quarta-feira, 2 de abril de 2008

TEXTOS SAÍDOS AO MOMENTO (1)


Já basta de reproduções de escritas noutras alturas, por vezes com diferença de anos. Julgo que poderei agora acrescentar alguma prosa que me saia ao correr da pena, que é como quem diz, ao utilizar as teclas do computador. Não é que eu goste de produzir directamente nesta máquina que considero utilíssima, mas infernal, pelas partidas que já me pregou e que oiço dizer que sucede a muito boa gente: o desaparecer, de repente, num ápice, algumas páginas que estavam compostas com várias horas de sofrimento de quem espreme o intelecto para ver sair alguma coisa que mereça ser lido pelos outros.
Eu, que comecei a minha vida profissional nos jornais a escrever à mãos nos “linguados”, os quais serviam também de medida dos textos necessários, que o “chefe” mandava os jovens “reporters” preencherem com uma matéria – fosse ela qual fosse - que fazia falta numa página, tendo passado depois a ter a máquina de escrever à disposição para encher de prosas, as mais variadas, isto na época em que os jornalistas eram considerados especialistas de generalidades (os “mestres” de secções concretas só começaram a aparecer muito mais tarde), quando fomos, pela primeira vez, alguns profissionais portugueses visitar a novidade de uma publicação alemã, que utilizava a escrita computorizada para um edifício central distante, o qual recebia as prosas e as enviava, depois de revistas, para a composição, nessa altura, o próprio Francisco Balsemão, que fez parte do grupo, ficou tão impressionado como todos os convidados para assistir a tal novidade.
Como mudam as coisas e como hoje, os jovens jornalistas se admirariam com os sacrifícios que se faziam anos atrás para conseguir as notícias, como eram trabalhadas e como chegavam à máquina de impressão, especialmente quando o chefe da oficina gritava pelo buraco de envio dos textos pedindo uma legenda que faltava ou umas tantas linhas de escrita que tinham ficado em branco na página tal.
Não era melhor nem pior. Era, sobretudo, mais posta à prova a capacidade dos profissionais em utilizar os seus conhecimentos da língua – a portuguesa, neste caso – e a facilidade em colocar no papel o que deveria constar depois nas páginas dos seus jornais.
Deixem-me, pois, desabafar um pouco: talvez faça alguma falta aos rapazes de hoje das redacções dos jornais essa experiência de ter de escrever bem e depressa. Porque depois da edição ter saído, as críticas feitas pelo “chefe” e a chamada à pedra dos autores das prosas, isso nunca faltava.
Não me queixo. Fizeram tão bons os “ralhetes”, como as palmatoadas da professora instrução primária.

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