!...



Por muito que se tenha vivido e por bastante menos que nos falte para concluir o capítulo da vida, sempre se mantém a perspectiva do amanhã. Seja para dar seguimento a uma tarefa inconcluida, seja por haver esperança de que depois é mais oportuno terminá-la. O agora, nem sempre apetece. O já, é normalmente incómodo. Fazer de seguida cansa, muito embora possa resolver logo a questão pendente. Encarar na altura um problema pode não dar ocasião a meditar com tranquilidade. Sobre ele e quanto à melhor solução.
O logo se vê é a posição que tomam os que arrastam para depois o encarar com as situações. O “espera aí que depois resolvo”, pode ser uma defesa para as arrelias. Um pé no travão das coisas incómodas, daquelas que, quanto mais tarde melhor, mesmo que não as elimine dá espaço para mudar de rumo.
Essa frase do “há tempo”, faz tranquilizar até os que sabem que o assunto em mãos tem contornos de urgência. Com base na expressão de que o tempo cura tudo, o deixa andar acaba, por vezes, por dar razão a quem receia enfrentar situações complicadas. E a verdade é que, se não é a melhor solução o que o tempo acaba por proporcionar, pelo menos dá mais espaço para acalmar os espíritos daqueles que defrontam um incómodo.
Seja como for, o jogo do empurra, o espera aí um bocadinho, o quanto mais tarde melhor, tudo isso só pode ser considerado como uma manifestação de fraqueza. É deixar para depois o que pode ser feito logo. É manter uma preocupação pendente, é até ter medo do resultado do confronto com o problema.
Estou a escrever este texto e faço-me esquecido de que tenho marcado um encontro com um editor para apreciar os trabalhos que tenho arrecadados numa gaveta. Vou pensar melhor se devo correr esse incómodo. Se estou preparado para uma desilusão. Se não estarei a deitar achas para a fogueira das desilusões, se não poderei atacar a árvore das esperanças que constituem o veio da força para a manutenção das minhas produções.
Não digo nada. Quando arrumar os papéis que tenho sobre a mesa e sair do café logo vejo se os meus passos se encaminham para esse “juiz” da obra dos outros. Ainda não sei se não será mais um “logo veremos”.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

A AREIA

A areia que escorre entre os dedos
lembra a vida que foge e não se agarra
é isso bem visível nos meus medos
desses que me perseguem com amarra

Vejo-a cair no fundo do poço
esse poço que é o fim da vida
é tão rápida a queda que não ouço
nem sinto a dor que provoca a partida

Areia fina que já fostes pedra
milhões de anos por ti passaram
apesar disso és algo que medra
voltarás a ser como te encontraram

As avestruzes no teu seio escondem
as cabeças medrosas, indecisas
e perguntam aos grãos que não respondem
pois aí não há soluções precisas

Mas a vida é tal como a areia
ensopada é igual à argamassa
seca, quando o vento a leva à boleia
rodopiando enquanto o tempo passa

Um dia, porém, leva-a o mar
não fica essa areia onde estava
mas outros bagos irão ocupar
tal espaço onde antes morava

A vida é assim: ondas de areia
ora compacta ou de grãos à solta
nada seguro nesta grande aldeia
que é o mundo sempre em revolta







DESENCANTO POR ENQUANTO...


Com frequência arrima-se-me ao pensamento a pergunta para a qual ainda não encontrei resposta: francamente, será que eu gostaria de ter a característica dos fingidores? E, neste particular, sobretudo o de ser capaz de transmitir a ideia de que aquilo que acabou de me ser dito e que não dá sinais de ter o mínimo interesse para sustentar uma conversa, essa palavra ou frase não foi ouvida por mim, dando eu os ares de ser surdo. Serei eu, portanto, capaz de fazer o papel de mouco, quando isso me convém?
Eu, por mim, já dei com pessoas que utilizaram esse truque comigo. Sobretudo quando, fazendo uso da minha condição de ser mais velho e de evidenciar mais saber que o meu interlocutor, pretendendo fazer uma correcção no discurso que estava a ser proferido pelo outro, avancei com uma sentença e deparei, depois disso, com o tal ar de quem não tinha entendido uma palavra que fosse possível extrair da minha fala.
Agora, da minha parte, nunca recorri a essa fuga para não ter de alimentar um diálogo que não merecia o menor segundo de atenção. Sempre caí na tentação de dar réplica, de alimentar a asneirada, de deitar achas para a fogueira do disparate. Replicar, tentar convencer o parceiro de que aquilo que ele acabou de dizer não tem ponta por onde se lhe pegue, esse é o meu hábito. Talvez possa considerar de mau hábito…
Só porque eu tenho mantido a convicção de que o mais natural, o mais lógico e até mesmo o mais humano é fazer frente ao que acaba de ser proferido e tentar ser didáctico, corrigindo, argumentando com lógica, mas não deixando que persista o erro que grassa no outro. Porém, na maioria dos casos, este sinal de boa vontade, este interesse em ajudar não é bem acolhido pela outra parte, criando-se até uma situação de mal-estar e de indignação por parte de quem é corrigido. E o mais sensato nestes casos é deixar passar e não intervir com propósitos de corrector.
No meu caso, porém, tenho grande dificuldade em fazer de fingidor. A minha cara não condiz com o gesto. Pôr o ar de quem é surdo, tendo ouvido perfeitamente o que me foi dito, não é fácil. Não tendo o espírito do enganador, será necessário muito treino e, mesmo assim, não há garantia de sucesso com essa interpretação de palco. Fazer de conta necessita de muito treino, para além da forma de ser própria que alguns cultivam. E quando me atiram com expressões como “espectacular”, por tudo e por nada, e intercalam no meio das frase aquele “digamos” que não vem nada a propósito, nessas ocasiões não há fingimento que resista.
Bem me apetece, por vezes, fazer o tal papel do surdo, de deixar correr o discurso do outro sem a menor intervenção da minha parte, de pôr até um sorriso simpático de quem está a apreciar muito a conversa. Mas sinto que não sou convincente. Fico até com a impressão de que deixo um rasto de falsidade que saberá ainda pior do que a franqueza que pusesse nas minhas observações.
Mas a vida é assim. Ingrata. Fomentadora de enganos e deslealdades. Há, pois, que suportá-la tal como ela se nos apresenta. Se não nos adaptamos às suas circunstâncias e procuramos fazer intervenções correctivas à nossa maneira, o menos que nos pode acontecer é ficarmos isolados do mundo, sendo tidos como seres insociáveis.
Ao fingimento, então!...

quarta-feira, 14 de julho de 2010

DESEMPREGO

Cada um faz o que pode
o que sabe, o que o deixam
aquilo p’ra que lhe pagam
à espera que se acomode
já que os outros não se queixam
e também não o afagam

Se outra coisa fizesse
se aquilo que faz agora
não fosse do seu agrado
e algo mais merecesse
podia-se ir embora
partindo p’ra outro lado?

Emprego há com fartura
como dantes sucedia
e se podia escolher?
A vida hoje é bem dura
piora dia p’ra dia
o melhor é não mexer

Agora eu faço isto
sem patrão que me ordene
mas também sem ter quem pague
por agora não desisto
sem haver acto solene
oxalá ninguém me esmague

Nesta altura o que é melhor
a quem tem emprego mau
é fazer por conservar
pois será muito pior
escorregar do degrau
ficando a olhar p’ro ar


HAVERÁ TEMPO!...


NESTA ALTURA em que o que anda a interessar os portugueses são os dias de praia, as férias, o não ocupar a cabeça com os problemas que, ainda que sejam cada vez maiores, todos fazem os possíveis para assobiar para o lado e, como toda a gente deve a alguém e alguma coisa, já não constitui preocupação excessiva que também esse assunto nos toque, a impressão que tenho é que cada vez menos pessoas se interessam em ler desgraças e muito menos em blogues que não constituem uma obrigação de serem analisados. Ando há uns dias a avisar que vou dar por finda ~ ou, no mínimo, vou dar uma folga – a este chorrilho de choradeiras. Mas hoje, não me fico pela ignorância dos acontecimentos. Não consigo deixar de me indignar. Por isso, cá vai e em resumo resumido:
- O Governo comprou 922 automóveis novos, tendo abatido 1,772 veículos que não considerou já suficientemente válidos para servir os múltiplos funcionários públicos das diferentes categorias por a maioria deles terem mais de sete anos de uso (imagine-se, o meu tem oito e a maioria dos portugueses desloca-se em carros com 20 e mais anos!), o que correspondeu, neste época de grande crise, a um dispêndio de bastantes milhões de euros. Segundo números prestados pela Parque de Veículos do Estado, em 31 de Dezembro passado o número total de automóveis que ali constavam era de 28.793, o que correspondia a um aumento de 1.222 em relação ao ano anterior.
Quando o Governo decidiu substituir cada três funcionários públicos por um que fosse admitido, o natural seria que procedesse da mesma forma em relação aos veículos de quatro rodas. Mas isso seria pedir demasiado aos senhores que, mesmo dando mostras de querer participar muito em corridas de competição, até quando se deslocam ao estrangeiro, numa atitude, no mínimo, ridícula, no capítulo do andar de rabinho tremido, nisso é que não abdicam das comodidades e, obviamente, tendo de ser em fofuras de último modelo.
- Outro tema fresquinho é o de terem sido tornadas públicas as faltas dos deputados ao Parlamento que, nalguns casos, mereciam mesmo a expulsão do cargo que mal exercem. Mais de 20 sessões plenárias há algumas, e os maus exemplos vêm de cima. Paulo Portas, um deles, já não compareceu dez vezes, mas nomes como José Luís Arnaut e outros constam da lista de esquecidos de que a funções de deputado constitui uma responsabilidade que não permite desculpas.
- Também de passagem, porque estas coisas que se referem a actos nada apetecíveis que ocorrem à sombra da Igreja Católica, nos tempos que passam hoje e em que o ser humano se mostra cada vez menos recomendável, não constituem os exemplos que muitos esperam colher de uma zona que tanto recomenda, no mínimo bondade, para não falar em santidade., aqui deixo o que não nos ajuda a suportar pacientemente o comportamento do ser humano. Um dos factos anunciados é o do mau tratamento que está a ser dado aos cães nas traseiras do Santuário de Fátima, onde apareceram esses pobres animais em estado deplorável, por causa, disse-se, de alguém que pertence àquela Igreja e que não dá mostras de amor aos bichos. E, a outra notícia que também não constitui um exemplo, é sobre o Vaticano estar a funcionar como ”offshore”, isto é de ponto de depósito de fortunas que fogem aos impostos do fisco. Com a designação de Vaticano, S.A., em que figuras de proa daquela Instituição religiosa efectuam operações financeiras tidas como arrojadas, incluindo lavagem de dinheiros e outras acções pouco recomendáveis para quem não deve “sujar” as mãos em bens monetários.
- Quando as afirmações que se ouvem de responsáveis, incluindo o Presidente da República, são de que é preciso aumentar as exportações, como se tivéssemos os armazéns repletos de produção nacional e o que faltasse era encontrar compradores estrangeiros, perante discursos completamente vazios de conteúdo e que não têm a menor utilidade, posto que o que se torna forçoso é começar pelo princípio, isto é, criarmos condições, facilitismos, ausências de burocracia, aberturas a iniciativas industriais vinda de fora, ofertas de espaço no nosso País para que capitais estranhos aqui cheguem para montar as suas fábricas e usar a nossa mão de obra, ao escutarmos gente que devia ter consciência do que diz e não usar apenas o palavreado para mostrar que são capazes, não podemos fazer outra coisa que não seja restarmos perplexos. E revoltados por que a nós não nos cabe tomar as iniciativas úteis que são fundamentais para poder fazer Portugal encontrar uma saída.
- Por último, dado que o País está numa situação económica insustentável – coisa que eu ando a escrever há imenso tempo -, afirmação que se ouve agora a todo o momento e que os comentadores de televisão e de jornais já não escondem, numa descoberta que só neste momento fazem, entendo que a minha vez de alertar o País se encontra ultrapassada. Repito o que sempre digo: ter razão antes de tempo tem pouca utilidade, sobretudo se não se dispõe do poder bastante para interferir na solução. Aproxima-se a hora de pagar as contas. Os que fizeram os gastos desnecessários não se dispõem a andar a pé ou de eléctrico e por isso compraram mais automóveis. E quando as coisas piorarem ainda mais, saem de cena e encafuam-se em lugares que os mantêm ainda com boa vida. Os de baixo, as multidões, os que se arrastam e já andam a remexer nos caixotes, que são uns agora mas serão mais dentro em breve, esses aguentam como podem. Até ver.
Não vou mais longe, por agora.
E, a partir de amanhã, vou ensaiar incluir neste meu blogue diário, trechos da minha obra intitulada “DESENCANTO POR ENQUANTO”, não só para dar uma ideia do que está por editar, ma também para desanuviar um pouco este espaço.Oxalá seja boa ideia

terça-feira, 13 de julho de 2010

SE EU NÃO ESCREVESSE O QUE FAZIA?


Se eu não escrevesse o que faria?
Se não pudesse passar ao papel
o que arde dentro e faz azia
seria de mim próprio infiel
estoirava
acabava
guardar só p’ra mim sem desabafar
recalcar no fundo as amarguras
já porque quem não gosta de falar
nas letras se vinga e nas pinturas

Quem escreve debita desalentos
em texto simples ou mesmo poemas
é uma forma d’abrir sentimentos
e igualmente de quebrar algemas
libertar-se
superar-se
no dia em que deixar de escrever
quando vier a sentir-me incapaz
é então a hora de perceber
que o que resta nada me traz
melhor é partir
deixar de existir
e quem cá ficar que faça as contas
que julgue os que primeiro partiram
e se conseguir que agarre as pontas
dos que quiseram mas não conseguiram

São assim os alcatruzes da vida
sobem p’ra encher descem e despejam
mesmo aqueles que passam de corrida
sem tempo que chegue p’ra o qu’almejam
mas génio mostram
mais tarde gostam
depois de cá não estarem p’ra ver
e de não lhes chegar a admiração
não tendo já por isso o prazer
de merecer especial menção

Enquanto por cá eu puder pensar
e possa escolher o que mais gosto
ao menos que não tenha de guardar
p’ra mim e tenha de esconder o rosto
envergonhado
culpado
por isso o qu’escrevo, o que pinto
melhor ou pior é para mostrar
porque o que deixo é bem o que sinto
outros que guardem ou queiram queimar

COMPARAÇÃO


NÃO SEI se esta minha dúvida tem assim tanta razão de ser. Depende, claro, do ponto de vista de que se parte. Será que se pode comparar um país doente com um ser humano com falta de saúde? Uma pessoa, em fase de se encontrar com demonstrações de fraqueza de várias espécies, de incómodos físicos, de dores até nalguma parte do corpo, por ter deixado prolongar essa enfermidade sem recorrer aos cuidados médicos, tal homem ou mulher pode equivaler-se a uma nação que, também por ter adiado a observação por técnicos para poder, a tempo, evitar o irreparável, atinge uma fase em que já pouco ou nada há a fazer para a sua salvação?
Tenho pensado seriamente neste dilema. Será, julgo eu, por, o Portugal em que nasci e habito se encontrar, nesta precisa altura, em confronto com uma luta de sobrevivência deveras inquietante, pois que os seus recursos são tão diminutos, as possibilidades de cura tão escassas, a competência daqueles que têm a seu cargo o prestar a assistência necessária tão débil, as reservas de alguma ajuda de retiradas do fundo do colchão tão insignificantes, que não se encontra força bastante para animar a população e, puxando por toda a esperança que ainda lhe reste, não consegue proteger-se no guarda-chuva que lhe estendem os optimistas de serviço.
Igualmente, devido a que a minha saúde pessoal também resolveu abanar-me, tendo-me agora avisado de que o meu desinteresse em recorrer à observação clínica a tempo, me faz pagar neste momento, com sofrimento duplo, o desinteresse que demonstrei em ser observado por quem tinha competência para o fazer, o panorama que se me apresenta é propício a que estabeleça a comparação que indico logo no início deste texto.
Como resultado desta situação, o que me salta como recurso é que, por minha parte, deixe de ser tão categórico nas observações que faço, neste meu blogue, no que se refere à situação, cada vez mais degradante, do nosso País. Não foi a tempo que os governantes auscultaram a Nação e fizeram o respectivo prognóstico para, em face dos resultados, diagnosticarem a doença que estava a invadir o corpo nacional. Por meu lado, não me sinto com competência suficiente para criticar os outros que não vêm, na devida altura, o estado da sua saúde. Se eu próprio actuei da mesma maneira, em relação ao meu corpo, o que devo fazer é resumir-me à minha insignificância e não levar tão a peito o desapego dos governantes que não tomaram as devidas cautelas quando ainda poderia existir alguma saída para a crise que avançava e que nós bem a víamos. No entanto, uma grande diferença existe: é que, cada um de nós tem autoridade suficiente para tomar a decisão que entender, sem ter de dar satisfações a ninguém; mas, no que diz respeito a uma Nação, como as más atitudes podem prejudicar toda uma população, há que actuar com consciência de que é os outros que se está a prejudicar quando não se toma o melhor caminho.
No que a mim diz respeito, o que tenho a fazer, portanto, é não persistir muito mais tempo com a linha que tenho seguido, e procurar não manter a mesma atitude a partir de agora. E, tal como está a acontecer com o nosso Portugal, resigno-me a aguardar o andamento das coisas. O que for logo se verá. E, quem sabe, às vezes produzem-se milagres!...