quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

A IDADE

Com a idade tudo é diferente
p’ros que têm consciência de tal
deixa de ter importância p’ra gente
tudo que antes era capital

Olhamos p’ras flores com outros olhos
são todas lindas em qualquer estação
singelas, soltas ou mesmo em molhos
regala a vista, adoça o coração

Os anos passam, pouco tempo resta
só vale a pena ater-se ao importante
entusiasmo não se manifesta
tudo o mais fica lá para montante

Eu digo isto, mas me envergonho
não me despego do que é menor
pois me toca no mundo enfadonho
muita coisa com bem pouco valor

Sou humano e por isso imperfeito
Faz o que digo, mas não o que faço
Mas o que é verdade e dá mais jeito
é não olhar ao que causa embaraço

A juventude é sim o futuro
pois é ela quem amanhã comanda
mas p’ra poder ultrapassar o muro
tem de aprender a dirigir a banda

E são os velhos quem passa a palavra
com a experiência de ter feito erros
e o saber que na terra se lavra
desde a nascença e até aos enterros

Quer para o bem ou p’ra todo o mal
a terceira idade é por vezes mestra
mas como o homem é um ser mortal
nem sempre dirige bem a orquestra

A grande dor é que nos tempos d’hoje
o testemunho não é bem passado
pois a juventude do saber foge
e os idosos olham para o lado

Mas mesmo assim a idade é um posto
ou pelo menos deveria ser
não vale a pena ter grande desgosto
só por se estar mais perto de morrer

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