É EVIDENTE que nem vale a pena perdermos tempo a admirarmo-nos pelo facto de os governantes que temos, neste caso a equipa do ministro Teixeira dos Santos, ter mostrado tanta relutância e dificuldade em efectuar o corte radical nas despesas, quando, afinal, o mais fácil e aquilo em que temos obrigação nós, portugueses, de ser mais experientes, pois nas nossas casas e sobretudo os que vieram de outros tempos, da época em que se tinha de viver de envelopes com o dinheiro que se podia dispor por mês em cada departamento dos gastos das famílias, o que parte de nós, lusitanos, tivemos alguma experiência é o de sermos obrigados a limitarmo-nos às possibilidades estritas que existiram, mas, repito, esse exercício que deveria ter sido aprendido por essa camada de inconscientes que tem andado a julgar que somos ricos é o que fez com que chegássemos a este ponto em que estamos, que é o de não conseguirmos eliminar gastos em coisas inúteis. Mas a verdade também é que, no período de vida actual, as juventudes gozam de privilégios que, trinta ou quarenta anos atrás, eram impensáveis. Passaram a dispor de carro próprio muito cedo, de não serem obrigados a ir a pé ou de transporte público para as escolas, de saírem à noite e de gastarem dinheiros que não foram obrigados a ganhar com trabalho, de tudo ser fácil o que os faz emitir opiniões convictas e de fazerem a vida baseada apenas na actualidade, nas “internets”, não querendo saber como foi a história dos antigos, pois o para trás já morreu… E é uma pena que assim seja.
Eu bem me lembro que, quando rapaz, acabada que era a Grande Guerra e ainda com o hábito das senhas de racionamento que limitavam as compras, a minha Mãe dividia, no início de cada mês, o dinheiro disponível para o período que se seguia e colocava-o em sobrescritos, com a respectiva indicação por fora as verbas destinadas a esse fim. E era escrupulosamente a cada montante que tinha de chegar para fazer face às necessidades estabelecidas, nunca podendo ser ultrapassadas.
Ora, na situação em que nos encontramos – e esse esquema até deveria ter sido seguido desde há já alguns dois ou três anos, senão mais -, onde reside a dificuldade em as tais cabeças pensantes, grandes sumidades e todos “doutores” e “engenheiros” com formações académicas de primeira linha, gente que, conforme é costume afirmar-se, são todos de “provas dadas”, qual o motivo por que não são capazes de efectuar um exercício tão fácil?
Neste blogue tenho dado já várias sugestões para que as economias públicas sejam efectuadas, pelo que não vou aqui repetir a lista que, no mínimo, poderia ter sido juntada a outras ideias que surgem constantemente na opinião pública. Mas o ministro das Finanças, bem sustentado pelo primeiro, entende que não deve prestar grande importância ao que se “diz por aí”, pois são eles os que sabem e não recebem lições de ninguém…
O que foi divulgado e não há assim tanto tempo de serem reduzidas as freguesias de Lisboa (e talvez também noutras cidades), pois que existem áreas onde o lado direito de uma rua pertence a uma direcção e o outro lado faz parte de outra freguesia (vide, por exemplo, a rua Ferreira Borges, em Campo de Ourique), essa medida faria baixar os custos, ainda que, em períodos normais, seja aconselhável a maior divisão possível para permitir um contacto mais directo com os munícipes, tal disposição será um dos recursos que se poderia deitar a mão.
Mas eu registo este apontamento apenas e só como exemplo, pois que existem muitíssimas outras rubricas onde a mão dos governantes, os que forem competentes, pode e deve mexer, com o objectivo que tem de ser o mais importante para tentar, em última e derradeira causa, não ir por outra acção e que é a de aumentar os encargos aos cidadãos.
Continuo nesta senda de não estar apenas a criticar, mas no propósito de participar, com alguma coisa, por pequena e insignificante que seja, no sentido de se criarem reservas para fazer face aos elevados juros que carregam as nossas costas e que os nossos vindouros terão de suportar com língua de palmo.
Vem este texto a propósito do comunicado feito agora pelo ministro das Finanças no Parlamento, em que deu conhecimento de que aquele montante de 550 milhões de euros que era forçoso reduzir nas despesas, para dar seguimento ao quer ficou acordado entre o Governo e o PSD, para efeitos da passagem do O.E., situação esta que parece ter dado tanta dor de cabeça a Teixeira dos Santos, o referido passo sempre foi dado, dando a impressão que se tratou de um esforço sobre-humano. Curioso, no entanto, foi verificar que um dos cortes se situa na área dos combustíveis, mas não se descortina a redução, que parece ser a mais natural, do número de viaturas, especialmente as de luxo, que abundam na área dos beneficiados do sector público. Coisas que só acontecem nesta nossa Terra!
A repetitiva afirmação, por parte dos elementos do Governo, de que a nossa situação não pode ser comparada à da Irlanda, por muito consolo que provoque a alguns que se contentam com pouco, tem de ser confirmada, lá para o primeiro trimestre do próximo ano, não só por nós próprios como da parte dos credores que não deixam de estar atentos ao comportamento que formos capazes de evidenciar, pois que as dívidas do Estado ao estrangeiro e os juros sempre a aumentar não vou tornar a nossa vida fácil.
Se as greves, como a que está anunciada para amanhã, voltarem a repetir-se, por muito justificável que seja e não deixe dúvidas quanto à opinião dos portugueses em relação à culpa do Governo Sócrates em ter permitido que a situação nacional chegasse a este ponto, não é com paralisações do trabalho que conseguiremos dar a ideia de que nos estamos a recuperar. E, nesse caso, teremos de sofrer as consequências das faltas de comedimento.
Mas continuemos a observar o que fazem os “inteligentes”. E cá estaremos para dar a opinião, como é o nosso direito.