domingo, 4 de maio de 2008

ESPELHO MEU!...




Olho para ti e não vejo nada
és um vidro baço
frio como aço
não reflectes o que quero ver
nem és para mim aquela fada
que me possa fazer crer
que eu não sou eu
mas outro, diferente,
muito melhor, excelente,
digno de um Orfeu
pintado a aguarela
em enorme tela

Oh espelho meu
que queres dizer com isso,
com essa indiferença ?
Que esperanças tenho eu
de despertar teu feitiço
e de manter certa crença ?

Mas se o que não vejo em ti
é qualquer sinal de esperança
se não me animas
se não me mimas
é porque o génio não sorri
a bem-aventurança
anda lá por longe
e não podes assegurar-me
mais que ser um monge
sem ninguém para consolar-me

Mesmo assim agradeço
que me não dês ilusões
de ter algum sucesso
de seguir mesmo de longe as pegadas de Camões
hei-de conformar-me um dia
farei tudo, ainda que sem garra,
sair da apatia
esperar que algo me varra
isso, espelho meu
imagem de má sorte
quem com tanto esforço deu
só acabará com a morte.

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