quinta-feira, 3 de julho de 2008

IBERISMO - SEM MOTIVO PARA MEDOS




Isso de ser português é tema que põe muita gente preocupada. Quero dizer, só o admitir que poderá haver um dia em que a nacionalidade portuguesa passe a ser uma recordação, um saudosismo, um choro pela lembrança dos feitos históricos que, sem sombra de dúvida, constituem uma riqueza que muitos outros países, hoje tão prósperos, não se podem gabar de contar no seu activo, repito, basta passar-nos pela cabeça que as circunstâncias actuais de Portugal não oferecem sólidas garantias de que o caminho que temos por percorrer mantém uma continuidade daquilo que fomos como povo, chega tal pensamento para, pelo menos os mais conscientes, reflectirem, já não digo quanto à sua própria existência, mas, de alguma forma, no que se refere ao porvir, ao amanhã dos seus descendentes. Nem é preciso aprofundarmos excessivamente esse quadro que já esteve mais longe de constituir uma miragem, para sermos forçados a suportar uma mágoa que tem de atingir todos os que nascemos neste rectângulo onde viveram povos de diferentes origens até que, no século XXII, passou a considerar-se uma Nação, com nome, com língua própria que se foi formando e com uma característica e com costumes que se foram estabilizando, uns bom e outros nem por isso.
Este preâmbulo, que não promete ser de um texto que nos entusiasme excessivamente, sobretudo aos que desejam, a todo o custo, manter incólume a nacionalidade com que nasceram, foi, tenho que o dizer, pensado penosamente, escrito e reescrito, substituídas expressões e arredadas outras que poderiam não ser as mais próprias. Esta afirmação não tenho o menor pejo em a fazer.
Eu também sou português dos quatro costados e isso de medir patriotismos é um exercício que nunca me entusiasmou e cujos resultados nunca me convenceram. Alguém ser mais patriota do que outro é coisa que me provoca certas dúvidas. Se existisse o aparelho de medição dessa característica do tamanho que cada um sente dentro de si, então, pelo menos, poderíamos catalogar todos os portugueses que por cá andamos e, até para entregar pelouros de responsabilidade política, esse medidor do patriotismo seria de grande utilidade, posto que não teremos muitas dúvidas de que muita dessa gente que toma assento nos cómodos sofás do poder, esses, quanto a verdadeiro amor à Pátria é coisa que, por mais que disfarcem, que discursem, que batam com a mão no peito, que se esganicem perante as câmaras de televisão, não chega para convencer os seus compatriotas.
Mas as características que cada um dos portugueses reconhece em si próprio, o amor pátrio que circula dentro de nós não é impedimento para que, para salvaguardar as nossas próprias conveniências e dos nossos próximos, não sejamos forçados a optar por soluções que, por muito que façam sofrer, são levadas a cabo. Foi, durante muitos anos, o caso da emigração para locais muitas vezes desconhecidos e aí procurarmos encontrar o bem--estar que a Casa que é nossa não oferecia. Passou-se isso durante o período longo da Ditadura, de forma semi-aberta mas, sobretudo, através do perigoso “salto”, mas volta agora a verificar-se, aproveitando a abertura política que se vive nos nossos dias. E até para a vizinha Espanha se está a verificar uma saída e uma escolha de nova residência, coisa que era impensável anos atrás.
E, quanto aos nossos emigrantes, sendo do feitio português instalar-se de malas e bagagens nos locais que escolhe para passar a viver, fazendo aí a sua vida e tendo nessas novas moradas os seus filhos que, normalmente, adoptam como seus os países onde estudam e acabam por casar, mesmo sentindo-se na sua vivência uma afinidade em relação ao território de origem – é indiscutível o saudosismo que mantêm, até morrer, à Pátria longínqua -, apesar disso, os hábitos e as vantagens que colhem lá longe acabam por fazer diminuir, como é natural, a afinidade em relação à Santa Terrinha. Dura, geralmente, enquanto se mantêm familiares próximos, vivos nas aldeias das suas recordações.
Mas olhemos para o Portugal de hoje. Façamo-lo sem o sentimentalismo que, bem cá no fundo, sempre existe. Metamos a mão na consciência e encaremos com realismo o que se passa na nossa Terra, sobretudo os que, não se encontrando na juventude, passado o periodo de tal aventura, tomam conhecimento do que ocorre fora de portas, pois as informações chegam sobre a hora. Comparemos, vejamos as diferenças, assistamos ao desenvolvimento que, apesar da crise mundial – que a há – faz com que nações há pouco ainda em estado de atraso, depois da adesão à Europa, agora dos 27, deem mostras claras de um pulo de qualidade de vida que nos deixa quase revoltados, por não termos nós conseguido qualquer coisa parecida.
E, até por estar aqui ao lado, contemplemos o que tem sido a evolução da Espanha. E não podemos deixar de ficar invadidos por essa coisa tão feia que é a inveja.
Pensando bem, teria sido assim tão difícil, pondo de parte orgulhos, “aljubarrotismos”, preconceitos em relação aos vizinhos – que sempre há em toda a parte -, termo-nos unidos como irmãos e ajudarmo-nos mutuamente ao ponto de não se verificar uma tão grande diferença, a nosso desfavor, como aquela que qualquer português pode constatar, bastando-lhe dar um saltinho e atravessar a fronteira, quer para a Galiza, para a Andaluzia, como no sul, ao passar a ponte do Guadiana? Terá sido de tal maneira um passo tão complicado, mesmo levando em conta que o benefício seria a nosso favor?
Quando José Saramago, há pouco tempo, levantou a hipótese de uma junção entre os dois países neste canto da Europa, o que provocou até uma certa “revolta” entre os que não têm o escritor em grande conta, a verdade é que ele não foi original. Com cerca de cinquenta anos de atraso referiu-se algo parecido, mas com diferenças bem evidentes, numa campanha em que o autor destas linhas, o português de alma e coração e amante deste povo, como me afirmo, lançou uma campanha que manteve no diário de então, de nome “Jornal do Comércio”. Aí, todas as semanas era publicada uma crónica intitulada “Campanha para uma aproximação económica luso-espanhola”, em que defendia a criação de um Mercado Económico Ibérico (ainda nem se pensava no M.E.Europeu!), com o fim de se porem de acordo as indústrias dos dois países com o objectivo de produzirem para um mercado consumista que seria composto pela população das duas nações. O resultado foi que, o então ministro da Presidência de Salazar, Correia de Oliveira, que se suicidou em Paris depois do 25 de Abril, deu ordem para que o Jornal não publicasse mais a palavra “ibérica”, mandando substitui-la por “peninsular”, tendo até este termo acabado por não poder ser usado. por ordem da Censura. Mais uma vez tive razão antes de tempo…
Quem havia de dizer nessa época que, criado que foi o Mercado Comum Europeu, chegados que fomos a esta situação, volto eu, de novo, a bater-me pela criação de uma união de dois países vizinhos, um bem mais desenvolvido do que o outro, por forma a juntarmos forças e a tentarmos ultrapassar as dificuldades que sentimos, sobretudo nós cá, nos vários campos importantes para tornar a vida mais…“vivível”?
É verdade que já nos encontrámos mais distantes dessa probabilidade do que estamos hoje. Já se fala, aqui e ali, a medo, de começarmos a dar os passos necessários para reunirmos aquilo que for unível , e que o bom senso e o sentido de independência, que é um factor importante da Democracia, não sejam causadores de brigas. E, para evitar das duas partes, mais da nossa, está bem de ver, os chamados ciúmes de namorados, não havia que acabar com a realidade de Portugal e Espanha. Não, bastava fazer aquilo que a França, a Alemanha e sobretudo a Inglaterra - essa então tudo fez para evitar a junção - nunca quiseram que surgisse: fazer nascer a IBÉRIA, espaço terreno que, dentro da Europa e, geograficamente falando, se apresentaria como o mais bem colocado, com mar por todos os lados e com uma colocação invejável sob todos os aspectos. O Benelux já existe há muito tempo e nem por isso provocou quezílias nos vizinhos.
As línguas? Mas quem poderia ter o mau senso de pretender que se terminasse com o português, o castelhano, o galego, o catalão, até o Vasco, para além de todos os dialectos que se falam e alguns se escrevem? Bandeiras? E, igualmente, os hinos. Mas não os temos todos? Regiões autónomas, presidentes de governos, parlamentos e tudo o que marca as diferenças entre regiões, tal como muitos e muitas existem, igualmente teriam e têm de continuar. A moeda, que constituiria em tempos um senão apreciável, hoje, como se sabe, é um problema ultrapassado.
Enfim. Corro este risco. Vão chover, eu sei, os comentários contra. Os ápodos de “traição à Pátria” não faltarão. Mas eu mantenho o meu amor pelo sítio onde nasci, cresci, me fiz homem, lutei por aumentar a riqueza nacional e onde, naturalmente, serei cremado. Parto sem assistir a um substancial aumento da importância de um País que tem que acrescentar à sua História de séculos, de glórias, de descobertas do mundo, de grandes escritores e poetas, até de dois Prémios Nobel, sem ver o acréscimo a tudo isso e sem poder assistir ao passo decisivo para não querer ficar entregue à insignificância do que hoje somos. Uma agulha em palheiro. Não espero que venha a ser no meu tempo que se dê tal mudança!
E, a terminar, deixo aqui a notícia que nos chegou vinda de Espanha: os espanhóis só admitem avançar para a candidatura da organização do Mundial de futebol de 2008 se for em conjunto com Portugal. Ora vejam lá como as coisas são. É preciso ter sido soprada do outro lado da fronteira uma ideia para talvez a considerarmos como boa! Exaltante até! Mas não se fica por aqui. Ainda esta semana o "Diário de Notícias" informava em plenas letras garrafais que "Empresas espanholas facturam em Portugal 9% do PIB", acrecsentando que só a rigidez da nossa lei laboral é que constitui o maior obstáculo ao aumento de tal percentagem. E é o mesmo "Diário de Notícias" que adianta que "já não existe o papão espanhol", ao ponto de, este ano de 2008, se prever um investimento por empresas espanholas no montante de dois mil milhões de euros e que este montante seria muito superado se não se mantivessem as nossas tradicionais demoras nos licenciamentos de projectos, tanto ao nível governamental como também nas áreas municipais. As conhecidas pequenezes.
Por aqui se pode ver que, do nosso lado, basta darmos o passo de abertura de entendimento para, continuando Portugal e Espanha como países que são, a figurar como sendo uma Ibéria, com um peso internacional e com uma força de intervenção, que poria em respeito os outros parceiros que olham para nós com um certo ar de indulgência.
Olhem, patriotas só de nome, tenham paciência. Resolvi colocar neste pedaço de blogue o que eu assumo desde sempre. E não tenho nada a esconder. Quem julga que o que está como está é que é o melhor, quem não tem aspirações a mostrar aos outros que não queremos ficar apenas na História, no passado, nas descobertas, nos feitos de que o mundo já se esqueceu há muito, mesmo tendo aproveitado – e como – os territórios que deixámos abertos às suas “penetrações”, quem se conforma só com isso pois que se resguarde no seu cantinho, isolado, sem tirar partido do que podemos ser e fazer. Em grande!
Ah, o que eu tinha para preencher todo o espaço que me resta para diante! Mas fico-me por aqui. Provavelmente não terei ocasião de voltar ao tema e também não estou para responder aos comentários negativos que me venham a invadir. Toda a gente tem o direito a expressar as suas opiniões. O futuro lhes dirá se têm razão…

Sem comentários: