domingo, 18 de julho de 2010

DESENCANTO POR ENQUANTO!...


Muitas vezes me entrego à tortura de fazer o meu acto de contrição e sempre com o desejo de me conhecer profundamente. E, normalmente, acabo por concluir que é infrutífero tal esforço O arrependimento é algo que sucede só depois. Após
se ter tido um comportamento é que pode ser feita a auto-crítica. Porque a satisfação de ter procedido bem, essa geralmente não se verifica. Agora, o reconhecer-se que não se actuou da maneira mais conveniente, o desejar fazer uma marcha-atrás para emendar o que não saiu perfeito, esse acto de contrição faz vir ao de cima a justeza dos procedimentos. Só se arrepende quem tem consciência. Ou julga tê-la.. Só não aceitam os erros aqueles que se julgam sempre com razão. Dizer alguma coisa, ainda que seja uma verdade, sem tirar e provocar alguma vantagem em expressar o que vai dentro, sem remediar qualquer situação, em vez de tomar tal atitude será preferível não deixar sair da boca a primeira sentença que surge. Também emendar a mão depois do mal feito, normalmente já pouco serve para retirar os efeitos produzidos.
Termos a pretensão de que conhecemos o outro com quem nos damos, que a sua maneira de ser não constitui segredo para nós, é um equívoco que, muitas vezes, nos sai caro. Por mais íntimo que seja o próximo, com frequência somos surpreendidos por uma reacção inesperada, por uma atitude que nos deixa embasbacados. Sem palavras, como se diz. Isso, no que diz respeito aos outros. Mais afastados ou muito chegados. E é graças a essa falta de conhecimento completo que se pode manter um relacionamento mais ou menos estável. A ignorância do íntimo do outro mortal, muito embora possamos ter a pretensão de o compreender, é essa ignorância que suporta a convivência. E vice-versa.
O Homem, desde que começou a pôr em uso a sua própria vontade, coloca, mesmo sem dar por isso, a máscara com que atravessa a existência. Nalguns é mais perceptível que noutros, nos que se enganam a eles próprios. Ninguém gosta de ser um livro aberto. Até, como auto-defesa, se traja do que não é. Quantas vezes, mesmo inconscientemente, a máscara está lá e o próprio não dá por isso.
Os simples, os raros que não se escondem por detrás de uma aparência fabricada, não são providos de auto-protecção. O camaleão defende-se porque se confunde com o ambiente que o envolve. Parecer uma coisa e ser outra, por muito que espante quando se desnuda, tem a vantagem de manter viva uma relação que, de outra maneira, era impossível sustentar.
No que diz respeito ao conhecimento de nós próprios, acontece-me o que creio que sucederá a quase todos os mortais: convencemo-nos que sabemos o que somos, que não temos segredos quanto às nossas reacções, aos nossos comportamentos perante as diversas surpresas que o dia-a-dia nos reserva. Não há maior equívoco! Nós mesmos nos ignoramos com frequência. E, de certa maneira, ainda bem. Provavelmente, se não existissem dúvidas sobre aquilo que, na realidade, somos, teríamos de ser os primeiros a não nos apreciarmos.
Os vaidosos, esses convencem-se que se conhecem plenamente. E têm-se na conta de possuir, em elevado grau, todas as qualidades humanas. Fabricam a sua felicidade. Mas, talvez um dia caiam em si e descubram que estavam enganados. Que, afinal, são iguais aos outros, os vulgares. E é um desconsolo!
Vendo bem as coisas, a ignorância do que realmente somos e do que o muito próximo é, constitui a melhor forma de ir mantendo uma convivência saudável. Tão duradoira quanto possível.

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