Papel em branco que para mim olhas
por vezes pouco tempo outras horas
à espera que se encham muitas folhas
e impaciente com as demoras
Custa muito ter o papel cheio
de linhas mesmo riscadas por cima
o pior é quando se fica a meio
por falta de génio não sai a rima
Sem rimas também se faz poesia
como sem métrica pode ser boa
basta fazer voar a fantasia
pensar que houve um dia um Pessoa
Não pode é ficar o papel em branco
coisa que p’ra quem escreve é vulgar
mas neste assunto há que ser franco
escrever, nem que ao lixo vá parar
sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008
FAZER DE CONTA
Nem sempre o que é possível se consegue
fará falta algo, mesmo a fé
é preciso que o que se persegue
deixe de estar longe e fique ao pé
Muitas vezes tem que se dar o passo
ainda que não seja nosso agrado
há que manter fortes nervos de aço
e esquecer o que está ao lado
Por muito que se trate de uma afronta
aquilo que é preciso p’ra vencer
nada poderá ser de grande monta
Pois por mais longe que esteja pronta
o que queremos ver alvorecer
o importante é não fazer de conta
fará falta algo, mesmo a fé
é preciso que o que se persegue
deixe de estar longe e fique ao pé
Muitas vezes tem que se dar o passo
ainda que não seja nosso agrado
há que manter fortes nervos de aço
e esquecer o que está ao lado
Por muito que se trate de uma afronta
aquilo que é preciso p’ra vencer
nada poderá ser de grande monta
Pois por mais longe que esteja pronta
o que queremos ver alvorecer
o importante é não fazer de conta
A LIÇÃO
Pode-se perder tudo nesta vida
O amor, a saúde, a amizade,
O dinheiro, o trabalho, a guarida,
O norte e até a liberdade
Pode ficar bastante p’lo caminho
Não se conseguir levar nada avante
Perder até sossego do vizinho
Ficar parado, não ir adiante
Tudo isso nos pode acontecer
Nunca ganhar e somente perder
Como se passa com que tem má mão
Mas se assim for pode tirar proveito
E lembrar-se sempre de um conceito
Se perder tudo, não perca a lição
O amor, a saúde, a amizade,
O dinheiro, o trabalho, a guarida,
O norte e até a liberdade
Pode ficar bastante p’lo caminho
Não se conseguir levar nada avante
Perder até sossego do vizinho
Ficar parado, não ir adiante
Tudo isso nos pode acontecer
Nunca ganhar e somente perder
Como se passa com que tem má mão
Mas se assim for pode tirar proveito
E lembrar-se sempre de um conceito
Se perder tudo, não perca a lição
A GARGALHADA
Uma gargalhada forte
Dada a tempo e com medida
Haverá quem não suporte
Quem a ache descabida
Mas se ela sair de dentro
Do fundo do coração
Pode cair bem no centro
De toda a nossa atenção
Afinal o rir com gosto
Sem ser com falsa ironia
Afasta qualquer desgosto
Dá prazer, põe bem disposto
Quem tem falta de alegria
E nem sequer paga imposto
Dada a tempo e com medida
Haverá quem não suporte
Quem a ache descabida
Mas se ela sair de dentro
Do fundo do coração
Pode cair bem no centro
De toda a nossa atenção
Afinal o rir com gosto
Sem ser com falsa ironia
Afasta qualquer desgosto
Dá prazer, põe bem disposto
Quem tem falta de alegria
E nem sequer paga imposto
PEGA DE CERNELHA

Tem razão quem não tem pressa
e para depois se deixa
sem medo de que se esqueça
nem de ouvir qualquer queixa
confiando na cabeça
P’ra quê andar a correr
afogueado labor
esteja onde estiver
algo se faz com rigor
tudo pode dar prazer
O cansaço não é prova
de que o labor sai perfeito
e se é matéria nova
pode sair sem defeito
seja prosa ou seja trova
Esperar com paciência
dar tempo ao tempo, então
é apostar na cadência
à corrida dizer não
e mostrar a sã prudência
O adiar é bem cómodo
o depois logo se vê
é um dito popular
em que muita gente crê
sem sair do patamar
Assim sem fazer alarde
Sem gritos de ter razão
Muito menos ser cobarde
Pensar com os pés no chão
Que amanhã pode ser tarde
e para depois se deixa
sem medo de que se esqueça
nem de ouvir qualquer queixa
confiando na cabeça
P’ra quê andar a correr
afogueado labor
esteja onde estiver
algo se faz com rigor
tudo pode dar prazer
O cansaço não é prova
de que o labor sai perfeito
e se é matéria nova
pode sair sem defeito
seja prosa ou seja trova
Esperar com paciência
dar tempo ao tempo, então
é apostar na cadência
à corrida dizer não
e mostrar a sã prudência
O adiar é bem cómodo
o depois logo se vê
é um dito popular
em que muita gente crê
sem sair do patamar
Assim sem fazer alarde
Sem gritos de ter razão
Muito menos ser cobarde
Pensar com os pés no chão
Que amanhã pode ser tarde
*
Uma pega de cernelha