sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

DESPEDIMENTOS


TINHA DE SER. Não podia acontecer o contrário. E eu – cá estou nesta repetição que parece doentia – que já aludi a tal tema em blogues anteriores, não posso deixar de frisar esta situação, até porque, na altura, recebi alguns comentários bem amargos, acusando-me de ser inimigo da que é chamada “classe operária”, posto que defendia a necessidade de se flexibilizarem as admissões e as dispensas de actividade na área do trabalho, como possibilidade de permitir que as empresas, especialmente as médias e pequenas, deixassem de ter receio em aumentar o número de funcionários, sobretudo quando lhes fazem falta, pois terminaria o problema de os dispensar logo que a baixa de rendimento se verificasse. Digo isto, muito embora não encontre uma certa fragilidade naquilo que veio a lume e que não corresponde ao essencial, que é o de fazer algo de importante que lute contra o monstro do desemprego que tanto nos aflige. Se isso não for conseguido, então esta medida não tem valor nenhum. Mas há que experimentar e estar atento aos resultados.
No fundo, a ideia que eu lancei não era diferente daquilo que se verifica em muitos países, até nos Estados Unidos da América, desde sempre, posto que, como é bem sabido, os nossos emigrantes, aqueles que são tão bem vistos quando passam as nossas fronteiras e procuram trabalho lá fora, esses não têm a menor garantia de que as empresas onde passam a trabalhar não os dispensarão um dia em que a circunstâncias não corram de feição económica não os favorecer. E, apesar dessa característica, a aplicação nas actividades que desempenham é bem exercida e, em todas as partes onde se encontram emigrantes portugueses, só se verifica o elogio em relação ao nosso comportamento.
Isso quer dizer muita coisa. E entre todas as características situa-se a confiança no trabalho que executam e a alta produção que lhes sai das mãos. Obviamente, também porque as entidades patronais dispõem de meios e de princípios de actuação que se adaptam perfeitamente às necessidades e tiram partido da afeição que os nossos compatriota dedicam ao trabalho e, acima de tudo, a aposição que assomem desde que deixam a Pátria e que é a de conseguir juntar bom dinheiro para poderem construir na origem a casa que sempre aspiraram ter e enviar para os progenitores a ajuda essencial para que a vida lhes corra melhor. Depois, com os filhos já ambientados no local onde passam a viver e criando raízes para o futuro, visitando as origens uma vez por ano, nas férias mas, a pouco e pouco, desvinculando-se da terra-mãe, excepto quando resolvem, regressar de vez, mas isso não são serão todos, esse exemplo prova que as condições de trabalho que foram oferecidas para lá das nossas fronteiras não podem ser consideradas como indignas ou mesmo criticáveis, antes serviram para angariar meios de melhor subsistência.
Mas este princípio não é aceite pelo sindicalismo tradicional português e tudo que não seja existirem condições de amarra entre empresas e trabalhadores, é considerado como inimigo da classe que tem se trabalhar por conta de outrem.
Pois foi o passo no sentido de diminuir essa obrigação tão feroz que foi agora dado, evidentemente por indicação vinda de fora, pois que, por moto próprio do Governo actual, essa medida não seria adoptada.
O frente-a-frente que teve lugar ontem, na RTP, entre os candidatos à Presidência da República, Manuel Alegre e Defensor Moura, não me deu mostras de que, em qualquer dos dois, se possa descansar quanto à solução que o nosso País necessita, pois as dúvidas ficaram patentes no que se refere às medidas concretas – isto se as houver -, que possam ajudar-nos a escolher o candidato, este ou os outros dois, mais aceitável.
Mas, ao mesmo tempo que a atitude governamental surgiu agora anunciada, outra situação compensa também no que respeita a decisões que os governantes tomam e que, mais tarde, se apresentam como complicações que bem nos atrapalham. O caso dos submarinos, cuja responsabilidade não foi nunca bem esclarecida, é um dessas e o futuro se apresenta com a obrigação de pagarmos o que não é essencial – digam lá o que quiserem – especialmente na situação em que nos encontramos de fragilidade financeira. Mas a outra vergonha da encomenda dos blindados para estarem presentes durante a que foi a Cimeira da Lisboa, dos quais chegou, apenas um, mas fora da data da sua eventual utilização, pelo menos os que não chegaram ainda e faziam parte da encomenda, segundo uma decisão do ministro que tem a pasta da Polícia, não serão aceites.
Vá lá, pelo menos abriram-se os olhos e não sucedeu como com os submersíveis que, ainda que tivesse corrido a notícia de que o seu pagamento aos alemães seria feito em contrapartida de compras de produtos portugueses, isso não sucedeu e não se sabe se o contrato teria sido redigido de forma suficientemente clara para que não surgisse depois desculpas de falta ao estabelecido.
E é isto, nesta altura em que, com o cheiro do Natal, os corações nacionais se derretem e desculpam tudo. Mesmo com o 2011 à porta e a sua sombra de terror a espreitar…

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