sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

DESASSOSSEGO

Que desassossego é este?
Será por ter de aguardar a diligência
a que nunca se sabe quando chega,
aquela que nos leva quem sabe para onde,
que nos tira deste lugar
onde todos somos diferentes
fingindo que somos iguais ?
Iguais a quê ?
Será porque muitos se julgam génios
e que, pobres deles, não medem o infinito,
esse infinito de que se continua a não saber onde acaba?

Vale a pena ter certezas ?
Dizer coisas como sendo as definitivas ?
Afirmar sempre: “então é assim” ?
Quem só tem dúvidas
e tem consciência de que se engana muitas vezes
não pode ter outra atitude
que não seja a de se andar a perguntar,
constantemente,
se, neste mundo, alguma coisa é assim tão importante
que valha a pena...

Que desassossego é este ?
Por que não me conformo ?
Se o mundo é isto que fizeram
dizem que perfeito,
que genial,
que bem pensado
e que até foi cansativo
que houve mesmo que descansar ao 7.º dia
e afinal saiu aquilo que vemos,
que foi piorando desde o tempo das cavernas
até chegarmos ao que somos hoje
aos muito ricos e aos desgraçados
às multinacionais,
aos donos de tudo,
que, cada vez mais, fazem com que tudo seja igual
com gente a empurrar-se
e a andar sucessivamente mais apertada,
porque se uns desistiram de ter filhos
outros fazem-nos com fartura
e compensam largamente.
Para quê ?
para daqui a pouco não caberem
os que cá andarem,
não comerem senão todos o mesmo,
não beberem sempre que têm sede,
terem de acabar por se matar
uns aos outros ?

É esse o desassossego.
não por nós, que cá andamos ainda
mas pelos que virão depois,
não muito depois
porque não vai tardar que acabem por se dar conta
de que os que andavam por estes sítios antes
não foram capazes de ser sinceros,
de fazer alguma coisa para que não se chegasse ao irresolúvel.
Mas, afinal, haverá motivo para o desassossego ?
Hoje ? Agora ? Já ?

Resta-nos apenas a esperança,
a tal, aquela a que se recorre sempre,
a que é tão comum aos mortais
Agarremo-nos a ela e confiemos nos homens.
Podemos fazer outra coisa ?




Sem comentários: