sexta-feira, 18 de junho de 2010

MEMÓRIA

Tanta falta que ela faz
quando a ela recorremos
e se ela se compraz
não mostra o que queremos

É assim a tal memória
faz-nos sofrer com desgraças
recordar-nos cada história
que nem vê-la com mordaças

Certos nomes, certas caras
que precisamos lembrar
são situações bem claras
que a memória faz passar

Coisas passadas há anos
que os tempos já tinham posto
no fundo dos oceanos
não nos causam o desgosto

Mas ocorrências de há pouco
essas de que ‘inda paira o cheiro
deixam-nos como um bacoco
ardeu tudo num fumeiro

Pois a memória é assim
muitas vezes nos ajuda
compensa a dizer que sim
quando não teima em ser muda

Queixamo-nos muitas vezes
da falta que ela nos faz
então a nós portugueses
muita arrelia nos traz

Memórias da ditadura
é coisa que ninguém quer
é matéria muito dura
não é algo de prazer

Mas recordar coisas belas
bons momentos já passados
é como acender as velas
em honra de seres amados

Temo-nos que conformar
com as lembranças melhores
que já não querem voltar
a fazer seus favores

Memórias más nem pensar
mas são essas as que chegam
só dão para enfadar
e nos aconchegam

Se no botão eu pudesse
escolher o que me apraz
talvez nunca eu fizesse
olhar sempre para trás

Memória que até dá jeito
para lembrar os favores
que me trouxeram proveito
no que conta a desamores
então já não acho graça
mais vale não ter memória
que isso de mulheraça
é tema p’ra outra história

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