(continuação)
Não demorei quase nada a encontrar uma saída. Como eu costumava recorrer à biblioteca da Embaixada Americana para efectuar consultas, alí descobri um livro intitulado “Dictionary of Dates”, que me deu uma ideia: a de escrever uma obra que, em vários volumes, mostrasse a história do mundo por datas – a que atrás me refiro de passagem. Mas, para ser levada com a minúcia que entendia, não poderia levar a cabo tamanha tarefa sozinho.
Verdade seja que essa atitude só foi tomada depois de eu ter feito um contrato com um editor, o Gomes & Rodrigues, que tinha livraria no largo de D. Estefânia e tipografia própria bastante moderna para a época.
Firmámos, pois, o acordo editorial o qual obrigava a entregar mensalmente texto equivalente a dois fascículos da obra que se passou a chamar Dicionário Enciclopédico de Datas. Em contrapartida, como adiantamento de 20% sobre o preço de capa, a editora pagava mensalmente 6.000 escudos, o que, na altura, se poderia considerar aceitável.
Era necessário, para se poder dar cumprimento ao assumido contratualmente, isto é do texto, fotografias e paginação do equivalente a dois fascículos por mês, o que constituía um esforço enorme, arranjar um local fixo de trabalho.
Foi aí que se começou a escrever o Dicionário Enciclopédico de Datas, tendo constatado que a obra requeria a consulta exaustiva de inúmeros livros de diversas nacionalidades, que se iam obtendo nas embaixadas existentes em Portugal e, nos casos em que não havia relações, como foram as situações da Albânia, Checoslováquia e outras, recorreu-se às delegações diplomáticas em Paris ou Londres. E de tudo se faziam fichas datadas dos acontecimentos históricos por ordem cronológica.
Quando se completaram os primeiros 24 fascículos, o que correspondia ao primeiro volume encadernado, de harmonia com o contrato e visto que estava toda a edição vendida por assinaturas e existia um acordo com uma empresa brasileira que adquiria em conta firme mil volumes encadernados, o editor efectuou o primeiro pagamento dos direitos de autor, deduzidos os adiantamentos, o que me deu ocasião para comprar o primeiro automóvel, um Rover em segunda mão.
Impunha-se aproveitar ao máximo possível o escritório de que se dispunha. Havia necessidade de criar outra fonte adicional de rendimento, evidentemente dentro da área literária e jornalística. Mas havia que contornar a dificuldade chamada Censura, pois era mais do que evidente que eu não gozava da aceitação política da situação, como já foi referido. Mas, mesmo sabendo da má ficha que tinha na PIDE, tentei a minha sorte: propus a edição de uma revista mensal, com o título “PN”, que, para efeitos externos, quereria dizer publicidade e negócios, mas que, na verdade, pretendia dedicar-se ao tema política e negócios.
Até parece que os capitães da Censura adivinharam as intenções e decidiram “chumbar” o meu nome como director da publicação.
Foi nesse entretanto que, acumulando sempre com as minhas outras obrigações – e, uma vez mais, roubando ao descanso o que precisava de tempo -, pedi asilo ao Norberto Lopes, que tinha ensaiado ser o director da revista “Mundo Ilustrado”, atrás referida, para ingressar na redacção do “Diário de Lisboa”. Fui admitido e tive como chefe o jornalista Mário Neves, que veio a ser, depois do 25 de Abril, embaixador de Portugal na União Soviética.
(continua)
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